Capítulo 24

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Encostados no sofá  com Aylin  deitada sobre os pais ressonando, os adultos trocaram olhares cúmplices  aquela não era  a primeira noite em que os dois lidavam com a menina se rendendo ao sono. -Depois ela  vai pedir para nós contarmos o filme todinho -Nestha diz tocando os cabelinhos espalhados em seu colo. 

-Eu particularmente esqueço e me perco todo nas histórias -Cassian diz ajustando a manta corpo pequeno, os cabelos do policial soltaram do coque.  

-É a terceira noite que Aylin implora um filme -Nestha comenta  encarando o policial -É minha vez de colocá-la na cama? -A voz suave feminina atraiu mais uma vez Cassian.

-Eu te ajudo -Levanta pegando a garotinha que estava imóvel se aconchega no peito de Cassian. 

Um sorriso genuíno forma nos lábios da médica ao ver  a criança se acomodar tão facilmente ao peitoral grande dele, em silêncio Nestha pega a manta seguindo em direção ao  quarto infantil onde se apressa em deixar acesa a luz auxiliar. 

-Mas uma noite ela acordará se sentindo que foi teletransportada -A mulher sussurra afastando as cobertas para Cassian acomodar o corpo da menininha que resmunga mas não acorda. 

-No fundo ela gosta de ser transportada -Com cuidado, ele acomoda o pescoço da criança e a médica cobre devidamente o corpo pequeno, mas o movimento fez os olhos azuis acordarem

- a mamãi vai dormir aqui de novo né? -O tom preguiçoso e manhoso chama a atenção dos adultos que trocam olhares como se um esperasse a resposta um do outro -Por favor vocês vão me contar o filme depois...

Nestha toca a pontinha arrebitada da menor que fecha os olhos com facilidade. -Depois contamos o filme, pode dormir, amor... -Beija a testa da menina que se entrega ao sono 

Ao se retirarem da sala, Cassian avaliou o fato de que estaria tarde para a mulher pedi um uber ou dirigir para casa. -Nestha, está tarde -Suave, era assim que a voz grave  se mostrou. 

-Acredito que dê para ir, não quero incomodar e muito menos mal acostumar Aylin, não sei o que ela está pensando em me ver três noites aqui -Justifica encarando o policial que se encontrava com roupas pretas com as tatuagens nos braços expostas. 

-Não há necessidade de ir, pode muito bem esperar amanhã. -Cassian diz sereno -Ela gosta quando você está aqui quando amanhece.

Um sorriso sincero forma nos lábios de Nestha, ela estava buscando ser mais presente na vida da criança e estava gostando da experiência normalmente, Aylin não dissociava os tratamentos do pai com o da mãe, ela não via Nestha como uma vilã.

-Tudo bem, eu fico, mas durmo no sofá.. não é justo você se tirar do local de  conforto por minha causa- A médica solicita com os braços cruzados. -Você chegou do trabalho estressado, não acho justo você dormir no sofá.


O estresse do trabalho tinha mais ligação com as insinuações e insistência da Delegada do que o risco de ser policial, seus dedos massagearam suas têmporas ao lembrar do fato, diante dos olhos azuis da Archeron algo inocente mas ao mesmo tempo perigoso acende em suas ideias.

-Podemos dividir a cama, há espaço para nós dois - Saiu mais por impulsividade do que espontaneidade uma expressão sugestiva da face da mulher o fez entender que ela não negaria a ideia.

-Gosto de dormir de frente para porta, espero que não tenha alguma preferência  de lado -Caminha indo em direção ao quarto deixando Cassian estático pela resposta. 
 
Cruzando a porta do quarto, o policial encontra a mulher desmanchando o coque  dando algumas ondulações  nas mechas claras.  Ele repensou quais as chances disso dar errado, o mesmo seguiu para o outro lado da cama,  se acomodou do lado de Nestha sendo separados por meio centímetro do centro do colchão. 

-Gosto da aproximação que está tendo com Aylin -Cassian manteve as mãos sobre o abdomen encarando o teto. -Ela se mostra menos carente quando retorno do trabalho. 

Deitada de bruços, a cabeça de Nestha estava em direção de Cassia.  Sutilmente, um sorriso curvou em seu rosto, suave. -Gosto de passar o dia com ela, inclusive, passou o dia todo fingindo que estava escrevendo. 

Um sorriso desenha o rosto de Cassian, impulsivamente vira em direção a mulher que já o encarava. -Toda vez  que eu saía com ela dizia para ela se preparar quando fosse escrever. 

-Então vou mostrar as páginas escritas daí você traduz- Nestha sugere sentindo a respiração dele perto até demais - Não sei se posso ensinar como fazer as letras por conta da coordenação dela. 

-Pode tentar Nestha -Os olhos vacilaram entre o cinza azulado e os lábios rosados que naquele momento estavam levemente abertos. 

Algo esquentava dentro dos dois, as ondulações espalhadas na cama e os olhos em direção dele mexia com Cassian que por mais que se arrependesse de ter  convidado-a para dividir a cama sabia da possibilidade de se entregar. 

Os poucos centímetros deixaram  de existir conforme se aproximavam, com os narizes encostados e respiração descompassada, as mãos de dele acaricia os fios da nuca da médica que inalava o cheiro dele uma combinação amadeirada e terrosa. Mas o que mais sobressaía era a leve insinuação de especiarias, algo quente e familiar, como canela ou cravo, que aquecia o ar ao seu redor. Para Nestha, era um porto seguro, uma presença reconfortante e forte que sempre a fazia se sentir protegida, ainda que não dissesse isso em voz alta.

-Não me faça me arrepender, Nestha -Os dedos pressionam a extensão da nuca que respondeu o toque com uma arfada acompanhada de arrepio. 

-Então não se arrependa Cassian. 


Destroços do adeusOnde histórias criam vida. Descubra agora