Canção das Sombras | GWYNRIEL

Ashes and Blood

O crepitar das chamas de Beron já havia se extinguido, deixando apenas cinzas e fumaça. O céu escuro pontilhado por algumas estrelas cobria toda a extensão da corte. O pátio antes repleto de tensão silenciosa agora era ocupado por vozes e murmúrios de todas as cortes reunidas.

O grande salão da corte, adornado com tapeçarias vermelhas e douradas, foi preparado para receber os convidados. Eris havia ordenado que os servos enchessem mesas com frutas, carnes e pães frescos, acompanhados de vinho da mais alta qualidade, direto das vinícolas que prosperavam sob o calor da terra da Corte Outonal.

Eris movia-se com a confiança de alguém que havia nascido para aquele papel. Ele se aproximou da grande mesa central, onde Rhysand e Feyre, ao lado de Lucien, Elain, e o resto de sua corte, observavam a transformação da atmosfera.

Eris, levantando sua taça, falou em tom de celebração.

- Hoje marcamos não apenas a passagem de um Grão-Senhor, mas o renascimento de uma nova era para a Corte Outonal. O fogo que consumiu o corpo de Beron não foi um fim, mas uma chama que acenderá nossa renovação. Que as canções que tocarem esta noite celebrem o novo começo e as alianças que poderemos construir. Às cortes de Prythian!

Os convidados ergueram suas taças, brindando ao futuro. O som do vidro tilintando ressoou pelo salão, e logo as primeiras notas de música começaram a preencher o ambiente.

Ninguém da Corte Noturna bebeu, especialmente após terem perdido Rhys por cinquenta anos. Ninguém se arriscaria a repetir uma dor semelhante.

Gwyn apertou a mão em torno de sua taça de vinho, ela estava um pouco nervosa. Seus olhos buscaram Azriel, que estava a poucos passos de distância, as sombras ao seu redor tremulando levemente. Ela observava Azriel tenso vasculhar todo o salão com seus olhos atentos.

- É uma atmosfera estranha, não acham? - Gwyn comentou, olhando em volta. - A mistura de risos e música, enquanto ainda estamos de luto por Beron.

- Eu também sinto isso. - Emerie concordou, cruzando os braços.

- Eu não sei o que é, mas sinto que algo está prestes a acontecer. A energia aqui... não parece certa. - Nestha falou, seu olhar percorrendo todo o salão.

Gwyn assentiu, mas sua atenção se desviou para Eris, que, com a confiança de um líder recém-empossado, se aproximava da Corte Noturna. Ele ergueu a taça novamente, com um sorriso que misturava orgulho e um toque de desafio, como se estivesse ciente de que cada olhar estava nele.

- Rhysand! Feyre! - Ele cumprimentou, seu tom formal, mas cordial. - Espero que a nova era da Corte Outonal traga paz entre nossas cortes.

Rhys respondeu com um aceno de cabeça, sua expressão contida. Feyre fez uma breve saudação.

- Parece que não sou o único que está chamando atenção esta noite - Eris comentou, lançando um olhar na direção de Lucien. Seu sorriso perdeu parte do desafio, mas ainda manteve o tom afiado de sempre.

Lucien não se deixou abalar. A tensão entre os dois era palpável, mas havia uma nova determinação nos olhos de Lucien, agora que ele estava livre das amarras da Corte Outonal. Elain, por sua vez, manteve-se ao lado de Lucien, ereta e graciosa. Ela não soltou a mão dele, como se aquela simples conexão fosse uma forma de reafirmar sua escolha diante de todos ali. Seus olhos castanhos, serenos e atentos, pousaram brevemente em Eris antes de se desviarem.

- Gwyneth Berdara! - chamou ele, a voz envolvente. - Esperei para conhecer a famosa Valkíria.

Gwyn ergueu o queixo, mantendo a postura confiante que tinha aprendido a adotar, mesmo que seu estômago estivesse revirando de nervosismo. Ela sentiu o olhar de Azriel pousar sobre ela, tão intenso quanto o de Eris. Ele não havia se movido, mas Gwyn sabia que estava observando cada detalhe da interação.