Capítulo 26

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Movo na cama tateando o espaço onde deveria está Cassian, cansada, vejo-o sentado no colchão passando as mãos no rosto e respirando fundo. -Não consigo dormir, posso ir para sala para não lhe atrapalhar. 

Sento, batendo no colchão para convidar a se aproximar, a expressão cansada e ansiosa me fez questionar o que tinha acontecido de tão grave para causá-lo tanto temor. Vulnerável, ele deita a cabeça em minhas pernas como fazia quando erámos um casal. 

-Não atrapalha, mas você precisa descansar -Toco o seu rosto. -Ficar pensando não vai lhe ajudar, ao menos não agora -Sinto  o mesmo bufar pesado na pouca luz seus olhos direcionavam para o teto como se quisesse organizar os pensamentos.

 -A última operação... foi diferente, lembra quando eu lhe informei que teria um treinamento no acampamento de operações especiais? - Sua voz não só saiu baixa, como também saiu trêmula. Em um momento, uma vaga memória de Cassian me ligando meses antes de descobrir a gravidez para me informar que estaria sem contato devido uma questão profissional, assenti confirmando a memória.-Eu... eu havia sido capturado no esquema dos traficantes que eu estava meses investigando de forma cautelosa, a inteligência havia me dado  treinamento devido para aquele caso, estava lidando não apenas com o tráfico de drogas, mas lavagem de dinheiro. Dois dias, Nestha. Dois dias nas mãos de caras que não estariam a fim de entrar em acordo com alguém disposto a matá-los ou prender. 

Sinto um breve enjoo ao imaginar ele, amarrado, torturado até o resgate. 

-Eu sempre havia sido contra o nosso relacionamento ser aberto. Mas algumas circunstância eu agradecia que ele era assim.  Eu fiquei horas Nestha, sendo espancado, ameaçado e mutilado. -Por um instante o rosto que normalmente transparecia coragem e temor aos outros se mostrou vulnerário ali, no meu colo. -E de verdade, em algum momento acreditei que não ia voltar, nas primeiras vinte quatro horas fui de acordo com o treinamento, mas depois disso, eu esperei  o pior. -Seus olhos se fecham como se ainda tentasse afastar as cenas. -  Eles me ameaçaram, jogaram com minha mente. E mesmo quando a equipe conseguiu me resgatar, eu não consegui parar de pensar...

O silêncio no quarto era denso, necessário apenas pelo som da respiração. Eu sabia que ele sempre foi corajoso em seu trabalho, mas agora, com Aylin, as responsabilidades pesavam de forma diferente. Cassian abriu os olhos e me olhou, uma expressão de vulnerabilidade rara

-Por... Por quê nunca me contou? -O nó na minha garganta estava explicito quando engasguei na pergunta. -Não era necessário passar por isso, ao menos não sozinho, eu sempre te apoiei quando você entrou na academia de operações, mesmo que estivéssemos a distância. 

 -Você estava com um playboy  da medicina, estressada com provas, cobranças de sua mãe o que eu iria agregar Nessie? -O apelido continuava saindo de sua boca de forma carinhosa, mesma cautela, mesmo tom sério, seus dedos tocam meu rosto enrolando uma pedaço de cabelo que insistia em sair de trás da orelha. -O que me confortava era que você tinha alguém que poderia lhe proporcionar conforto caso eu não voltasse.

O trincar dos meus ossos salientava o fato de Cassian não saber que Tomás não proporcionou nada além de horror, dor e medo. Apesar dele nunca saber a verdade sobre. 

-Agora... eu tenho uma criança de três anos. 

-Eu também tenho uma criança de três anos. -Repito deixando-o abraçar meu tronco  -Não  precisa ficar assim... 

O que  queria sair da minha garganta eu forcei  para não soltar.  Apesar de mentalizar que eu estaria ali para dar apoio e suporte a ele e Aylin. 

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-Oi meu amor, bom dia! -Cumprimento Aylin que já estava sentada frente a mesa balançando os pezinhos enquanto Cassian fazia algo que parecia panqueca.

-Bom dia Ness, hoje é dia do papi fazer panqueca -Diz sorrindo tão largo que os olhinhos ficam menores. Suspiro vendo-a alegre as seis da manhã de uma terça feira. -Achei que tinha ido embora sem me dar tchau.

Sentir que eu poderia ter um vinculo genuíno com ela era a melhor sensação que eu poderia ter. Beijo os cabelinhos pretos levemente onduladas denunciando a herança de Cassian. -Jamais sairia sem te dar tchau. Bom dia Cassian -O encaro com um avental quadriculado colocando uma panqueca em formato de Dinossauro presumo.

Destroços do adeusOnde histórias criam vida. Descubra agora