Capítulo: 07

186 25 23
                                    

Todo mundo tem um capítulo que não lê em voz alta.

( ... )


Renato chegava em casa de madrugada em silêncio para não acordar a família. Ele passou pelos corredores e finalmente abriu a porta do quarto do irmão que dormia tranquilamente, andou até a cabeceira da cama se abaixando um pouco para poder beijar a cabeça do outro, ajeitou o lençol em cima dele dizendo as seguintes palavras:

"Dorme bem, meu irmão. Me desculpa por tudo que faço contigo, a culpa me corrompe cada dia mais."

Ele sai do quarto a passos lentos, só não imaginava que o outro estava fingindo estar dormindo!!





RAFAEL☄️




Escutar aquilo me deu uma sensação de tristeza profunda. Ele não era o culpado do meu acidente. Sim, eu me joguei na frente do carro para proteger ele, mas nunca me arrependi dessa decisão. Se fosse necessário, eu faria milhões de vezes. Minha família é tudo para mim. Sem eles, eu não conseguiria viver. Só protegi meu irmãozinho mais novo. Nunca gostei que falassem desse assunto perto dele, justamente para não minar a cabeça dele. Eu não quero ser visto como um "herói", sou um homem normal, com falhas e medos... se ele se sente tão culpado, por que me tratava tão mal? Eu precisava entender o que se passava na mente dele e precisava, de uma vez por todas, ter uma conversa séria com o meu irmão! Na manhã seguinte, meu pai me acordou por volta das nove da manhã. Como sempre, ele me ajudou na minha rotina, ele tinha acabado de auxiliar com a minha vestimenta e me colocado na cadeira de rodas.

- Você parece ótimo, meu filho. Está com um brilho diferente. - diz simplista. Seu irmão me contou de relance que ontem vocês passaram a tarde na casa da Melina, na piscina, o que é um milagre, você se recusa a entrar na daqui. - arqueia as sobrancelhas. Óbvio que aqui não tem uma certa moça para ficar ao seu lado, de sorrisinho de canto, sinto cheiro de romance.

- O Rodrigo não perde tempo, deixa ele comigo depois, viu? - finge estar bravo. Não é nada disso, senhor Luís, a Paloma só se disponibilizou de boa vontade, me ajudando. Somos amigos acima de tudo.

- Amigos, sei não. Foi isso que seu irmão me contou, porque segundo ele você fica todo bobo perto dela, parecendo que viu um palhaço de tanto que ri à toa. E se você estiver se apaixonando, não vejo nenhum problema nisso, querido, é algo natural da vida!

- Sim, é natural, mas pai... não quero me fazer de coitado nessas alturas da minha vida; porém, sou um homem diferente dos outros, não posso oferecer muitas coisas diante da minha condição física. Sim, eu quero muito ter uma família, viver um amor, mas também tenho a plenitude de que isso talvez não aconteça. Eu tenho trinta e dois anos, quase trinta e três, né? Meu aniversário tá chegando e nunca tive um relacionamento, nunca namorei, não sei o que é isso. A Paloma é tão incrível, pai. Não me olha como um inválido, uma mulher determinada, corajosa, meiga, atenciosa, inteligente, são tantas qualidades que percebo nela, além de ser linda. Temos uma relação de cumplicidade, afinal, ela trabalha como minha secretária. Não vejo que ela esteja interessada em mim. Eu tenho medo de tentar algo e ela se afastar. Aí, pai, eu vou ficar como na história?! - suspira. Melhor deixar as coisas como estão, né? Prefiro assim...

- Eu acho que você está equivocado em pensar dessa forma. Talvez ela também goste de você e só esteja insegura em lhe dizer alguma coisa. Uma mulher precisa de amor acima de tudo, e isso você pode oferecer de sobra. Limitações, todos nós temos, Rafael, ninguém é perfeito nesse mundo. Pense bem, quero que seja feliz, se abra para essa nova possibilidade.

- Pai, não sei, me sinto um pouco confuso. Nunca havia, de fato, me sentido assim por alguma mulher. Vamos ver o que acontecerá mais para frente.

- Está bem, meu filho, sua mãe quando souber disso vai ficar doida. - confessa, rindo. Capaz de ir atrás da moça para saber dos reais sentimentos dela por você.

Além das aparências | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora