Eu sinto muito..

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Thaís Reis
São Paulo

Eu encarava a porta da sala de reunião, meu coração martelando no peito. Não tinha nem me recuperado do cansaço do evento de ontem e agora aqui estava eu, prestes a acabar com um noivado que nem meu era. Bruna havia planejado tudo meticulosamente, e eu não podia acreditar que tinha concordado com isso. Como foi que deixei essa situação chegar até aqui?

Respirei fundo, tentando ganhar forças antes de empurrar a porta. Mas nada podia me preparar para o que eu vi assim que entrei.

Raphael estava sentado à mesa, e ao lado dele, um homem mais novo, que parecia uma versão mais jovem dele. Meus olhos se arregalaram no mesmo instante.

— Thaís, esse aqui é meu irmão, Gabriel. Ele veio pra ajudar a escolher as coisas do casamento — Raphael disse, com um sorriso tranquilo. Meu coração parou.

Meu Deus... Eu ia terminar o noivado do cara na frente do irmão dele?

Engoli em seco, sentindo minhas pernas ficarem mais fracas. Respirei fundo novamente, tentando disfarçar o nervosismo que me subia pela garganta. Eu estava literalmente num labirinto sem saída.

— Ah, oi, Gabriel — falei, tentando soar casual, mas minha voz parecia arrastada. — É... acho que não é bem sobre isso que a gente vai falar hoje.

Raphael franziu o cenho, confuso, e eu percebi que precisava ser mais clara. Meus lábios tremeram, mas eu sabia que não podia fugir mais.

— Na verdade... — comecei, olhando para a mesa e evitando o olhar direto deles. — Bruna pediu para que eu viesse porque... porque ela quer encerrar o noivado.

O silêncio que seguiu minhas palavras foi ensurdecedor. Raphael ficou estático, seus olhos arregalados de choque. Gabriel, ao lado dele, também parecia em choque, mas se recuperou primeiro, e com um riso amargo, murmurou:

— Claro, Bruna não teria nem a cara de pau de terminar ela mesma, então manda a empresária dela. Que coisa ridícula.

Aquela onda de culpa, que eu já vinha sentindo desde que entrei na sala, me atingiu como um tsunami. Raphael parecia congelado, e eu não sabia o que fazer ou dizer para amenizar a situação. Sentia que estava num lugar onde não pertencia, uma mensageira indesejada numa tempestade emocional que não era minha.

Me aproximei de Raphael, hesitante, mas determinada a tentar consolar de alguma forma.

— Raphael... eu sinto muito. Eu juro que isso não foi fácil pra mim também. — Minhas palavras pareciam frágeis, e eu sabia que não podiam realmente aliviar o impacto que ele acabara de receber.

Raphael me olhou, mas não disse nada, apenas baixou os olhos, parecendo perdido. A dor nos olhos dele me atingiu com força. Como eu, uma pessoa de fora, estava ali destruindo o que ele provavelmente ainda via como uma esperança?

Eu queria fazer mais, dizer algo que fizesse aquilo tudo ser menos cruel, mas no fundo sabia que não havia palavras que pudessem consertar o que acabava de ser quebrado.

Raphael levantou a cabeça, sua expressão ainda fria, e perguntou:

— Quando foi que Bruna decidiu isso?

A pergunta saiu de seus lábios como uma faca, e eu percebi que ele estava se esforçando para manter a calma. A frieza em sua voz contrastava com a tempestade que eu sentia dentro de mim. Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos antes de responder.

— Ela... ela me contou na semana passada — comecei, sentindo meu coração acelerar. — Mas, para que as coisas não saíssem na mídia tão de repente, eu convenci Bruna a adiar o pedido.

The Secret- Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora