Capítulo 14 - Isso me assusta

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Tailândia
Bangkok

A figura adentrou o recinto escuro com o máximo de cuidado possível para não chamar atenção desnecessária. Havia um manto grosso sobre sua cabeça, o impedindo de ser reconhecido por qualquer um que o visse à distância, mas ainda sim, tentou ao máximo não fazer barulho quando abriu as pesadas portas de madeira escura e ferro. Por sorte, nenhum ruído ecoou, mantendo sua presença um segredo que apenas a escuridão da noite testemunhara.

O ranger da porta foi o único ruído que maculou o silêncio sepulcral daquele lugar... seja lá o que tivesse sido no passado. O quarto de alguém sem nenhuma importância? Algum quartel secreto para treinamento? Um salão de torturas? Haviam inúmeras possibilidades e rastros de como provavelmente se parecera em seus dias de glória, mas nada o suficiente para lhe dar uma resposta concreta. Suspirou frustrado ao perceber que provavelmente jamais descobriria a verdade.

Pensou a respeito, sentido um súbito cansaço ao perceber que era apenas mais uma pergunta sem resposta para a longa lista que já tinha, mas que só parecia aumentar desde que regressara até Bangkok.

Algumas partículas de poeira dançaram pelo ar, iluminadas apenas pelo grosso feixe de luar que transpassava o vidro da única janela, localizada bem mais acima, quase encostando no teto alto.

— Fico feliz que tenha conseguido vir sem fazer nenhum alarme. — Ele se virou bruscamente, olhando ao redor e tentando identificar de onde viera a voz tranquila que o abordara.

Sentia seu coração acelerado em seu peito, e o alto retumbar dele em seus ouvidos. Engoliu em seco, sem saber ao certo como deveria responder.

Essa voz me é estranhamente familiar... Ele fez um círculo completo ao redor do próprio corpo. Mas a dona da voz ainda estava envolva pelas sombras e penumbra.

— Apenas segui os sinais que encontrei... — murmurou e uma risadinha aguda foi sua resposta.

— Sei disso. Mas confesso estar surpresa com o quão fácil foi para convencer um dos representantes dos clãs a vir ao meu encontro. Não tem medo que te achem um tolo por deixar que sua curiosidade fale tão alto? — A pergunta o deixou em silêncio por alguns minutos.

Qualquer outra pessoa em uma situação parecida o teria feito cerrar os punhos de raiva, mas ele percebeu que se tratava de uma pergunta genuína. Não era um deboche ou uma repreensão, mas sim um convite que o levava a refletir sobre. Negou rapidamente com a cabeça, fazendo questão de se lembrar disso depois.

— Estou aqui, de qualquer forma, e se vim, é porque quero escutar o que tem a dizer. Se me interessar por seu discurso, ótimo. Talvez possamos trabalhar juntos. Caso contrário... farei questão de anunciar sua traição em alto e bom som para a comandante.

Seja lá com quem estivesse compartilhando o amplo cômodo, a pessoa não pareceu nenhum um pouco preocupada ou fez qualquer comentário ou pedido com a intenção de impedi-lo. Na verdade, mal parecia se sentir incomodada com a possibilidade.

Ele estranhou o comportamento. Afinal, a mera possibilidade de estar nos maus agrados de Engfa era o suficiente para deixar até o mais valente dos guerreiros com uma quantidade saudável de medo. Mas nada veio: nenhum resmungo, grito, sussurro, pedido ou ordem.

Isso está ficando mais estranho do que pensei ser possível.

— Você é corajoso. Eu aprecio isso. Coragem é algo de que vamos precisar se quisermos fazer o que é certo. — A resposta o fez arregalar os olhos.

— Do que está falando? — chiou, bem mais calmo do que estava estava anteriormente, o que o surpreendeu.

Geralmente, não confiava em ninguém com facilidade, mas ali estava: quase conspirando com alguém quem ainda estava tentando se lembrar de quem era.

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