A água escorria pelo meu rosto e pelo cabelo, encharcando minhas roupas, mas isso era o menor dos meus problemas. Lian também estava ensopado, o cabelo grudado na testa, mas ele não parecia se importar. Suas costas largas bloqueavam a porta, e por um breve segundo, me senti presa.
Ele olhou para mim, mas não disse nada. O ar entre nós parecia carregado, não só pela umidade, mas pela tensão que crescera desde o momento em que ele apareceu na floresta. Eu queria falar, gritar, acusá-lo de ser parte de tudo o que estava errado na minha vida, mas as palavras não saíam.
— Vou pegar uma toalha — ele disse finalmente, quebrando o silêncio.
Antes que eu pudesse responder, ele já estava sumindo pelo corredor. Fiquei ali, no meio da sala, ainda pingando, olhando para o espaço ao meu redor. A casa de Lian era simples, mas aconchegante, com móveis de madeira escura e um grande tapete felpudo no chão. Não era a casa de um homem que buscava impressionar, mas sim um lugar que refletia quem ele era: prático, direto, sem muitas complicações.
Ele voltou com duas toalhas nas mãos e me jogou uma. Peguei sem protestar, secando o rosto e o cabelo. O tecido áspero me trouxe um pequeno alívio, mas minha mente continuava rodando, cheia de perguntas, raiva e um profundo cansaço.
— Você está com frio? — ele perguntou, a voz baixa, como se estivesse tentando medir a temperatura da situação.
Balancei a cabeça, não confiando em mim mesma para falar. Claro que eu estava com frio, mas o gelo que me consumia vinha de dentro. Ele se aproximou devagar, pegando meu braço com uma gentileza que contrastava com a força que eu sabia que ele possuía.
— Aruna — sua voz carregava uma preocupação que eu não queria reconhecer. — O que você quer fazer? Se quiser que eu te leve de volta, eu levo. Mas, se precisar de um tempo, pode ficar aqui. Sem pressão.
Olhei para ele, realmente olhei, e pela primeira vez naquela noite, não vi o Lian que eu tanto odiava por sempre estar lá, sempre saber. Vi alguém que estava tentando. Alguém que, talvez, estivesse tão perdido quanto eu.
— Eu não sei o que eu quero — confessei, sentindo o peso daquelas palavras enquanto saíam da minha boca.
Ele assentiu, como se entendesse perfeitamente. E talvez entendesse mesmo. Lian sempre teve essa maldita capacidade de me decifrar, mesmo quando eu não conseguia me entender.
Ele se afastou e foi até uma pequena lareira no canto da sala, começando a acender o fogo. Eu o observei em silêncio, o crepitar das chamas lentamente aquecendo o ambiente e, de certa forma, aquecendo também o gelo que havia se formado dentro de mim. Ele se sentou no chão, perto da lareira, e fez um gesto para que eu me juntasse a ele.
Sentei-me ao lado dele, a distância entre nós pequena, mas significativa. O calor da lareira fazia meus músculos relaxarem, mas minha mente ainda estava longe de qualquer sensação de paz.
— Por que você veio me procurar hoje? — perguntei finalmente, sem conseguir mais segurar a pergunta que rodava na minha cabeça desde que ele apareceu na floresta.
Lian ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nas chamas dançantes. Quando finalmente falou, sua voz estava baixa, quase como se ele estivesse falando mais para si mesmo do que para mim.
— Eu sabia que você precisava de alguém. Mesmo que não quisesse admitir isso.
Senti um nó se formar na minha garganta, mas forcei um riso, um som amargo que não combinava com a suavidade da situação.
— E quem disse que eu preciso de você?
Ele não desviou o olhar das chamas, mas um sorriso triste passou pelos seus lábios.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Nosso Segredo
RomanceAruna é uma jovem indiana de 19 anos que vai passar um tempo na casa dos tios dela no Canadá ela sofre muito preconceito por causa de suas roupas e seu jeito de ser ela odiava aquele lugar e queria voltar o mais rápido possível para casa . O que e...