CAPÍTULO QUATRO

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Deitado na cama, deixei o gosto amargo do whisky inundar minha boca, o líquido queimando enquanto descia pela garganta. A garrafa, quase vazia, repousava ao lado da cama, o reflexo da luz do sol esmaecida brilhando em seu vidro.

Meus pensamentos vagueavam, distantes, até que ouvi passos suaves ecoando pelo corredor. Ao levantar o olhar, vi Sakura parada na porta. Seus cabelos rosados caíam em torno de seu rosto, destacando seus olhos que me observavam com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

- Você quer sair? - perguntou, a voz soando como um sussurro, carregada de curiosidade.

Soltei um suspiro longo, levando o copo aos lábios mais uma vez. O calor do álcool não oferecia mais o conforto que eu buscava, mas ainda assim, era um ritual que se repetia.

- Não posso - respondi, mantendo o olhar fixo no teto, como se estivesse buscando respostas nas rachaduras e manchas que o tempo havia deixado ali.

Ela deu um passo à frente, sua expressão suavizando, mas seu tom de voz ganhou um toque de teimosia.

- Por quê?

Virei o rosto em sua direção, estudando-a por um momento. Havia uma intensidade nos olhos dela, algo que me desafiava, que exigia mais do que respostas evasivas.

- Está sol - murmurei, como se a palavra por si só explicasse tudo.

Ela soltou uma risada curta e amarga, um som que soou tão fora de lugar quanto a luz que tentava se infiltrar pelas cortinas do quarto. Sem insistir mais, ela se virou e saiu, deixando a porta entreaberta atrás de si.

Fiquei olhando para o espaço vazio onde ela estivera, a madeira da porta balançando levemente, como se hesitasse em fechar completamente. O silêncio voltou a preencher o quarto, pesado e sufocante, quase como se estivesse tentando me engolir.

A luz do sol penetrava por entre as cortinas, formando feixes dourados que iluminavam as partículas de poeira no ar. E ali estava eu, no canto mais escuro, afastado, como uma sombra à espera do crepúsculo. Olhei para o copo que segurava, observando o whisky girar preguiçosamente em seu interior.

Bebi o último gole, sentindo o calor se espalhar, mas trazendo apenas um vazio maior. O copo encontrou a mesa com um som seco e definitivo, como um ponto final que nunca deveria ser colocado.

Raiva. Era isso que fervilhava dentro de mim, uma fúria silenciosa e ininterrupta, um ódio que queimava mais do que o sol lá fora. Não era apenas o fato de não poder sair durante o dia, mas a verdade cruel de estar preso a essa escuridão eterna, de saber que o simples ato de caminhar sob a luz me transformaria em cinzas.

Cada raio de sol que ousava atravessar a janela parecia zombar de mim, um lembrete cruel daquilo que jamais poderia ser meu.

Mas não era o medo de morrer que alimentava minha ira, era o peso da eternidade, da vida que eu estava destinado a nunca viver plenamente.

Um ser condenado à escuridão, ao mesmo tempo tão próximo e tão distante da luz que tanto desejava. E naquele momento, percebi que não era a escuridão que me aprisionava, mas a esperança insidiosa de que, um dia, eu poderia sentir o calor do sol novamente.

••••••••••

Eu caminhava pelo parque. A noite já passava das dez, e a escuridão reinava soberana, interrompida apenas pelo ocasional farfalhar das folhas e o distante ecoar de passos que agora se aproximavam.

Parei, meus sentidos aguçados captando a presença que se movia na minha direção. Instintivamente, avancei, tornando-me apenas um borrão na noite. Num instante, prendi a figura contra uma árvore, minha mão envolvendo seu pescoço com uma força que poderia esmagar ossos com facilidade.

On You - NaruSasu *ABO*Onde histórias criam vida. Descubra agora