(01) «pinóquio», de Benjamin Pó

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eu acredito

mesmo que a minha glote

se tinja de vazio

mesmo que os meus gestos

sejam hábeis e falsos,

como duas mãos unidas

numa missa vespertina


reconheço-o na jaula

de um circo

no ventre de leviatã

na mais perfeita claridade

dessa falésia

que sempre busquei


pressinto-o nas baias

de cada parágrafo

nas serifas de cada glifo

no seu corpo fuzilado

de pingos de tinta sobre gesso


a brisa da meia tarde

sobre a sua pele de fórmica

as folhas douradas

no campo dos milagres


a multidão de boca aberta

tudo fraude?

vanitas vanitatum?


e serás tu de azul desmaiado

a revelar essa verdade?


sabes o que sou, sabes o que fazer

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