Eu ainda estava cheia de perguntas na cabeça. O que Gabriel fazia ali? O que ele tinha para me dizer? Enquanto eu terminava de fechar a sorveteria, ele me aguardava em silêncio, com aquele olhar fixo que sempre me deixava inquieta. Eu tentava não demonstrar, mas por dentro estava tremendo. Em um instante, nossos olhares se cruzaram e meu corpo inteiro estremeceu, como se eu tivesse sido eletrocutada. Mas desviei o olhar rápido, antes que ele percebesse o efeito que ainda causava em mim.
Eu arrumei tudo o mais rápido que pude, tentando evitar a tensão crescente no ar. Quando ele se ofereceu para ajudar, eu recusei de imediato. "Você só fica aí, por favor," disse eu, tentando soar indiferente, mas minha voz traiu o leve tremor. Fora da sorveteria, vi que ele estava com um carro caro – menos extravagante do que os outros que eu costumava ver na mansão dele. E, dessa vez, ele mesmo estava dirigindo. Sem motorista. Algo estava muito estranho. Esse Gabriel parecia alguém que eu não conhecia.
Minha casa não era tão longe, eu poderia ir a pé. Mas naquela noite, eu tinha deixado o carro com Nina, caso ela precisasse sair com o bebê. Gabriel olhou para mim e perguntou se eu preferia ir andando, dizendo que me acompanharia, mas eu optei por ir de carro. Não queria dar motivos para comentários caso alguém nos visse andando juntos pelas ruas. Embora eu não tivesse dito onde morava, ele dirigiu direto para minha casa. Como ele sabia? Eu me encolhi no assento, com o cheiro dele impregnando o ambiente. O perfume que ele usava parecia fazer o ar ao meu redor ficar mais pesado, mais íntimo. Era impossível não notar o efeito que ainda tinha sobre mim.
Quando chegamos em frente à minha casa, eu hesitei por um instante. Deveria convidá-lo para entrar? Nina poderia pensar mal, mas conversar no carro parecia ainda mais estranho. Além do mais, eu já estava em casa. Então, decidi convidá-lo para entrar.
Nina estava no sofá, assistindo TV. Assim que nos viu, seus olhos se cruzaram com os dele, e por um segundo, eu tive a sensação de que ela o conhecia. "Vou indo", ela disse, com um sorriso estranho no rosto. O que foi aquilo? Eu iria perguntar a ela no dia seguinte, com certeza.
"Quer algo para beber?" ofereci, mais para preencher o silêncio do que por real cortesia. Gabriel recusou com um movimento de cabeça. Nos sentamos no sofá, de frente um para o outro. Eu não sabia o que ele iria me dizer, mas o peso da situação me deixou nervosa. "Pode começar, Gabriel", falei, tentando parecer mais calma do que me sentia.
Ele hesitou por um momento. Respirou fundo antes de começar a falar. "Eu sempre soube onde você estava."
Senti meu estômago se contrair. Ele sabia? Ele sabia todo esse tempo e nunca veio atrás de mim? Eu não significava nada, então. A dor atravessou meu peito. Mas ele continuou, a voz mais suave do que eu estava acostumada a ouvir. "Eu não quis invadir o seu espaço, Sofia. Mas sempre estive de olho em você, para garantir que estava segura. E tem mais... Rafael descobriu onde você estava."
Meu coração praticamente parou de bater. Rafael. O pesadelo do passado. O medo voltou a me dominar por um momento, mas Gabriel prosseguiu, sem me dar tempo de processar.
"Mas eu já tinha provas contra ele. Quando ele veio atrás de você, a polícia o cercou. Houve troca de tiros... e ele morreu. Eu mesmo conferi o corpo no IML para ter certeza."
O choque me deixou paralisada por alguns segundos. Ele morreu?.
"Meu Deus, ele morreu," sussurrei. "Sei que é horrível dizer isso, mas... eu me sinto aliviada. É como se um peso enorme tivesse saído das minhas costas."
"Agora, você está livre de vez, Sofia. Não há mais com o que se preocupar."
Mas eu ainda tinha perguntas. "Você só veio até aqui para me dizer isso?", perguntei, com a voz um pouco trêmula. E aquela mulher? Eu não podia evitar a pergunta que estava queimando na minha garganta. "Você... se casou com ela?"
A pergunta saiu sem que eu tivesse planejado. Ele sorriu, um sorriso triste, quase melancólico. "Jamais me casaria com ela, Sofia. Ou com qualquer outra. Meu coração sempre foi seu. E do Arthur. Se você me quiser, nós vamos nos casar. E vamos morar na casa que mandei construir. Aliás, a casa que estava em construção... é nossa."
Eu fiquei sem palavras. "Nossa...?" As lágrimas encheram meus olhos. Era informação demais para processar. Por que agora? Por que depois de tudo?.
"Mas naquele dia...", minha voz quase não saía. "Você preferiu ela. Eu me declarei pra você, Gabriel. Ficamos juntos e, depois, você me disse que tinha sido um erro. Que você não era quem eu pensava. Rafael me achou lá, e eu queria te contar... mas você chegou com ela."
Gabriel abaixou a cabeça. E, pela primeira vez, eu vi algo que nunca imaginei: lágrimas. Ele está chorando?
"Eu não fiquei com ela," disse ele, a voz embargada. "Eu só levei ela lá para que você pensasse isso. Sua vida estava um caos, Sofia. Eu não queria ser mais um problema para você. Por isso te afastei."
"Mas você destruiu meu coração, Gabriel," eu respondi, sentindo as lágrimas voltarem a escorrer pelo meu rosto. "Eu te amava."
"Amava?", ele perguntou, com uma expressão desolada. "Você não me ama mais?" A dor em sua voz era evidente. "Eu entendo, Sofia. Mas eu não podia ficar com você naquele momento. Não era sobre você, era sobre mim. Sobre o meu passado."
"Que passado, Gabriel? O que você está escondendo?"
Ele balançou a cabeça, como se não pudesse falar mais nada. "Não importa mais. O que importa é que você e Arthur... vocês curaram tudo. Vocês ocuparam meu coração inteiro."
A proximidade dele me envolvia, o calor de seu corpo, a intensidade de seu olhar. "Quero recomeçar. Assim como você recomeçou. Eu largo tudo por você, Sofia. Me diz que ainda me ama, que me perdoa. Podemos ser a família que sempre merecemos."
Minhas lágrimas continuavam caindo. Era muita coisa para absorver. A dor, o amor, o alívio. Todos os sentimentos se misturavam em uma tempestade dentro de mim. Eu não consegui mais resistir. "Eu te perdoo," eu sussurrei, a voz embargada. "Sim, Gabriel, eu te amo. Sempre te amei. E senti tanto a sua falta."
E naquele momento, como se todo o tempo e distância não existissem mais, nós nos entregamos. O beijo foi ardente, carregado de desejo reprimido e de saudade acumulada. Cada toque dele incendiava minha pele, e eu me vi perdida em seus braços, como se fosse a primeira vez. O calor entre nós cresceu rapidamente, e antes que eu percebesse, estávamos nos rendendo à paixão que tínhamos tentado esconder por tanto tempo.
Ele me deitou no sofá, e seus lábios exploraram cada centímetro do meu corpo. Eu ofegava, sentindo uma onda de prazer e desejo que não conseguia mais controlar. Não havia mais barreiras entre nós. Eu me entreguei completamente, e a sensação de ser dele novamente me tomou por completo. O amor, a saudade e o desejo se misturavam em uma dança de pura paixão.
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REFÚGIO PROIBIDO
Romantizm🚫MAIORES DE 18 ANOS Refúgio Proibido mergulha na tumultuada vida de Sofia, uma jovem mãe determinada a escapar de um relacionamento abusivo, levando seu pequeno filho, Arthur, em uma fuga desesperada. O destino a leva a uma mansão misteriosa, habi...