Você fica melhor calada.

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Thaís Reis
São Paulo

O caminho até o meu apartamento foi tranquilo, com um sertanejo tocando baixinho ao fundo. Fiquei perdida em meus pensamentos, admirando a paisagem que passava pela janela enquanto tentava me concentrar nas letras das músicas. Quando chegamos, Raphael parou o carro e sorriu para mim.

— De nada pela carona — disse ele, com aquele jeito leve que parecia ter sido o tema do nosso dia.

Agradeci, mas, curiosamente, não desci do carro. Havia algo ali, uma sensação estranha que me fazia hesitar. Olhei para ele, para aquele Raphael que parecia ser outra pessoa. A tarde inteira havia sido tão leve e divertida, uma dinâmica que eu não lembrava de ter com ele antes. Era como se ele tivesse se libertado de qualquer pressão que o cercava.

Talvez fosse a diferença que sentia entre esse Raphael e aquele que sempre aparecia quando estava com Bruna. Aqui, agora, era como se ele estivesse mais relaxado, mais autêntico. Os olhos dele pareciam brilhar, e, por um momento, me perdi naqueles detalhes. Era como se eu estivesse redescobrindo um lado dele que não conhecia, ou que talvez estivesse escondido.

— Você vai descer ou vai ficar aí para sempre? — ele brincou, e a risada dele trouxe-me de volta à realidade.

Eu sorri, mas ainda hesitei. Não sabia o que poderia acontecer se eu realmente descesse.

Enquanto olhava para Raphael, uma lembrança me veio à mente. Minha avó materna sempre me dizia, desde pequena e até mesmo quando já era adulta, que se quisesse fazer algo, não deixasse para o outro dia. Mesmo que depois pudesse me arrepender. Essa frase ecoava em minha cabeça como um mantra que não poderia ignorar.

Naquele instante, com Raphael ali na minha frente, sorrindo para mim, tomei coragem. Encarei-o por um momento que pareceu eterno, e sem pensar duas vezes, puxei-o pela gola da camisa e o beijei suavemente. O toque dos nossos lábios foi tranquilo, um instante que me fez esquecer de tudo ao nosso redor. Esqueci que era a empresária da ex dele, esqueci de todos os problemas que esse beijo poderia causar. O que importava era aquele momento, pura e simplesmente.

Era como se o tempo tivesse parado. A sensação do beijo era doce, leve, e tudo o que eu queria era aproveitar aquilo, sem me preocupar com as consequências. O mundo ao nosso redor se desvanecia, e tudo que restava éramos nós dois, presos em uma bolha que só existia ali, naquele carro.

Quando finalmente nos afastamos, a realidade voltou com força total. Uma onda de arrependimento me atingiu, e rapidamente coloquei a mão na boca, pedindo desculpas.

— Desculpa, não podia ter feito isso... Eu sou a empresária da Bruna, e... — minha voz foi se perdendo, as palavras se atropelando enquanto tentava justificar o que tinha acabado de acontecer.

Mas antes que eu pudesse terminar meu raciocínio, Raphael me cortou, inclinando-se novamente e me dando mais um beijo. O calor da sua boca nos meus lábios me fez derreter. Todos os meus medos e preocupações se dissiparam com aquele toque.

Deixei-me levar, entregando-me ao momento. Era como se tudo que havia entre nós – a tensão, as inseguranças – desaparecesse naquele beijo. Em vez de resistir, eu me permiti sentir, me entregando ao que parecia ser uma conexão genuína. E ali, dentro daquele carro, percebi que até poderia ser errado.. porém as vezes é importante errar certo?

Após o beijo, Raphael se afastou e soltou uma risada, dizendo:

— Você fica melhor calada.

Revirando os olhos, percebi que era hora de finalmente descer do carro. Antes que eu entrasse no prédio,ele abaixou o vidro e, com aquele sorriso encantador, declarou:

The Secret- Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora