Só pensa nisso..

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Thaís Reis
São Paulo

Eu sempre gostei dos sábados. Talvez porque fossem dias mais leves no escritório, longe das reuniões e das correrias da semana. Depois das 14:00, eu já estava liberada, então o dia parecia passar numa tranquilidade gostosa. E, quando meu pai vinha me visitar, tudo ficava ainda melhor. Ele quase não vem pra São Paulo desde que ele e minha mãe se mudaram para Osasco, mas, segundo ele, estava com saudades da filha caçula.

Ah, é verdade, nunca comentei aqui, né? Sou a caçula de três irmãos. Primeiro veio o Igor, que já tem sua família e mora fora. Depois, a Samara, que, segundo ela, está "quase entregando o casamento pra Deus" e mora no Rio de Janeiro. E, bom, tem eu, a filha que vocês já conhecem.

Meu pai, Henrique, tirou os olhos do computador dele e me encarou.

— E aí, filha, como estão as coisas por aqui? Precisa de alguma coisa?

Soltei uma risada, balançando a cabeça.

— Pai, já tenho 29 anos, sabia? Eu sou bem grandinha, com estabilidade e tudo, tá?

Ele riu, acompanhando minha risada, balançando a cabeça com aquele olhar meio incrédulo, como se eu ainda fosse a menininha que ele levava pra escola.

— E eu sou seu pai, Thaís, — respondeu ele, dando de ombros. — Cuidar de você não tem idade, viu?

Sorri, sentindo aquele carinho todo. É, no fundo, ele sempre ia me ver como a caçulinha.

Estava conversando com meu pai quando Ana Júlia deu duas batidinhas na porta e entrou, entregando um envelope com um sorriso enigmático. Franzi o cenho, surpresa.

— Obrigada, Ana Júlia — disse, e ela se retirou logo em seguida.

Comecei a abrir o envelope, sentindo meu pai se inclinar levemente na cadeira, curioso. Ri ao notar a expressão dele, mas o sorriso sumiu assim que vi o conteúdo.

Duas credenciais para o jogo do Palmeiras no domingo. Não acredito. Ele realmente fez isso. Eu tinha dito que não iria!

Meu pai levantou uma sobrancelha, observando.

— E então? Como você conseguiu isso, Thaís? Tá agenciando algum jogador do Palmeiras e não contou nada?

Por um segundo, fiquei sem saber o que responder. Não tinha como explicar de onde exatamente vieram essas credenciais sem levantar mais perguntas.

— Ah, pai, nem vou usar isso, pra começo de conversa.

Ele me olhou como se eu tivesse dito a maior bobagem do mundo.

— Como assim não vai usar? Thaís, é um crime deixar isso aí sem uso! Aliás, até vou com você, pronto.

Revirei os olhos, meio rindo, meio nervosa, mas por dentro já me preparando para a cena que seria.

— Eu não vou, pai — insisti, tentando parecer firme, mas o olhar confuso dele me deixou inquieta.

— Como assim você não vai? Você é palmeirense! — ele respondeu, claramente sem entender minha decisão. Ele sempre soube da minha paixão pelo time, e eu também sabia que ele estava animado para assistir ao jogo ao meu lado.

Mas a verdade é que eu não conseguia encontrar uma maneira de explicar que estava evitando o ex-noivo da minha cliente, alguém com quem eu havia me envolvido de forma inesperada. Não queria causar um desconforto desnecessário nem mencionar Raphael para meu pai.

— Pai, não é só um jogo. É complicado — acabei admitindo, me sentindo um pouco frustrada.

— Complicado como? — Ele inclinou a cabeça, genuinamente curioso.

The Secret- Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora