CECÍLIA
O sono não veio, meu cansaço implorava para que eu tivesse dó de mim mesma e dormisse, mas eu não consegui.
Levantei e abri a caixinha de remédio, peguei um comprimido da santa dipirona de 1g, porque o que ela não fizer pela gente, ninguém mais faz.
Ah se ela me libertasse desse sentimento... Mas, por enquanto, ela só vai me livrar da dor no corpo.
Achei minha garrafa de água que levo para o trabalho e tomei um gole para ajudar a descer o medicamento.
Peguei meu celular e a Lia tinha mandado mensagem avisando sobre um compromisso que teremos amanhã cedo na empresa.
Tirei uma foto do argentino e mandei pra ela, quem sabe assim, ela me ajudava a desvendar esse mistério todo. Porém, a única coisa que ela falou foi que ele deve ter cansado de correr atrás da Dora aventureira, e, mesmo sendo isso, era melhor eu não criar expectativas, porque se ele está conseguindo se libertar da ex, vai entrar na fase de pegar geral para "recuperar" o tempo perdido.
Eu o conheço e não sei se ele vai fazer isso não, mas é melhor eu não criar expectativas mesmo.
Vou esperar o desenrolar dessa história e o que tiver de ser, será.
O brilho do visor do celular fez o sono chegar e eu finalmente consegui dormir.
[...]
Acordei com o Jonathan olhando para mim com um sorriso indecifrável, como diz o Paulo Ricardo.
E parafraseando o RPM também: "teu corpo é fruto proibido, chave de todo pecado e para uma garota (romântica) como eu, é pura perdição".
– Bom dia, Ceci. – diz todo animado e em seguida vem me dar um beijo na bochecha.
– Bom dia, Jonathan. – falo desanimada.
– Se arruma, vou te deixar no trabalho. Enquanto você se arruma eu preparo seu café da manhã. – ele fala, muito gentil por sinal.
Eu sei que está parecendo que o Jonathan era grosso, mal educado, mas não, ele sempre se comportou como um verdadeiro cavalheiro, mas não nesse nível.
Se continuasse como antes, tudo bem, tudo dentro da normalidade.
– Eu vou com meu carro. – falo.
– Não se preocupa, eu vou te buscar depois. Você só me avisa o horário. – ele insiste.
Preciso saber o que ele está aprontando, vou ligar para a Tefi e sondar, eles sempre foram muito próximos. Se algo mudou na vida dele e ele não me contou, com certeza contou a ela.
Ele não ia aguentar, não conseguiria guardar um segredo por muito tempo. A ansiedade não ia deixar.
– Ok, Jonathan. – respondo friamente.
Levantei para ir em direção ao banheiro e ele levantou-se também. Veio com os braços abertos em minha direção e me deu um abraço.
– Você sabe que é muito importante para mim, né?! – diz olhando nos olhos.
Ele têm olhos muito expressivos, que brilham, que entregam o que ele está sentindo sem precisar fazer esforço. Sei que foi sincero o que ele disse, mas eu precisava saber qual era o sentido da frase.
– Você também. – é tudo que consigo pronunciar.
Ele ri com o que eu falei, e isso foi mais estranho ainda.
– Vou fazer seu café. – ele diz e se retira.
Fiquei imóvel, respirei fundo várias vezes antes de entrar no banheiro. Coloquei o chuveiro no morno, estava fazendo frio em São Paulo e provavelmente vai chover o dia todo.