Capítulo Vinte e Três

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I'm the problem

— Anti-Hero, Taylor Swift

~ ☆ ~

O som suave do monitor cardíaco ecoava na pequena sala, marcando o tempo com uma regularidade quase reconfortante. Era um contraste gritante com a tempestade dentro de Yasmin. Ela estava ali, sentada na beirada da cama, os dedos trêmulos entrelaçados aos de Vanessa, como se esse gesto pudesse impedir que ela deslizasse para um lugar onde Yasmin não poderia segui-la. A palidez de Vanessa, tão diferente da mulher vibrante e determinada que ela conhecia, deixava uma dor constante em seu peito.

Cada batida do monitor fazia Yasmin reviver as cenas do galpão: o estalo seco dos tiros, o grito preso na garganta que ela mal reconhecia como seu, e Luigi surgindo das sombras, o rosto torcido em uma expressão que nunca deveria ter existido. Ele era um rosto familiar, alguém que nunca deveria ser uma ameaça. Mas naquele instante, sob as luzes fracas e o cheiro metálico do sangue, ele se transformou em uma figura quase irreal, um pesadelo que virou verdade.

Yasmin apertou a mão de Vanessa com força. Queria, com todas as fibras do seu ser, que aquele contato fizesse algum milagre, que trouxesse de volta a mulher que tantas vezes a havia resgatado de si mesma. A lembrança de Giovanna surgindo a tempo de impedir que o pior acontecesse ainda estava viva em sua mente. Ela viu o momento exato em que Vanessa desabou, a mancha escarlate se espalhando por sua camisa. O som do tiro, a voz de Giovanna gritando ordens, e então, Luigi caindo, derrotado.

Mas não era Luigi quem preenchia seus pensamentos agora; era Vanessa. O brilho nos olhos dela, sua risada baixa, a maneira como seus dedos sempre sabiam onde tocar para acalmar Yasmin. E agora, estava ali, imóvel, cada respiração uma luta invisível.

— Vanessa... — sussurrou, a voz quebrada, quase engolida pelo silêncio pesado. — Por favor, volte para mim.

Os médicos haviam dito que o tiro não atingira nenhum órgão vital, mas a perda de sangue fora intensa. Agora, tudo o que restava era esperar. Yasmin odiava esperar. Cada minuto era uma eternidade, um peso que ela sentia nas pálpebras, no peito, nas mãos que não conseguiam parar de tremer. Desde que chegaram ao hospital, ela não se permitiu descansar. Toda vez que fechava os olhos, a cena voltava como um filme perturbador: Vanessa no chão, a vida escorrendo dela.

Giovanna passava com frequência, tentando fazer com que Yasmin descansasse, oferecendo palavras de conforto que batiam e caíam como gotas de chuva em uma superfície impermeável. Yasmin não queria ouvir nada, não queria pensar em nada que não fosse o momento em que Vanessa abriria os olhos e tudo estaria bem de novo. A culpa a sufocava. Ela queria ter feito mais, queria ter sido a escudo que Vanessa sempre foi para ela.

— Me desculpe... — a voz dela saiu em um fio de voz, com o som do monitor preenchendo as pausas. — Eu sinto tanto, Vanessa...

O silêncio respondeu, quebrado apenas pelo som constante das máquinas. Yasmin acariciou os cabelos de Vanessa, buscando um sinal, um tremor, qualquer coisa que pudesse significar esperança. Mas nada aconteceu. Só o som estável, monótono, enquanto a sala continuava envolta na penumbra, e ela se agarrava à fé de que, em algum lugar, Vanessa lutava para voltar para ela.

Os dias se arrastavam com uma lentidão sufocante, uma eternidade em cada minuto que Yasmin passava na mesma posição, ao lado de Vanessa. O hospital, com suas luzes brancas e sons repetitivos, parecia ter criado uma bolha ao redor dela — uma bolha de medo, culpa e espera. O monitor cardíaco soava em intervalos regulares, cada batida um lembrete implacável da fragilidade de Vanessa e do medo que pairava no ar.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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