Já tá marcado, né?

701 104 178
                                    

Thaís Reis
São Paulo

Domingo era um dia sagrado pra mim e pra Luana; a gente sempre almoçava juntas, geralmente aqui em casa. Ela trazia o cardápio, e eu ficava com a execução, já que mandava melhor na cozinha. Hoje o prato era risoto, e eu estava concentrada cortando o filé ao som de Matheus e Kauan tocando ao fundo, cantarolando enquanto cozinhava. Mas tinha algo estranho... Luana estava calada demais no sofá. E Luana nunca fica calada demais.

— O que você tanto faz aí nesse celular? — perguntei, lançando um olhar suspeito.

Ela levantou os olhos, rindo.

— Nada, nada demais...

Deixei a carne de lado e me aproximei dela, mas foi só chegar perto pra perceber que aquele celular... não era o dela.

— Luana, você tá mexendo no meu celular?! — arremessei a pergunta já preocupada, pegando o aparelho das mãos dela. E aí meus olhos saltaram ao ver a conversa aberta com... Raphael. A última notificação dizia:

"Te busco às 19:00 então."

— Luana! O que você fez?! — gritei, a voz já um tom acima, e ela levantou as mãos, pedindo calma.

— Calma, Thaís! Ele só mandou uma mensagem perguntando se você ia fazer alguma coisa hoje, e aí eu só respondi que não... — Ela disse, rindo, mas eu estava em choque. — Aí ele te convidou pra Casa Cor de São Paulo, aquela exposição de arquitetura que você tanto queria ir. Então pensei, juntei o útil ao agradável...

— Luana, não era pra você ter feito isso! — protestei, já em pânico. — E se a Bruna descobrir? Já pensou no escândalo?

— Relaxa, Thaís! — Ela balançou a cabeça, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Bruna quem terminou com ele, lembra? E outra, é só um passeio, nada demais.

Suspirei, nervosa.

— Nada demais? Com o ex-noivo dela?

Eu não conseguia acreditar. Voltei, meio que no automático, pra bancada, tentando focar no risoto de novo, mas minhas mãos estavam meio trêmulas. O que Luana tinha feito? Nem eu sabia se queria ver o Raphael hoje! Ela se sentou num dos banquinhos da bancada, me olhando com aquele sorrisinho sapeca e falando:

— Thaís, pelo amor, você não pode desmarcar! Vai ser fofo... e sério, o que tem demais? Vocês nem ficaram depois daquele dia no show, né?

A frase dela me fez travar na mesma hora. Eu não estava preparada pra falar do beijo... o beijo de ontem... o beijo que fui eu que puxei.

Ela sacou na hora, o que só a Luana mesmo pra fazer, e arregalou os olhos.

— Vocês ficaram?! — A voz dela saiu num grito.

Suspirei, meio sem jeito, e acabei confessando, quase sem olhar pra ela.

Pronto, foi o que bastou. Luana começou a dar pulinhos no banquinho, toda animada, como se eu tivesse contado o acontecimento do ano.

Luana me olhava com aquele brilho nos olhos, ansiosa, e foi logo perguntando, cheia de curiosidade:

— Tá, mas como foi? E onde?

Eu suspirei, tentando me concentrar na carne na frigideira, que já estava quase no ponto. Falar sobre o que tinha acontecido me deixava morta de vergonha, mas eu sabia que não ia escapar.

— começou no aniversário... a vibe tava legal, tranquila. Ele parecia... sei lá, outra pessoa. Mais leve, mais engraçado... — admiti, revirando os olhos de leve. — Aí, na hora de me deixar em casa, eu pensei, pensei... e no impulso, puxei ele pra um beijo.

The Secret- Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora