Capítulo: 03

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A culpa encarece o passado.

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Um mês havia se passado desde o dia em que Paloma havia sido demitida. Passava o dia pela cidade entregando currículos, mas não tinha retorno: nenhuma ligação, nem mesmo uma entrevista tinha feito. Nessas alturas, ela se sentia sem expectativas, a sua pequena reserva iria acabar em breve e não sabia como iria conseguir se manter, principalmente com as despesas do filho, que ela fazia questão de não faltar nada. Temia em pensar que teria que retirá-lo da escolinha particular e colocar em uma pública; ela tinha se esforçado tanto para dar um ensino de mais qualidade para o seu pequeno. Estava cortando os gastos, não saía com o carro a fim de economizar no dinheiro da gasolina, andava de ônibus quando precisava ir a lugares mais longe e, quando era perto, ia caminhando.

Ela se encontrava em frente à escola de Gabriel, esperando para pegar seu filho e levá-lo para casa. Olhou para o céu vendo algumas barras de chuva. Deveria ter ouvido o conselho da mãe de pegar um guarda-chuva; esse tempo de Curitiba era imprevisível. Logo viu seu menino correndo em sua direção, feliz por ver que a mãe estava lhe esperando. Beijou a testa do mesmo e lhe abraçou, passando as mãos nos fios de cabelo loiro e cheio de cachos que ela tanto amava.

Pegou a mochila dele, colocando-a em suas costas, e seguiu com ele caminhando até a parada de ônibus. Viu as primeiras gotas de água caírem e agradeceu internamente por ter chegado a tempo na pequena cobertura da parada; assim, eles se livrariam de se molhar. Sentou-se ao lado da criança, que contava alegremente sobre o seu dia na escola, enquanto ela se ocupava em prestar atenção nas falas do menor e procurava uma blusa de frio que estava na mochila dele. Assim que encontrou, vestiu nele, pois já sentia um friozinho de fim de tarde e com aquela chuva só piorava. Se passaram quinze minutos e nada do ônibus que passava pelo seu bairro chegar; provavelmente estaria atrasado por causa da chuva. Gabriel havia encostado a cabeça em seu ombro e pegou no sono. Estava fazendo carinho nele quando ouviu um barulho de buzina; olhou para frente, vendo um carrão parando no meio-fio. Ela ficou um pouco confusa, achando que não era para ela.

O vidro do carro foi abaixado, revelando Rafael no banco de trás, sorrindo e pedindo que ela aceitasse uma carona até a sua casa. De imediato, ela recusou; não tinha cabimento andar no carro dele, sendo que eles nem eram conhecidos, e principalmente porque iria atrapalhar o horário dele de chegar na própria residência. Porém, aceitou quando Gabriel disse que estava com frio e com fome; seu coração mole de mãe não aguentou ouvir aquilo, então entrou no carro ao lado do filho.

Um silêncio insano percorreu o ambiente. Gabriel encarava Rafael com curiosidade, sorrindo abertamente para o mesmo na esperança de que o homem o notasse. E foi exatamente o que aconteceu; embora fosse óbvio que o adulto tinha notado a presença do mesmo, Paloma parecia incerta em ter aceitado a carona. Não queria incomodar uma pessoa importante como ele.

- Olá, eu sou o Rafael. Qual o seu nome?

- Eu sou o Gabriel, tio. - sorriu, tenho seis anos e estou no primeiro ano na escola. Esse carrão é seu? Posso andar mais vezes nele? Quando eu crescer, irei ter um assim...

- GABRIEL! Me desculpe, sabe como são crianças. Filho, só pegamos uma carona, não quer dizer que você vá andar no carro dele direto, entendeu?!

- Paloma, deixe o menino. Eu tenho certeza que falou na inocência; como você disse, crianças são assim, sem filtro, o que acho incrível. Claro, garotão, prometo te levar para passear mais vezes. Nossa, já está no primeiro ano?! Que inteligente!

- Obrigado, tio. Você é namorado da minha mamãe? Ela não me disse que estava namorando.

- Não somos, querido. Sou um... amigo dela! Isso, somos amigos. - sorriu sem jeito, mudando de assunto. Paloma, você conseguiu um emprego?

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