Subconsciente

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Desci as escadas lentamente, sentindo o frio da madeira sob meus pés. A cada passo, minha respiração ficava mais pesada. O silêncio que vinha do salão de chá era quase palpável, e eu sabia que algo estava errado. Quando cheguei ao último degrau, eles estavam todos lá. Sr. Kabir, Tio Hopper e Tia Roselin. Me observando. Como se esperassem que eu fizesse alguma coisa. Como se eu fosse a última peça de um quebra-cabeça que eles não queriam montar.

Respirei fundo, tentando encontrar a calma que parecia sempre me escapar. Mas não havia espaço para calma agora. Havia apenas perguntas. Perguntas que queimavam na minha garganta e que eles precisavam responder.

- Eu quero respostas - minha voz saiu mais firme do que eu esperava, e eu me mantive de pé, encarando-os. - E vocês vão me contar exatamente o que aconteceu.

O silêncio que se seguiu foi como uma onda esmagadora. Todos os olhares se desviaram. Sr. Kabir olhou para o chão, Tia Roselin segurava a xícara com tanta força que suas juntas ficaram brancas, e Tio Hopper simplesmente me encarava, como se estivesse preso em alguma lembrança distante.

- Não é o momento, Aruna - Tio Hopper começou, mas eu o interrompi, sentindo a raiva crescer dentro de mim.

- Eu quero falar agora! - Minha voz reverberou pelas paredes, e senti meu corpo tremer, mas continuei. Eu não podia mais esperar.

Eles não disseram nada. Apenas me encaravam, como se estivessem decidindo se deveriam me contar a verdade ou continuar me protegendo. Mas eu já estava farta disso. Eu sabia que algo estava sendo escondido de mim, algo grande. E eu estava prestes a descobrir o que era.

- Meus pais... - comecei, sentindo a garganta apertar. - Como eles realmente morreram? Foi um assassinato, não foi?

O silêncio que veio em resposta foi a confirmação de tudo. Ninguém precisou dizer nada. Eu vi no rosto de Tio Hopper, no jeito que ele desviou o olhar. Sr. Kabir suspirou, e Tia Roselin parecia prestes a desmoronar.

Senti meu peito apertar e uma onda de emoções inundar minha mente. Eu sabia que a resposta estava ali, naqueles olhares vazios, naquela hesitação.

- Por favor - pedi, a voz mais baixa agora, quase um sussurro. - Me contem a verdade.

Sr. Kabir foi o primeiro a falar, sua voz embargada, carregada de pesar.

- Seus pais estavam recebendo ameaças, Aruna. Eles te mandaram para cá porque achavam que seria mais seguro para você.

Ele olhou para mim com olhos tristes, mas aquilo não era suficiente. Eu queria mais. Queria saber tudo.

- Então eles foram assassinados? - repeti, sentindo minha voz quebrar no final.

- Sim - Sr. Kabir respondeu, o peso da palavra caindo sobre mim como uma pedra. - Eles foram assassinados, e nós não conseguimos fazer nada para impedir.

Eu senti o chão desaparecer debaixo dos meus pés. Tudo ao meu redor parecia desmoronar. Eles sabiam. Todo esse tempo, eles sabiam que meus pais haviam sido assassinados, e ninguém me contou. Ninguém achou que eu merecia saber.

- Vocês sabiam... e me deixaram no escuro? - sussurrei, mal acreditando no que estava ouvindo. Minha voz estava embargada pelas lágrimas que agora eu não conseguia mais segurar.

Tio Hopper finalmente olhou para mim, o rosto endurecido de arrependimento.

- Seus pais acharam que seria melhor assim. Eles queriam que você estivesse segura.

- Segura? - minha voz explodiu de novo, o nó em minha garganta rasgando com a raiva. - Vocês me esconderam a verdade! Eles morreram, e eu... eu passei essas últimas semanas sem saber! Vocês me traíram!

Eu podia ver a culpa nos rostos deles. Eles não tinham palavras para se defender, porque sabiam que estavam errados. Sabiam que tinham me deixado na escuridão, e agora era tarde demais.

- Eu odeio vocês - sussurrei, a raiva e a dor misturadas. - Odeio todos vocês por isso.

Virei-me, incapaz de olhar para eles por mais um segundo. Saí da sala antes que pudessem tentar me parar, não que eles fossem tentar. O som de meus próprios passos ecoava pela casa enquanto eu saía, minhas lágrimas escorrendo descontroladamente.

Eu não sabia para onde estava indo, mas isso não importava. Tudo o que eu sabia era que não podia ficar ali. Não com eles. Não com as mentiras e segredos que haviam me sufocado por tanto tempo.

A única coisa que restava agora era a necessidade de respostas. E, se eles não podiam me dar isso, eu encontraria por mim mesma. Mesmo que tivesse que enfrentar a verdade sozinha.

Eu andava pela floresta, entre árvores e musgos, com a cabeça a mil. As lágrimas escorriam sem pedir permissão, mas não fazia diferença. Nada fazia. Quanto mais eu tentava afastar os pensamentos, mais eles me empurravam para frente, como se eu não tivesse escolha, como se andar fosse a única maneira de não desmoronar de vez. Mas eu já estava quebrada, não estava?

Nem sei quanto tempo eu andei. Quando dei por mim, estava de frente para um lago pequeno, sereno, como se o mundo não estivesse desmoronando dentro de mim. Eu caí no chão, sem me preocupar em ser delicada, me encolhendo perto de uma árvore. O vestido ficou sujo? Que se dane. Eu devia estar horrível, com o rosto inchado e os olhos vermelhos, mas e daí? Não importava mais.

O sol estava baixo, devia ser umas cinco horas. Fazia um friozinho, o tipo de frio que te cutuca e faz questão de lembrar que você está ali, viva. Eu odiava isso. O lago, com aquelas flores roxas ao redor, era bonito... mas e daí? Beleza nunca resolveu nada.

Foi aí que eu ouvi o barulho. Alguma coisa se mexendo na vegetação. Meu corpo travou por um segundo, o medo subindo pela espinha. Talvez fosse uma fera. Que fosse. Seria o fim desse pesadelo, não seria? Eu me encolhi mais, sem me mexer. Que diferença faria?

Olhei de novo pro lago, pros peixes coloridos que nadavam despreocupados, vivendo suas vidas simples e perfeitas, enquanto eu... estava aqui, sufocada.

Então, uma voz que eu conhecia bem cortou o silêncio. Ele.

Claro que ele tinha que aparecer, como sempre, na hora mais inconveniente. Eu nem me mexi. Só olhei para ele, parada, enquanto o peso de tudo caía sobre mim.

Por que ele sempre aparece quando eu menos quero? Por que justo agora Lian?

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Curiosidade

O lago que Aruna descreve sim ele existe. A cidade que o livro passa é em Saint Jocobs e esse lago se localiza lá.

O Sr.Kabir é mordomo da família dês de que Aruna nasceu.

E em breve vocês vão descobrir um novo membro dessa família que até agora não foi falado.

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