CALLERI
Alguns dias depois
Nesses últimos dias eu tenho me sentido muito tranquilo, parece que finalmente minha vida vai entrar no eixo.
Teve vezes que eu achei que ia morrer, porque sentia uma dor me dilacerar como uma lâmina afiada, e o pior dessas dores é que não há remédio que cure.
Acordei cedo, tomei banho e vesti minhas roupas de treino. Desci para preparar meu café da manhã.
Pão na "chapa", um ovo mexido, queijo coalho e café forte.
Assim que ficou pronto, o que não demorou, porque é uma refeição rápida de se preparar, me sentei para comer e também para mandar uma mensagem para a Ceci.
"Ceci, bom dia! Tudo bem? Quer almoçar comigo amanhã? Tenho uma coisa muito importante para te falar." - mandei e bloqueei o celular em seguida.
Realmente preciso contar algo muito importante a ela. Algo que eu não tinha me dado conta, que ficou despercebido por conta da convivência e da rotina, mas que sempre esteve ali, na minha cara.
Algo que ela me ajudou a descobrir, a perceber, e eu sou tão grato a ela por me ajudar a enxergar o óbvio.
Não sei se é porque eu estava no modo automático desde que a Micaela foi embora, que não fazia muita questão das coisas, deixei acontecer o que tinha de acontecer.
E nisso de deixar acontecer naturalmente, quase que ia perdendo algo que é muito importante para mim, que faz sentido na minha vida.
Fiz a reserva para amanhã, em um restaurante legal e discreto, para que a Ceci fique à vontade.
Ela não me respondeu ainda, mas eu tenho certeza que vai topar.
Voltando para a minha rotina, o treino vai ser o dia todo e isso é ótimo porque ocupo minha mente e não fico pensando na conversa de amanhã.
Chegarei em casa bem cansado e isso me fará dormir até tarde, ou seja, amanhã de manhã também não pensarei no almoço, na conversa, em tudo que preciso falar a ela.
Não sei como ela vai reagir com isso, se vai achar que é loucura, que eu estou agindo com impulsividade, ou se vai concordar comigo.
Não tenho como saber a reação dela, e por isso que estou tão angustiado. Se ela desaprovar, disser que é melhor não, achar que é precipitado, impensado, que vai afetar minha relação com a minha família, ou que às pessoas vão julgar, eu não saberei o que responder.
Mesmo assim, preciso ir em frente e contar tudo que aconteceu nos últimos dias.
Peguei minha mochila, conferir se estava tudo certo, peguei o celular e a chave do carro e saí.
Enquanto dirigia para o CT, pensava em tudo que eu passei nos últimos meses e nos últimos dias, e era até engraçado pensar que uma simples frase dita por alguém, muda completamente a percepção que você tem das coisas.
Assim que cheguei à Barra funda, desliguei meus pensamentos para poder focar no treino.
A primeira parte é na academia. Treino pesado, com várias etapas, para deixar a gente morto.
Tivemos meia hora para descansar, e nesse momento eu peguei o celular para ver as mensagens.
Ceci tinha respondido, e como eu já imaginava, ela aceitou sair comigo para almoçar.
Também tinham outras mensagens que eu fiz questão de responder.
Depois da meia hora de descanso, voltamos para fazer alguns exercícios.
Assim que deu meio-dia, todos os jogadores se dirigiram ao refeitório para o almoço.
Coloquei no meu prato salada, arroz e peixe. Peguei um copo de suco e me sentei em umas das mesas juntamente com o Alisson e o Rafinha.
– E aí, Jonny, como estão as coisas? – Alisson me pergunta e eu sei exatamente ao que ele está se referindo.
– Estou muito bem. – respondo com sinceridade.
– Deu para perceber que você está mais de boa, mais tranquilo. – Rafinha diz.
– Estou mesmo. – confirmo.
– Você merece ser feliz. Agora, me diz uma coisa: está amando, não é? – ele pergunta rindo e eu rio também.
– Estou! – confirmo, não tinha porquê mentir.
– Sabia que essa felicidade toda era mulher. – o capitão diz.
– Realmente eu estou bem feliz. – falo.
– Que bom, Jonny. – diz por último e um silêncio se instala entre a gente.
O almoço durou cerca de uma hora, mas nós tínhamos mais uma hora para descansar.
Aproveitei o momento para conversar com a Tefi, ela é minha confidente desde que éramos crianças.
“Olá, Tefi. Como está?” – mandei.
“Olá, Jonny. Estou bem e você?” – ela respondeu rapidamente.
“Estou bem também. Comprei o anel pra ela, aquele que você indicou. Você acha que ela vai gostar do modelo?” – pergunto.
“Claro que vai, ela vai amar.” – minha irmã responde.
“Tomara!” – respondi.
“Lembra de comprar um buquê, todas as mulheres gostam de flores.” – minha irmã diz.
“Vou comprar tulipas, já deixei até certo com a floricultura.” – respondi.
“Acertou em cheio, tenho certeza que ela vai amar.” – Tefi respondeu.
“Depois te conto como foi tudo, isso, se ela mesma não te contar.” – eu envio.
“Quero a versão dos dois.” – ela responde.
“Está certo. Beijos, hermana, foi muito bom falar com você.” – digo por fim.
O tempo de descanso pós-almoço acabou e nós fomos para o campo.
Era um jogo-treino com tempo e campo reduzido, é claro. Mas que cansa igualmente ao jogo de tempo normal, porque a dedicação é a mesma.
Depois do treino cansativo, fui até o vestiário e tomei banho. Choveu nos últimos dias, mas mesmo assim, o calor era frequente.
Arrumei minhas coisas na mochila, coloquei no carro e saí do CT. Decidi passar em uma padaria, antes de ir para casa.
Na primeira que encontrei aberta, estacionei e desci. Pedi alguns pães à atendente do balcão, ela me reconheceu e pediu uma selfie. Eu atendi, e logo após ela me entregou o pedido. Fui até o caixa, fiz o pagamento e saí.
Já de volta ao carro, liguei o som e comecei a cantar junto. Nada como estar em paz, para ouvir música e não sofrer.
Foi assim o trajeto todo, até eu chegar em casa. Estava tão empolgado que nem percebi que o dia tinha virado noite.
Ao chegar em casa, tomei outro banho, toquei de roupa e fui para a cozinha fazer alguns sanduíches com peito de peru e queijo.
Fiz também suco de maracujá, para ajudar a relaxar e eu ter uma boa noite de sono.
Jantei enquanto assistia um telejornal, depois lavei todos os pratos que tinha sujado e subi para o meu quarto.
Liguei o ar-condicionado, coloquei o celular no modo silencioso e antes de dormir pensei nela, e um sorriso brotou em meu rosto.
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