— Rila era uma boa garota — disse o pai da vítima, enquanto olhava para uma foto da filha sobre a escrivaninha do quarto dela. Ele tinha um olhar perdido, sofrido, como se ainda não aceitasse a morte da filha.
— Ela gostava muito de dançar, dizia que iríamos formar uma dupla incrível de dançarinos — disse o irmão mais velho dela, encostado no batente da porta. Ele deu um sorriso triste ao dizer a última frase, olhando para um enorme pôster acima da cama da irmã.
Era um cartaz dos dois, de uma apresentação que eles fizeram em alguma praça que estava bastante lotada. Pareciam cansados depois do espetáculo, mas tinham um grande sorriso no rosto e seus olhos brilhavam ao ver tanta gente.
Nilo olhou do garoto no pôster para o garoto no batente. Quase não pareciam o mesmo ser. O garoto do batente estava mais magro, mais abatido. Ele não olhou muito o pôster, e o sorriso logo sumiu de seus lábios enquanto lágrimas vinham aos olhos. Nilo pensou no que ele deveria estar sentindo naquele momento, tendo perdido sua parceira de dança, melhor amiga, irmã.
Sentiu-se mal por estarem ali, fazendo-os reviver aquela dor. Sempre se sentia, sempre pensava em muita coisa que ia além do seu trabalho, mas não podia se deixar consumir por esses pensamentos, precisava focar no que tinha que fazer, agir de forma mais racional, ser mais sério. Mesmo que não gostasse disso.
— Ela tinha algum inimigo? — Nilo perguntou. O pai da vítima negou.
— Rila era sempre muito legal com todo mundo, se tinha algum problema com alguém, sempre buscava sentar e conversar para resolver isso, ninguém ficava muito tempo bravo com ela.
— Aconteceu alguma coisa fora do comum nos últimos tempos? Antes do acontecido? — Anila perguntou enquanto observava alguns dos pertences da vítima em outra escrivaninha. O irmão da vítima deu uma pausa.
— Nada de ruim, mas… quase uma semana antes dela… — Ele engoliu seco, abriu e fechou a boca algumas vezes, tentava falar a palavra, mas ela não saia de seus lábios. Ele suspirou, pediu desculpas com o olhar e continuou. — Quase uma semana antes do que aconteceu, ela começou a ficar animada demais, além do que ela já era. Ela tinha um segredo, disse que não podia me contar, mas que era algo que iria realizar nossos sonhos.
— Diga tudo que sabe sobre isso — Oleandro pediu, fazendo suas anotações.
— Não sei muita coisa, como eu disse, ela não quis me contar o que era. Tudo que sei que é isso a deixou bastante animada, ela parecia ter certeza de que o que quer que fosse daria certo. No dia em que ela desapareceu, ela estava muito animada, acho que tinha algo a ver com isso, mas ela não contou nada. Naquela manhã, ela só tomou o café da manhã dela, pegou um colar da nossa mãe e saiu.
— Um colar? Que tipo de colar? — Nilo perguntou. “Algo amaldiçoado? Algo caro que ela iria vender por alguma coisa?” Se perguntou.
— Era o colar preferido da minha mulher — disse o pai da vítima, agora com um retrato nas mãos. Nilo olhou para ele e viu que era uma foto da mãe da vítima, com o homem e os dois filhos. Ela sorria e usava um colar vermelho-fogo que o homem passou a mão por cima. — Dei para ela depois que ela ganhou o concurso de dança da vida dela, em Brann, quando ainda estávamos na Caçada. Ela nunca mais tirou depois disso, até… até ela morrer.
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As consequências de uma escolha
FantasyQuando se entra de férias é natural que se queira descansar. Pelo menos para Anila e Oleandro. Nilo, por outro lado, não se mostra bem um pouco disposto a isso. Na visão dele, já descansaram demais. Disposto a se mostrar o melhor detetive mágico, qu...