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CECÍLIA

Nunca pensei que eu fosse sentir ódio dele, mas estava sentindo. Ódio de mim, ódio dele, da Manuela, ódio do mundo.

Liguei o som, conectei com o celular e deixei rolar.

Começou a tocar RPM, e era um recado do universo para mim.

Se eu soubesse que ia ser assim, tudo por nada. E confesso que eu acreditei em meias verdades...

Ouço a música e ela faz total sentido para mim. Eu fui tudo para o Jonathan e ele nada para mim.

Mas a culpa é dele? Não! Só que isso não me faz odiá-lo menos, ter menos raiva, sentir menos tristeza.

– Enquanto eu fazia tantos planos, que você nunca vai saber, nunca vai saber... – começo a cantar junto.

– Quando você ama alguém que não te quer... – canto e choro junto.

Mudei a música, não ia me traumatizar mais ainda por causa de uma música.

Desliguei o som do carro, era melhor ouvir o barulho do trânsito do que qualquer coisa que me lembrasse o argentino.

Cheguei ao consultório 10 minutos antes do horário da consulta, nem o argentino enchendo o meu saco, me fez atrasar. Ainda bem, porque detesto atrasos.

Fui até a recepção e entreguei minha documentação, depois assinei uma ficha e fiquei aguardando até ser chamada.

A psicóloga atrasou quinze minutos para me chamar e assim que eu vi meu nome no letreiro, respirei fundo e entrei.

Chegou a hora de contar toda a minha saga de paixão por Jonathan Calleri, mas dessa vez com o intuito de me libertar, ou pelo menos, me ajudar a lidar melhor com a situação.

– Boa tarde! – a cumprimento.

O ambiente é bem acolhedor, com cores neutras, óleo essencial no aromatizador, algumas flores, tudo muito discreto.

– Oi, Cecília. Prazer te conhecer. – ela fala com muita gentileza.

– Prazer é meu. – digo meio sem jeito.

– Então, o que te trouxe aqui? – ela pergunta e uma lágrima se forma no canto do meu olho.

Antes de começar a falar, comecei a chorar. Ela levantou e ne abraçou. Cheguei a soluçar do tanto que chorei.

Depois que eu me recuperei um pouco, comecei a falar.

– Eu sou apaixonada por um cara que conheci quando era bem nova. Nos tornamos amigos, mas ele nunca me viu com outros olhos.
Ele tinha namorada e eu nunca fiz nada para atrapalhar, ao contrário, sempre dei apoio a ele, mesmo que fazer isso me cortasse o coração. – começo a contar.

– Recentemente ele terminou o namoro e eu estava lá fazendo o que os bons amigos fazem, mas só que de repente ele mudou comigo, começou a ser mais carinhoso, a me dar flores, chocolate, fazer jantar para mim, ir me deixar e buscar no trabalho... Eu achei que ele estava me enxergando de uma forma diferente, só que eu estava enganada. Ele fez tudo isso porque queria agradecer o fato de eu ter dito uma frase, que ele interpretou erroneamente, mas que o ajudou a voltar com a ex. – continuo.

– Estou me sentindo um lixo, porque ele deu a entender que estava me vendo de uma maneira diferente. – falo por fim.

– Ele deu a entender ou você que entendeu dessa maneira porque queria muito que ele te olhasse dessa forma? _ a psicóloga fala e eu fico muda.

– Cecília, às vezes a gente quer muito uma coisa que não enxerga nada além daquilo que a gente quer. – ela fala.

Permaneci calada recebendo várias verdades de uma profissional.

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