Capítulo: 08

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"Os fios invisíveis são os laços mais fortes."
(Nietzsche)

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RAFAEL ☄️

Estava animado para ir ao parque com Paloma e Gabriel, mesmo que tivesse acordado com dores, tomei os remédios para aliviar os sintomas e passei a manhã em repouso. Rodrigo me ajudou a me arrumar enquanto fazia piadinhas de como eu estava "apaixonadinho". Revirei os olhos diante disso, mas a realidade era essa mesma; óbvio que iria continuar negando, não queria criar expectativas na minha família e nem na minha cabeça, não queria me decepcionar ou acabar com a minha ótima relação com ela... pois no fundo eu sabia que só poderia ser amizade. Paloma era uma mulher completa, nova, cheia de vida, e eu, um tetraplégico que não poderia ser um homem inteiro para ela.

Depois que fiquei pronto, chamei Marcos para irmos. Ele rapidamente me coloca no carro, dirigindo até a casa dela. O caminho foi tranquilo. Quando chegamos, Gabriel nos recebeu todo feliz, me entregou uma cartinha como um pedido de desculpas; sorri pelo gesto fofo dele, pedi um abraço. Um pouco tímido, o pequeno se aproxima, pedindo para a mãe colocá-lo no meu colo. Ela se prontifica em fazer o que foi pedido e, então, recebo ele, que passa os braços em minha cintura, encostando a cabeça na minha barriga, onde ficamos nesse entrelace por alguns segundos. Paloma parecia admirar a cena, pois vi no canto dos seus olhos uma lágrima se formar. No parque, pedi para o meu motorista me colocar sentado sobre a grama, encostado com as costas em um tronco de árvore, para não correr o risco de tombar para frente, pois eu tinha o equilíbrio um pouco ruim por conta da minha lesão. Vi a mesma estender uma toalha no chão enquanto arruma as coisas em cima da mesma. Gabriel brincava com algumas crianças ali presentes.

O clima era descontraído, tinha até esquecido as dores que estava sentindo. Vi a mesma se sentando ao meu lado.

- Rafa, você está bem? Parece um pouco pálido. Está sentindo alguma coisa? - o encarou... Já sei, essa posição sentado no chão te faz mal? Posso chamar o Marcos para te colocar na cadeira; ele disse que ficaria perto do carro, logo na entrada.

- Não é necessário, Paloma. Estou bem, por favor, não se preocupe à toa. - forço um sorriso. O pequeno faz amizades rápido, está se divertindo tanto. - diz, olhando na direção de Gabriel que brincava. Fiquei aliviado que o mal-entendido foi resolvido; crianças sempre se lembram das nossas promessas, ele só estava chateado e com razão, eu prometi.

- Ele é bem comunicativo para a idade, isso é ótimo, consegue se adaptar em ambientes diferentes rápido. O problema, Rafael, é que ele tem uma carência paterna grande e às vezes confunde as coisas... mas estou satisfeita que meu filho pediu desculpas; jamais deixaria ele tratar alguém daquela forma. - suspira, mas mudando o foco da conversa. Não vai comer nada? Juro que essas coisas estão comíveis. - brinca.

- Então eu vou querer um pedaço desse bolo que está com a cara ótima, aposto que cozinha tão bem quanto a sua mãe. - dou de ombros. Paloma, você é tão detalhista e sabe um monte de termos médicos; onde aprendeu tudo isso? - falo curioso.

- Eu estudei enfermagem, mas não concluí o curso porque acabei engravidando; daí foi difícil conciliar tudo ao mesmo tempo. Tranquei a minha matrícula faltando dois anos para concluir e, infelizmente, não deu para eu voltar depois, mas a vida que segue. - diz, servindo o pedaço do bolo. Espero que esteja ao seu gosto...

- Nossa, sério? Muito interessante! Que pena que não deu para retornar com esse sonho... Não pense nisso agora, que o Gabriel está maior, embora seja cansativo trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Fico indignado com a falta de oportunidades para todos; eu sei que sou privilegiado por vir de família rica. - a olho de relance... mas deveria ter oportunidades iguais; infelizmente nosso país não garante isso. Está delicioso, Paloma. - digo surpreso. O melhor bolo que comi em minha vida, sério, perfeito!

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