Quando Bruno chega em casa, vai direto para o seu quarto. Joga sua mochila no chão e se estende na cama. Olha para o teto impaciente. Se levanta. Pela sua janela, vê a casa de Lucas e resolve ir até lá. Descendo as escadas, sua mãe tenta falar com ele, mas ele não quer conversar e passa direto para a porta.
Sofia o recebe, contente com a visita, diz que seu filho precisa de um amigo, e o fala para subir, ir ao quarto.
A porta está entreaberta. Aparentemente, Lucas está no banho, o chapado quarto tem um pouco de lama da chuva, que agora já parou. Bruno entra e toma a liberdade de esperar alí. Se senta em uma cadeira no canto do quarto, olha alguns quadros na parede. Alguns dos quadros mostram Lucas com sua família, outros mostram Lucas com alguns amigos, mas a maioria das fotos são de paisagens da cidade grande. Interessado pelas fotos ele se levanta para ver de perto.
Uma fotografia, ao lado da cama, está emoldurada em um porta retrato. É uma linda imagem de uma rua da grande cidade, mostra pessoas dormindo na rua, ao lado de lixos, muito lixo, um céu escuro, prédios altos, fumaças por toda parte, um restaurante em frente a um local de compra de armas.
Há outro porta retrato, da família, mostrando Lucas e seus pais, no que parece ser a sala de estar da casa antiga. Junto aos três, há também um menininho, no centro deles, sendo abraçado por todos. Luiz nasceu na cidade e nunca chegou a ir para a pequena cidade Girassol.
Como em todo porta retrato, há um vidro protegendo a fotografia, e quando Bruno o segura frente ao seu rosto, para ver melhor, enxerga o reflexo do seu próprio rosto, mas não percebe que no reflexo do vidro há algo estranho. Uma sombra, uma silhueta humana, como se fosse sua própria sombra, porém tão próximo, como se fosse alguém parado atrás dele e quando percebe, se assusta, em um piscar de olhos, aquele reflexo da sombra parece saltar para fora do retrato e invadir seu olho e tudo escurece, o porta retrato cai no chão, Bruno cai sobre a cama. O som do retrato se quebrando no chão chega até o banheiro e Lucas escuta.
De toalha, saí do banho e vê o retrato no chão, Bruno deitado na sua cama, parecendo zonzo. Vai até o retrato com vidro quebrado e o pega. Se levanta e olha para Bruno, que tenta voltar para si, lutando contra um tipo de tontura. Lucas tenta ajudar.
– Desculpa, eu não sei o que aconteceu comigo, minha visão escureceu do nada. – Diz Bruno ainda com a visão turva, esfrega os olhos. Aos poucos vai voltando ao normal.
– Você tá bem?
– Acho... que sim. – Diz, enxergando melhor. – Sua mãe me deixou subir. Desculpa. – Fala sem jeito, ainda sem entender o que tinha acabado de acontecer.
– Tudo bem. Eu vou só me vestir – Diz Lucas, indo até o armário para pegar sua roupa e indo de volta ao banheiro para se vestir.
– Eu posso voltar outra hora, não queria atrapalhar. – Quando vê o retrato com o vidro quebrado sobre a escrivaninha, se preocupa. – Eu quebrei seu retrato, desculpa, não sei o que rolou. – A fala é seguida por silêncio.
Vestido, Lucas sai do banheiro. Ele se senta ao lado de Bruno. Pega o porta retrato. Sente que está pronto para falar para seu amigo sobre o menininho na foto, mas as palavras são saem, sente vergonha e culpa, põe o retrato de volta na escrivaninha.
– Essas fotografias, são lindas. – Diz Bruno, apontando para a foto no outro porta retrato emoldurada, e as outras na parede
– Eu tirei.
– Sério?
– Eu costumava fotografar.
– São incríveis. Essa aqui então... – aponta para a outra emoldurada. – Você tem talento.
– Obrigado. Foi publicada no jornal da cidade. Me orgulho. – Diz ele, baixinho, como se falasse para si mesmo, e lembrar disso o faz sorrir um pouco.
– E essa outra, que eu quebrei, desculpa de novo, mas eu vou lá em casa e trago um porta retrato novo.
– Não se preocupa.
– Eu insisto. Meu pai tem uns que a gente nunca usou. – Diz, mas nota que Lucas está distante, olhando para a fotografia, pensativo, com um semblante de tristeza.
Bruno se levanta para ver as fotos na parede. Lucas olha para a janela. A poucos minutos atrás, estava tendo uma visão sombria na floresta. Ele se levanta e vai até a janela, observa através, para a floresta.
– Você já viu alguma coisa... estranha na floresta?
– Alguma coisa estranha? Não. Tipo o que?
– Só... algo diferente, diferente do comum.
– Não, a gente não entra muito nessa floresta, não por alí. – Diz ele se aproximando, apontando para o ponto na floresta que se refere a faixa trás ao quintal de Lucas. – Muita gente já se perdeu lá, por isso tem aqueles arames. Mas praquele lado. – Diz mudando a direção para onde aponta, na faixa do quintal de sua casa. – Tem uma cachoeira muito boa, perfeito pra tomar banho. Às vezes o pessoal, a gente se encontra na minha casa e vai passar um tempo lá. Vamos marcar para ir com você, você vai gostar.
– Entendi. – Diz Lucas, sem realmente dar muita atenção, seu olhos estão fixos no ponto da floresta onde viu o ser sombrio.
– Tá bem... eu vou te deixar descansar, vô tomar banho também. – Ele caminha para a porta. Lucas, ainda parado em frente a janela, olha para Bruno e dá um sorriso gentil. – Qualquer coisa, aparece.
– Tá bem. – Diz, voltando a olhar para a floresta.
Bruno então sai.
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A Natureza do Mal
Fiksi PenggemarCidade no interior. Garoto assombrado. Misterios na floresta sombria. Amor adolescente. Fantasmas presentes. Traumas de familia. Acompanhe Lucas e sua aventura além dos seus traumas e de mundos desconhecidos, descobrindo a natureza do mal.