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Entramos pela pequena abertura no chão, e o ar mudou drasticamente. Era como entrar em outro mundo: úmido, abafado, com um cheiro de mofo que parecia preencher o ambiente.

As paredes estavam cobertas de desenhos estranhos, símbolos que eu não conseguia decifrar, como se algo - ou alguém - estivesse tentando contar uma história.

Brenda parecia saber para onde estava indo, mas a incerteza no fundo da sua voz me deixava desconfortável.

Nós segurávamos as lanternas, iluminando o caminho à nossa frente, enquanto a escuridão parecia querer engolir tudo.

-Acho que é por aqui.- Brenda disse, sua voz ecoando suavemente pelo túnel.

-Acha?- Thomas respondeu, visivelmente preocupado.

Eu não pude evitar e perguntei.

-Alguém mora aqui?

Brenda, sem parar, respondeu casualmente:

-As tempestades solares forçaram as pessoas a morarem no subsolo. Jorge diz que há acampamentos por todos esses túneis.

-Jorge é seu pai?- Thomas perguntou, tentando entender melhor a dinâmica entre ela e o homem que, até agora, nos mantivera vivos.

Brenda deu um sorriso irônico, quase triste.

-Quase isso. A verdade é que eu não sei bem o que ele é. Ele sempre esteve do meu lado.

Sua voz tinha um peso, como se houvesse mais por trás dessa história.

-E eu sempre fiz o que ele me pedia, por mais burrice que fosse.- ela acrescentou, o tom resignado.

Thomas parecia pensativo por um momento, antes de perguntar.

-Acha que o Braço Direito não existe?

Antes que Brenda pudesse responder, ouvimos um barulho estranho ao longe. Instantaneamente, nossas lanternas viraram para o som, iluminando o caminho de onde o ruído vinha.

O túnel parecia interminável, o som reverberando por suas paredes, mas não conseguíamos ver nada.

Conforme seguimos em frente, o silêncio entre nós foi quebrado novamente por Brenda.

-Esperança é uma coisa perigosa. Esperança já matou mais amigos meus do que o fulgor e o deserto juntos. Pensei que o Jorge fosse mais inteligente.

Havia amargura em suas palavras, como se a esperança tivesse cobrado um preço alto demais de sua vida. A cada passo que dávamos, o peso dessa jornada ficava mais evidente.

Chegamos a uma bifurcação no túnel. Havia dois caminhos à nossa frente. Eu olhei para Thomas, buscando alguma direção, mas antes que qualquer decisão pudesse ser tomada, Brenda apontou para um caminho.

-Eu vou por aqui.- ela disse, e sem esperar resposta, seguiu pela esquerda.

Eu e Thomas trocamos um olhar, e, sem precisar falar, decidimos seguir pelo outro caminho.

Minha lanterna tremulava ligeiramente enquanto avançávamos, e o silêncio opressor daquele túnel me fazia sentir mais perdida do que nunca.

Eu e Thomas continuamos avançando pelo túnel com as lanternas em mãos. A atmosfera ao redor era pesada, e o som abafado de seus passos ecoava pelo lugar. De repente, uma luz suave começou a brilhar no final do túnel.

-Acho que é por aqui.- Eu disse, sentindo um pequeno alívio em pensar que talvez estivessem perto de encontrar Brenda.

-Brenda?- Thomas chamou, a tensão clara em sua voz.

Everything I didn't tell you Onde histórias criam vida. Descubra agora