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CECÍLIA

Cheguei em casa depois de trabalhar igual a condenado querendo progressão de pena. Minha mais nova linha vai sair em breve e agora o trabalho está na mão do marketing, eles vão criar o layout das embalagens, a campanha para divulgação nos veículos de comunicação, enfim, a responsabilidade que me cabia já foi finalizada.

Estou ansiosa para que a linha ganhe forma e cores, porque aromas ela já tem, e muitos.

Queria muito poder dividir essa conquista com o Jonathan, mas, acho que ele não vai se interessar em me ouvir, deve estar muito ocupado com a amada.

Mas tem alguém que vai ficar feliz com essa notícia, então, resolvi ligar para contar.

- Pai? - pergunto quando a ligação é atendida, mas ninguém diz nada.

- Cecília! Oi, filha, desculpa. - ele fala depois de um tempo.

- Oi, pai. Como vocês estão? - pergunto.

- Com muita saudade de você. - ele fala com o carinho de sempre.

- Também estou com muita saudades de vocês. - digo.

- Quando você vem aqui? - ele pergunta.

- Assim que tiver um feriado eu vou. - digo.

- Venha mesmo, a gente sente muito a sua falta. - ele fala.

- Pai, hoje eu terminei uma linha de produtos e em breve ela será lançada. Liguei para contar. - digo.

- Que orgulho de você, filha. Você sempre foi tão dedicada, tão competente, eu tenho tanto orgulho. Você merece só coisas boas na vida. - ele diz.

- Obrigada, pai. Te amo muito. - falo e a gente encerra a ligação.

Conversar com meu pai sempre me faz bem, ele é meu refúgio, meu abrigo. O mundo pode desabar, mas eu sei que sempre terei para onde ir.

Por que eu me acostumei com as migalhas de carinho do Jonathan se eu recebo tanto carinho dos meus pais?

Eu só queria um amor como o do meu pai pela minha mãe. Mas para isso, esse homem precisava ser pelo menos 30% do que meu pai é.

A ligação para meu pai me fez bem, mas meu cérebro insiste em lembrar do Jonathan e inevitavelmente eu sinto uma dor por dentro.

Só queria dormir, acordar no dia seguinte e saber que tudo é passado, que eu estou livre, ou então que eu sou correspondida.

Fui para o banheiro, tomei um banho premium que eu sei que não resolverá minha cara de bicho doente, porque minha dor não é física, é emocional. O que eu sinto não se cura com analgésicos, antitérmicos ou antibióticos.

A depressão foi vindo igual a gripe, que piora bastante à noite. Comecei a me lembrar de algumas coisas, de alguns momentos e era como se eu recebesse vários socos no estômago.

Caí na besteira de ver os stories do whatsapp e lá estava o Jonathan e a Manuela tomando vinho, o anel que eu achei no sofá e até tulipas.

Logo tulipas?! Não podia ser outra flor?! Tinha que ser às minhas flores favoritas?!

Mais um trauma em minha vida, não quero mais ver uma tulipa na minha frente, nem que ela seja de ouro.

- Obrigada, Jonathan Calleri... Juanes, tulipas... O que mais você vai transformar em trauma na minha vida? - falo, olhando as fotos.

Quando chegou ao fim dos vários stories, meu coração pulava mais que pipoca quando começa a estourar.

Sei que meus batimentos estavam irregulares, acelerados demais e eu podia até ter um negócio mais sério.

Comecei a tremer e suar bastante, parecia que eu tinha corrido a maratona de São Silvestre.

O suor tomou conta do meu corpo, parecia que eu não tinha me secado. O pijama que eu vestia já estava todo encharcado.

Ainda tremendo, corri para o banheiro e liguei chuveiro. De roupa, entrei debaixo do chuveiro, fiquei lá por um bom tempo, deixando minhas lágrimas se misturarem com a água.

Só quando meu corpo começou a sentir frio, eu resolvi sair. Tirei o pijama molhado e pendurei no box do banheiro para secar.

Peguei um outro pijama e lá estava a camisa do Jonathan. Pensei no que fazer: se jogo no lixo, coloco para doação, ou mando algum motoboy entregar na portaria do condomínio.

Vou colocar para doação, junto com outras coisas que separei.

Peguei a camisa, e o demônio da tentação começou a falar à minha mente, dizendo para eu dar um último cheiro. Seria a última vez que ia sentir o cheiro dele.

Como uma pessoa que não controla os próprios atos, cheirei a maldita camisa e o cheiro dele ainda estava ali, mesmo ela tendo sido lavada.

– Eu preciso esquecer você, Jonathan. Enquanto você comemora a volta com a Manuela, eu sofro calada. – falo, olhando para a camisa dele.

Dobrei a camisa e coloquei na sacola junto com as outras coisas.

Como não estava com fome, não comi nada, ao contrário, apaguei a luz, me deitei e coloquei a minha playlist nomeada de "para chorar" que eu escuto em dias que eu preciso chorar até dormir.

Hoje é um desses dias, preciso chorar até alagar o prédio, quem sabe assim, morro afogada.

Comecei colocando Engenheiros do Hawaii, já que é pra chorar, vou chorar com classe.

Coloquei "pra ser sincero" e deixei fui deixando a música rolar, cada parte da letra era uma facada em meu peito.

“Pra ser sincero não espero de você, mais do que educação, beijo sem paixão, crime sem castigo, aperto de mãos, apenas bons amigos”

A música acabou e veio a próxima: "convite de casamento". Essa foi com um filme, um flashback de momentos meus com o Jonathan. Com a diferença de que no final, ele não vai escrever no verso do convite: "estou casando, mas o grande amor da minha vida é você".

Depois veio Léo Jaime e ele consegue me iludir cantando "a vida não presta", que diz assim: “eu pensei, a vida não presta, ele não gosta de mim". E depois cantando "a fórmula do amor" que diz assim: "ainda encontro a fórmula do amor".

Ouvi toda a minha playlist me desmanchando em lágrimas, e mesmo assim, o sono não veio.

A sorte é que amanhã é sábado e eu não tenho compromisso nenhum, então posso me dar o "luxo" de chorar até não aguentar mais.

Minha mente não estava programada para dormir, ela só sabia lembrar dele, de que dias atrás nós estávamos dormindo juntos, do quase beijo na boca, dos elogios...

Me deu um surto, fui até a cozinha e peguei tudo que é bebida alcoólica existente. Sentei no sofá e de pouco em pouco, tomei tudo, sem me importar se isso vai me trazer consequências negativas no futuro.

Bebida nenhuma vai me causar mais estrago do que a volta do Jonathan com a Manuela.

O álcool não é cruel como os homens.

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Foi daqui que pediram mais um capítulo?

Agora vou dormir, boa noite! ❤️

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