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CECÍLIA

Mais um dia de terapia chegou e a passos de formiga com câimbra eu tenho levado a vida.

Volta e meia vejo uma publicação do casal sensação, fico triste, choro, me abalo, às vezes quero morrer, às vezes quero matar...

Acho que não vou deixar de amá-lo nunca, esse é meu castigo, minha sina.

Nossa amizade, pelo jeito, acabou quando ele começou o namoro. Eu já não sirvo mais para consolá-lo, para ouvir lamúrias, para fazer companhia, afinal, isso não acontece mais.

Isso também me deixa triste, porque tenho a sensação que eu era só uma válvula de escape.

Quando a Manuela não está aqui, eu tenho serventia, quando ela está, eu sou totalmente descartada.

Acho que a nossa amizade era unilateral, só da minha parte mesmo. Mas não me arrependo não, eu fiz o que meu coração pedia para eu fazer.

Cheguei ao consultório da psicóloga para mais uma sessão. Na última consulta ela não passou nenhum exercício, acho que foi porque eu falhei nos outros.

De novo eu fiz tudo o ritual e fiquei aguardando a minha vez. Pelo menos hoje eu ia ter algo bom para contar, apesar do desabafo sobre a forma como a Manuela quis me humilhar e, principalmente, a reação, ou melhor dizendo, a falta de reação do Jonathan.

Assim que chegou a minha vez, eu entrei e a cumprimentei como sempre faço.

– Me conta como foi sua semana. – a psicóloga fala.

– Eu tive um momento muito bom. Vou te mostrar uma foto. – conto, e eu sei que novamente eu estava feito criança.

Peguei o celular, abri a galeria e procurei a foto com o Rogério.

– Olha, esse aqui é o... – começo a explicar, mas sou interrompida.

– Rogério Ceni. – Taís completa e eu olho admirada.

Ela não é ligada em futebol, acho que desse mundo só sabe quem é o Pelé e o Neymar, mas esse último, é mais pelas polêmicas.

– Fui pesquisar a história dele para poder entender porque você é fã. – ela diz e eu rio.

– Obrigada. – é tudo que eu falo.

– Como você o conheceu? – ela pergunta e essa é a parte chata da história.

– Eu estava no shopping comprando um presente para uma amiga. Enquanto aguardava a vendedora ir buscar o produto, o cara que eu gosto e a namorada entraram. Ela me constrangeu falando que eu nunca namorei e ainda disse que minhas roupas eram cafonas. Eu fiquei mal, mas foi pelo fato dele, que se diz meu amigo, ficar rindo do que ela disse. Eu fiquei tremendo e nervosa, a ponto de errar a senha do cartão. – começo a contar.

– Quando a vendedora me entregou o presente, eu saí andando depressa e acabei esbarrando em uma pessoa, e era o Rogério. – termino.

– E como você se sentiu quando viu que era ele? – a psicóloga pergunta.

– Fiquei em choque. Ele percebeu que eu não estava bem e se ofereceu para me levar até o atendimento médico, mas eu recusei. Pedi apenas um abraço e aquele gesto dele me fez um bem tão grande. Era como se eu tivesse recebido uma massagem na alma. – digo com os olhos cheios de lágrimas.

– Você se sentiu feliz, importante? – ela pergunta.

– Sim, porque ele foi atencioso. E eu não esperava conhecê-lo, ainda mais naquela situação. – digo.

– Cecília eu estou orgulhosa de você. – ela diz e eu sorrio.

– Você passou por uma situação que te deixou triste e por uma que te deixou feliz. E eu percebi que você deu valor ao que foi bom. Você está me contando toda contente que realizou um dos sonhos que você escreveu naquele papel. – ela começa.

– Sei que doeu em você ouvir e ver tudo que aconteceu anteriormente, mas quando a coisa boa veio, mesmo você triste, magoada, machucada, você aproveitou. E agora você tem uma lembrança linda desse dia. – ela fala.

– É. Eu às vezes lembro das palavras dela, principalmente quando vou me arrumar. Você acha que eu tenho que mudar, que meu estilo é brega, que eu sou mal vestida? – pergunto.

– Você se sente mal com a forma que você se veste? – ela me pergunta.

– Não. – digo.

– Então por que considerar mudar sua forma de vestir, só porque uma pessoa discorda? – ela diz e eu concordo.

– Só considere mudar alguma coisa quando isso te incomodar. Mas nunca para agradar outra pessoa. – ela fala.

– É que muitas vezes eu pensei que o Jonathan não gostava de mim porque eu não tinha o padrão da namorada dele. – falo.

– Eu te entendo, a gente fica procurando os motivos para justificar, porque isso nos causa uma falsa sensação de alívio, muitas vezes. Só que em outras, nos faz sentir culpa por não ser igual. – ela fala.

– Mas ainda bem que você não mudou para tentar agradá-lo, porque não ia adiantar. Quando alguém se apaixonar por você, seja essa pessoa Jonathan, João, José, seja lá quem for, ela não vai se importar com nada disso. Ela vai gostar de você do jeito que você é. – a psicóloga fala, eu vou ouvindo e tentando fixar tudo na minha mente.

Não consegui dizer nada, mas estava torcendo muito para que ela estivesse certa.

– Você já viajou sozinha? – ela pergunta, mudando totalmente o foco da conversa.

– Não. Sempre viajei acompanhada. – respondo.

– Experimenta viajar só pelo menos uma vez, não precisa ser para longe não, mas é importante que seja só. – ela sugere.

– Tudo bem. – respondo.

Na sessão de hoje ela recomendou que eu fizesse exercícios físicos para me ajudar a controlar as crises, além de recomendar a viagem sozinha.

Saí um pouco mais aliviada, acho que finalmente está começando a fazer algum efeito.

Assim que entrei no carro para voltar para casa, recebi uma mensagem da Tefi. Estranhei, porque já faz tempo que ela não fala comigo.

“Ceci, estaremos no Brasil amanhã. No sábado vamos almoçar juntos. Vamos com a gente?” – dizia a mensagem dela.

Só se eu estivesse doida para fazer uma besteira dessas comigo mesma.

Já pensou que auto-punição sair com Jonathan, Manuela e Cia, todo mundo feliz e eu fingindo uma felicidade que não existe.

Eu não estou nos meus melhores, mas precisaria me odiar muito para aceitar ir para esse almoço.

“Oi, Tefi. Que bom que vocês vão vir. Eu tenho um compromisso nesse dia, estarei viajando.” – respondo.

Não tenho viagem programada, mas assim que chegar em casa eu vou programar.

Não quero vê-los como uma família feliz.

“Que pena. Jonny pediu para te chamar.” – ela diz.

Li a mensagem dela e tive ódio. Aquele palhaço deve está querendo exibir a felicidade, mas eu não vou dá palco para palhaço.

Guardei o celular e dirigi de volta para minha casa.

Assim que cheguei, joguei minha bolsa em cima do sofá e fui procurar um destino próximo de São Paulo que eu pudesse ir de carro.

O lugar mais próximo e com praia, é Bertioga. Então, procurei um hotel para fazer uma reserva e depois de alguns minutos pesquisando, achei um. Entrei em contato e fiz a reserva para dois dias.

Tudo pronto com a hospedagem, fui arrumar logo a minha mala. Como eu vou sozinha e não vai ter ninguém conhecido, vou me permitir, vou me soltar e aproveitar a minha própria companhia.

Coloquei dois biquínis, duas saídas, roupas para o dia e para a noite, toalha, lençol e roupa íntima. Arrumei a necessarie e também uma bolsa com calçados.

Terminei tudo, tomei banho e fui até a cozinha preparar alguma coisa para jantar.

Estava me sentindo leve, sem apertos no coração e principalmente, com vontade de fazer algo.

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