Capítulo 24 - O massacre dos Abençoados

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Charlotte Austin
Tailândia
Fora do território conhecido

Os espíritos de Menino e Menina tinham se tornado sua companhia constante. Ainda mais naquela manhã em que amanhecera com uma febre alta que a fazia se debater em calafrios, mesmo que as janelas estivessem fechadas e seu corpo estivesse envolto das grossas mantas de pele.

A ômega estava bem na noite anterior, mas após uma noite tendo pesadelos perturbadores e sonhos sem nenhum sentido aparente, acordara completamente enferma na manhã seguinte. O pior de tudo, no entanto, era saber que Engfa também poderia estar se sentindo daquele mesmo jeito porque a alfa carregava a marca de sua mordida... embora ela não soubesse se a mordida de uma ômega funcionasse exatamente da mesma forma que a de uma alfa.

Menino e Menina estavam sentados ao lado de sua cama com expressões tristes, embora ela estivesse com uma expressão mais fechada e... quase curiosa na direção da ômega.

Foi nesse momento que a porta do quarto rangeu ruidosamente ao ser aberta pela idosa que a recepcionou. A mulher detinha uma expressão preocupada que rapidamente se transformou em surpresa quando seus olhos recaíram sobre as crianças. Esse detalhe não passou despercebido por Charlotte.

Ela sabe quem eles são... ou ao menos, já os viu antes. Se estivesse em melhores condições, a ômega teria tentado descobrir a ligação entre aqueles três, principalmente depois que vira ambas as crianças se transformando em pó e desaparecendo diante de seus olhos.

— Vocês foram rápidos — murmurou a idosa, em voz baixa, negando com a cabeça.

Charlotte percebeu que falava para si mesma, e que ela provavelmente não deveria ter ouvido aquelas palavras. A mulher a encarou brevemente antes de se voltar para as crianças.

— Precisam me ajudar caso queiram que ela melhore. Já sabem o que fazer?

A vista de Charlotte estava começando a embaçar por conta da febre, mas nem isso diminuiu sua surpresa ao perceber o quão suave era a voz da mulher mais velha ao se dirigir aos mais novos.

Menina assentiu rapidamente e se levantou de onde estava, saindo do quarto e retornando pouco tempo depois com alguns tecidos, e um balde com água e outro vazio. Menino, por sua vez permaneceu onde estava, apenas observando.

— Fique de olho nela, garoto. Caso não melhore depois do que fizermos, vamos precisar de mais ajuda.

Charlotte sentiu uma ardência em sua nuca e uma forte náusea a fez se levantar bruscamente e curvar seu corpo para vomitar dentro do balde vazio. Quando terminou, estava ofegante e sentindo-se ainda mais fraca quando tornou a deitar na cama.

O que diabos estava acontecendo com ela? Charlotte nunca foi alguém com saúde frágil, e não se lembrava da última vez que ficara tão doente daquele jeito. Na verdade, sequer se lembrava de alguma vez realmente ter ficado gravemente doente em sua vida.

A idosa não pareceu se incomodar com o que tinha acabado de acontecer, e apenas molhou duas tiras de tecido e as posicionou na testa e no pescoço da ômega para tentar diminuir a febre. Charlotte tremeu com a diferença de temperatura.

A idosa se afastou quando ficou satisfeita com seu trabalho e saiu do quarto sem mais nenhuma palavra, o que fez a ômega franzir o cenho. Suas dúvidas, porém, foram respondidas quando ela retornou com uma pequena tijela com chá de alguma erva.

— Beba. Vai ajudar. — Foi tudo o que ouviu antes de beber o conteúdo surpreendentemente doce.

Quando a idosa estava prestes a se afastar novamente, Charlotte segurou fracamente em seu pulso, surpreendendo-se ao sentir a quentura da pele. Humana. Ao contrário do que pensara anteriormente, aquela mulher era humana. Entretanto, essa confirmação a deixou confusa, visto que ela parecia estar completamente familiarizada com os dois espíritos infantis que lhes faziam companhia.

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