eu acredito
mesmo que a minha glote
se tinja de vazio
mesmo que os meus gestos
sejam hábeis e falsos,
como duas mãos unidas
numa missa vespertina
reconheço-o na jaula
de um circo
no ventre de leviatã
na mais perfeita claridade
dessa falésia
que sempre busquei
pressinto-o nas baias
de cada parágrafo
nas serifas de cada glifo
no seu corpo fuzilado
de pingos de tinta sobre gesso
a brisa da meia tarde
sobre a sua pele de fórmica
as folhas douradas
no campo dos milagres
a multidão de boca aberta
tudo fraude?
vanitas vanitatum?
e serás tu de azul desmaiado
a revelar essa verdade?
sabes o que sou, sabes o que fazer
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OLHAR CEGO
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