Na pele do papel,
A dor escorre,
A tinta da lembrança
De uma vida que se apagou
Para aquela menina de cabelo curto,
Que preenchia os dias
Com latidos e travessuras.
Filha de estimação,
Guardava a família
De tudo o que surgia,
Até dos insetos rastejantes,
Sem falar dos lençóis que dançavam
Ao sabor das correntes.
Era a nossa imperatriz das lambidelas;
Corria com o chão nas mãos
Em direção aos nossos braços,
Como fazem os soldados
Nos regressos.
Agora,
Aqui,
Nesta tela,
O reflexo das águas
Embaça as letras,
E as memórias
Dilatam as veias.
Aqui,
Perto do peito,
A maré da saudade
Permanecerá cheia.
Não haverá magreza nas vagas;
E na arrebentação do coração,
Soará o ladrar
Do seu amor,
Como um eco do nosso...
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OLHAR CEGO
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