Apenas tente

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Lian ficou em silêncio por um momento, como se sentisse o peso do que eu carregava. A presença dele ali, no início, era insuportável. Só o fato de ele estar aqui me fazia querer gritar, mas, ao mesmo tempo, era quase um alívio. Não que eu fosse admitir isso. Não agora.

Ele se aproximou lentamente, os passos cuidadosos, quase hesitantes. Como se estivesse prestes a quebrar algo. Ou talvez fosse eu quem estivesse prestes a quebrar. Lian sempre teve essa habilidade de aparecer nos momentos mais delicados. Nunca soube se era uma maldição ou um dom.

Aruna... - ele começou, a voz baixa, como se estivesse tentando medir o impacto das palavras antes mesmo de dizê-las. Eu odiava isso. Odiava o fato de que ele me conhecia bem o suficiente para saber o que estava acontecendo, mesmo sem que eu dissesse nada.

Virei o rosto para longe dele, não queria que ele visse meu estado. Mas ele já sabia. Claro que sabia. Ele sempre sabe.

O que você quer, Lian? - perguntei, a voz mais áspera do que eu esperava. Minhas mãos apertavam o chão coberto de folhas, o frio da terra se infiltrando nos meus ossos. Eu odiava o jeito que minha voz falhou um pouco no final, mas continuei firme. Não tinha espaço para fraqueza agora.

Ele não respondeu de imediato. Podia sentir que estava lutando para encontrar as palavras certas, mas talvez não houvesse palavras certas para o que eu estava sentindo. No final, ele suspirou e sentou-se ao meu lado, em silêncio. Não tentou me tocar, o que eu agradeci. Mas o calor de sua presença era inegável. Como se ele estivesse disposto a ficar ali até que eu estivesse pronta para falar. Ou para gritar. Ou para desmoronar.

Eu não vou te perguntar se está bem - ele disse suavemente, olhando para o lago à nossa frente. - Porque eu sei que não está.

Aquelas palavras, simples como eram, caíram sobre mim como uma maré. Finalmente, alguém que não tentava me encher de falsas promessas ou me acalmar com palavras vazias. Ele sabia. E não tentou fazer com que eu me sentisse de outra forma.

Você sempre sabe, não é? - murmurei, sem olhar para ele. - Como se sempre estivesse me esperando quebrar.

Ele sorriu, um sorriso pequeno, triste. - Não estou esperando você quebrar, Aruna. Estou só... aqui. Para quando precisar.

Essas palavras me atingiram de forma inesperada. Ele não me oferecia nada além de sua presença. Nada além do silêncio que eu precisava. E, por mais que eu quisesse afastá-lo, algo dentro de mim hesitava.

E o que te faz pensar que eu preciso de você? - desafiei, meu tom mais severo do que eu realmente sentia.

Nada - ele respondeu sem hesitar. - Mas eu estou aqui de qualquer jeito.

O silêncio que seguiu foi pesado, mas não desconfortável. Meus olhos se fixaram no lago, tentando encontrar um ponto de paz naquele caos dentro de mim. Não havia respostas ali, mas pelo menos havia algo estável, mesmo que fosse a imensidão do nada.

Eu descobri hoje - confessei baixinho, como se as palavras fossem escorregando antes que eu pudesse pará-las. - Descobri que meus pais foram assassinados. E que todos eles sabiam. Todos, menos eu.

Lian ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que eu disse. Então, com um tom firme, ele falou:

Isso não muda quem você é. Ou o que você significa para eles.

Eu ri, mas era uma risada amarga, cheia de dor. - Não muda? Eles me traíram, Lian. Me esconderam a verdade sobre a única coisa que eu ainda tinha. Como você pode dizer que isso não muda nada?

Ele olhou para mim, os olhos cheios de algo que eu não conseguia decifrar completamente. - Não estou dizendo que não dói. Só estou dizendo que, não importa o quanto as coisas mudem ao redor, você ainda é você. Forte. Teimosa. Aruna.

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