PÚRPURA

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Naquela noite, Lucas não conseguia para de olhar para a floresta através da sua janela, iluminada pela luz da lua. Apenas uma coisa ocupava seu pensamento: o ser com rosto de caveira que havia visto mais cedo. Ainda sem saber ao certo o que havia visto, sua cabeça não parava: "Talvez fosse uma pedra de formato estranho sobre uma árvore, ou uma pedra sobre outra pedra. Talvez fosse algum idiota tentando assustar as pessoas, com uma máscara... o que seria estranho também" pensa, mas seja lá o que for, não saía da sua mente, porquê lá no fundo ele sabia que aquilo, não era apenas uma brincadeira, ou ilusão, ele sentiu aquele ser lhe olhar de volta, lhe encarar. Ali, parado, olhando pela janela, tinha um sentimento estranho, se sentia atraído pela floresta, como se ela o chamasse.

As nuvens sombrias começam a se fechar quebrando o luar. A floresta, antes iluminada pela lua, agora fica imersa na escuridão, que começa a preencher os arredores da casa. A primeira gota de chuva cai sobre a casa de Lucas e rapidamente sua janela começa a encharcar com uma chuva forte.

Sua mãe grita do andar de baixo da casa, o chamando, ele escuta e vai. Chegando na sala, ela o pede para ajudar a fechar todas as janelas da casa, seu pai também ajuda. Não demora muito para as primeiras goteiras começarem a pingar. Antes que Lucas perceba, ele, seu pai e sua mãe já estão colocando baldes, panelas, panos, jarros vazios... tudo que tiver ao alcance para impedir que a água das inúmeras goteiras se espalhe. Há goteiras na sala, na cozinha, na escada, nos quartos, em cima das camas... em todo lugar da casa.

A chuva fica cada vez mais forte. Uma terrível tempestade. Relâmpagos e trovões de vez em quando. A escuridão é total em volta da casa.

A família segue cuidando das goteiras, e com a força da chuva, logo precisam trocar os panos, as paredes estão encharcadas, secar os baldes, e continuar cuidando para a casa não sofrer muitos danos.

Seu pai, Antônio fica frustrado com o tanto de goteiras. Já sabia que era uma casa velha, pois já havia estado nela, mas não imaginava que estava em tão péssimo estado, acreditando que seu cunhado, o prefeito Lúcio, tivesse cuidado melhor dela ao longo dos anos. Ele fica resmungando sobre o assunto boa parte do tempo, enquanto Sofia tenta focar em resolver o problema, e assim que puder, procurar alguém para reformar o que for necessário ali. Enquanto isso, Lucas não fala muito, mesmo trocando baldes e secando panos, só conseguia pensar em uma coisa, e sempre que passava por qualquer janela da casa, olhava para fora, atrás dos vidros e fendas, vendo aquela escuridão profunda, sabendo que através dela estava a floresta.

O tempo passa, mas a chuva não parece ter fim, incluindo a forte ventania. Lucas e seus pais, já cansados, continuavam cuidando das goteiras. Com seu pai cuidando da parte de cima da casa, sua mãe andava pela escada secando os pontos molhados. Lucas trocava os baldes da sala, ainda olhando para as janelas em qualquer oportunidade. Quando troca o último balde, ele se senta no sofá, bem do lado de uma janela com vidro, fica olhando para fora. A noite em volta da casa, tudo sombrio, era difícil ver algo, e a chuva forte só dificultava. Os relâmpagos iluminam de vez em quando. Com a iluminação rápida dos raios e relâmpagos, enxergava o extenso sítio, via as cercas de longe, via o parquinho ao fundo, e mais ao fundo ainda, as sombras da floresta. Cada vez que o sítio era iluminado por relâmpagos, ele tentava olhar cada vez mais profundo para a floresta, tentando ver algo que pudesse indicar que o que viu mais cedo havia sido apenas uma ilusão de óptica, alguma enganação, mas com a chuva, a noite e a distância, ele não conseguia ver nada, mas também não conseguia parar de olhar, afinal o que havia visto mais cedo não era nada comum, e o que havia sentido, vendo aquele rosto de caveira, não era algo parecido com qualquer coisa que já havia sentido.

Antônio chama por Sofia no andar de cima, e ela vai, mas Lucas fica tão atento na janela que nem percebe que ficou sozinho. Com os olhos bem abertos, quando um relâmpago ilumina o sítio mais uma vez, ele vê um manto preto, um ser alto, mais de 2 metros, com o mesmo rosto de caveira que havia visto mais cedo, parado em pé, no meio do quintal, olhando para ele. Lucas congela de susto na mesma hora, seu coração dispara, se afasta um pouco da janela, mas não bastante para se levantar do sofá, ou para deixar de olhar. Tudo acontece tão rápido que logo o relâmpago some e tudo volta a ser escuridão. Tão em choque que não conseguia nem piscar os olhos, ele continuou congelado de medo, olhando para a janela. Agora, o que via era apenas escuridão do lado de fora. Em um impulso que nem ele entende, se aproximou do vidro, ignorando seu medo, com a esperança de ver mais de perto, se sentindo chamado pela escuridão. Um novo relâmpago acontece, e novamente ele vê o ser com rosto de caveira, agora um pouco mais próximo da casa. A iluminação do relâmpago é tão rápida, mas Lucas vê a caveira lhe encarando de volta, e até mesmo inclinando a cabeça nos momentos finais do relâmpago, notando uma expressão no rosto dela, se é que isso é possível, mas ele vê, a caveira franzindo a testa quando inclina a cabeça, como alguém que está pensando, e logo tudo volta a ser escuridão novamente.

A Natureza do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora