Capítulo 10 - Lua de Sangue

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Engfa Waraha
Tailândia
Bangkok

Engfa se perguntou se encontrar Charlotte e lhe dizer algumas palavras iria matá-la, mas, mesmo depois de chegar à conclusão que a resposta seria negativa, não conseguiu ir até a ômega porque simplesmente não tinha uma resposta para a pergunta subentendida.

Naquela noite, contudo, a comandante se revirou em sua cama durante horas, sem conseguir dormir. Sentia seu corpo e sua mente cansados, mas simplesmente se recusava a relaxar, o que a fazia se sentir ainda mais cansada.

Engfa se virou na cama, encarando o espaço vazio ao seu lado com pesar. Normalmente, ela preferiria dormir sozinha porque gostava do espaço extra, mas apenas tentava enganar a si mesma ao não admitir que sentia falta da presença de Charlotte, de seu cheiro e do calor de seu corpo ao seu lado durante a noite. Bufou, enquanto passava as mãos por seu rosto, enfim desistindo de adormecer por conta própria e apelando para, possivelmente, a única coisa que poderia lhe ajudar: o vestido que a ômega usara na noite do juramento, que ela ainda não havia devolvido.

Pegou a vestimenta longa e a colocou no espaço vazio, aproximando o tecido de seu rosto, permitindo que o cheiro suave a embalasse até finalmente adormecer.

Percebeu que poderia ter rido se alguém lhe dissesse que algum dia em sua vida faria algo parecido.



Engfa recebeu mais informações após seu pedido do que achava ser possível nos três dias que se seguiram, e percebeu uma mudança em Charlotte que fez seu sangue gelar dentro do corpo com o passar dos dias.

No início daquela manhã em específico, a comandante solicitou outra reunião com os líderes que se mantiveram em Bangkok após o fim dos duelos e, ao chegar no salão, encontrou sua campeã e segunda no comando já posicionadas em seus respectivos lugares.

Charlotte manteve seu olhar vidrado em algum ponto à sua frente, assim como vinha fazendo nos últimos três dias após o breve momento que compartilharam escondidas na vegetação. A ômega praticamente só dirigia à palavra a si quando solicitada, sem abrir qualquer brecha para conversas que não estivessem voltadas à suas funções.

Charlotte realmente fez falta como uma presença mais próxima e Engfa já tinha admitido isso para si mesma.

Sentada em seu trono, Engfa massageou a têmpora quando sentiu uma dor incômoda no local. Ótimo. Pensou. É tudo o que eu preciso no momento. A alfa suspirou, e deu início à reunião, que seria tensa, a julgar pela postura da maioria dos presentes.

A-Wut foi o primeiro a dar um passo à frente, abaixando a cabeça respeitosamente antes de dirigir a palavra diretamente à Engfa.

— Tenho notícias sobre alguns acontecimentos relatados pelos meus batedores que podem interessá-la, Khun Engfa... — começou, de maneira hesitante.

Engfa acenou para que ele prosseguisse, aguardando o que ele tinha a dizer.

— Houveram três mortes, espalhadas pelo território de Delfi. Aparentemente, a do sacerdote foi a quarta morte, sendo assim a mais recente.

Um momento de inquietude recaiu sobre os presentes. Algumas acusações foram feitas em tom baixo, mas a comandante impediu que aquilo tomasse um rumo mais preocupante do que realmente era necessário. A-Wut continuou.

— A primeira foi perto de nossa fronteira com o território dos Cavaleiros da Planície. A segunda foi na fronteira com o Povo do Lago, a terceira com a de Floresta Brilhante e, por fim, como já sabem, a quarta morte se deu ao extremo no norte da Nação do Gelo.

Murmúrios se instalaram e morreram rapidamente. Não faz sentido algum. Engfa pensou, sua mente estava trabalhando copiosamente, tentando encontrar algo que justificasse a escolha desses locais.

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