(22) «Cegueira», de Sergius Dizioli

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Dizer que prefere a folhagem à flor marca uma imprecisão

Traduzida por um clarão que tem em evidência só o verde

Significaria fazer uma pausa justo quando a música eleva

É como sugerir que o verão em seus avanços e retrocessos

Conjure sua luz de modo a penetrar só as janelas traseiras


Até que por fim chegue o momento final, a luz nos pertence

Diz-se ser o álibi perfeito para ocultar uma eventual soçobra

A iluminação inconstante, permite ou não negar o desastre

Mas quem ama às escuras, sabe que pode amar sem olhar

Fazer desse amor duas mentiras: o antes e quando se acaba


Restando apenas um estilhaço a afirmar que fora uma festa

A nota de oboé inadiável, um tangido de língua do rouxinol

Um repicar dos sinos à maneira qual já fez repicar outrora

Negar tudo, seria como reconhecer que a vida foi cegueira

Contudo o que me surpreende é que são só dez da manhã

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