A Spark Ignites

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- Gwyneth? - O Grão-Senhor chamou, sua voz cautelosa. - Quero pedir desculpas por tê-la assustado mais cedo.

Ele se aproximou dela, que estava próxima janela. A reunião já havia acabado e ela precisava de um pouco de ar, se aproximar da janela foi sua melhor opção. Ela achou toda a informação compartilhada demais.

Azriel ainda estava no outro canto da sala agora, mais próximo à porta conversando com Cassian e Nestha, sobre a ida deles a Corte Primaveril. Mor e Amren já haviam se retirado, com Emerie junto a Mor, ela a atravessaria até Refúgio do Vento.

- Foi estranho - admitiu Gwyn, sentindo o calor subir em suas bochechas. - Por um momento, pensei que estava alucinando.

O Grão-Senhor esboçou um sorriso, mas ela percebeu um leve desconforto em seu olhar.

- Feyre ameaçou me torturar se eu a assustasse de novo - disse ele, lançando um olhar para a Grã-Senhora, que brincava com Nyx no colo. - Mas, de verdade, sinto muito por isso.

Gwyneth observou o Grão-Senhor por um instante, ainda sentindo uma leve desconfiança. Ele parecia sincero, mas havia algo no modo como ele se aproximava, algo mais a ser dito.

- Não é só isso, é? - ela perguntou, erguendo as sobrancelhas.

O Grão-Senhor soltou um suspiro suave, cruzando os braços enquanto desviava os olhos por um momento, como se escolhesse as palavras com cuidado. Ele então voltou a encará-la com um olhar suave.

- Não, não é só isso - admitiu, a voz baixa, mas firme. - Eu também queria falar sobre... sua estadia. Agora que você faz parte do Círculo Íntimo e é uma Valkíria, não acho mais necessário que continue vivendo na Biblioteca, junto às outras Sacerdotisas.

Gwyn franziu o cenho, surpresa pela oferta. Ela sempre considerara a Biblioteca seu lar, o refúgio seguro onde conseguia encontrar paz. Mas, ao mesmo tempo, a menção de ser parte do Círculo Íntimo a fez sentir um calor diferente, algo que a fazia se lembrar de que sua vida havia mudado. Ela era mais do que apenas uma Sacerdotisa.

- Há vários quartos disponíveis na Casa do Vento, e você terá todo o espaço e privacidade que precisar. A vida na Biblioteca lhe serviu bem até agora, mas você conquistou um lugar diferente, Gwyneth. Como Valkíria e membro do nosso Círculo, merece estar entre nós. - Ele a olhou com seriedade. - A escolha, claro, é sua, mas quero que saiba que as portas estão abertas para você.

Gwyneth não respondeu de imediato. O pensamento de deixar a Biblioteca... seu santuário... era assustador. Mas ao mesmo tempo, ela sabia que a Valkíria dentro de si ansiava por mais. A biblioteca havia sido um refúgio após o trauma, mas agora, a vida fora dali a chamava.

- Eu... - ela começou, sua voz ainda trêmula. - Vou pensar nisso. É uma oferta generosa, e eu agradeço.

Rhysand sorriu, como se entendesse o conflito interno dela.

- Tome o tempo que precisar, Gwyn. Você sempre será bem-vinda aqui. - Ele deu um passo para trás, respeitando o espaço dela. - Mas lembre-se de que estamos aqui para você. Não precisa mais caminhar sozinha.

A noite foi inquieta. Gwyneth mal conseguiu dormir.

A ideia de deixar a Biblioteca para se estabelecer na Casa do Vento não deixava sua mente. Ela acordou cedo, os primeiros raios de sol ainda tímidos no horizonte, e decidiu se arrastar para o centro de treinamento. Talvez um pouco de movimento ajudasse a clarear seus pensamentos.

Quando ela chegou ao centro, seu corpo estava cansado, mas determinado. Treinar tinha se tornado uma forma de escape, um meio de canalizar as emoções que não conseguia processar de outra forma.

No entanto, ao abrir a pesada porta de madeira e entrar na área de treinamento, ela parou abruptamente. Azriel estava lá, suas asas dobradas atrás de si, a espada repousando no chão ao seu lado. Ele levantou os olhos quando sentiu sua presença, uma expressão que era metade curiosidade, metade algo que Gwyn não conseguiu decifrar.

- Berdara. - ele a cumprimentou, sua voz baixa, mas carregada com a familiar intensidade.

Gwyn sentiu o coração acelerar, a simples menção de seu sobrenome soando diferente quando dita por ele. Ela se obrigou a respirar fundo e manter a compostura.

- Não esperava ver você aqui tão cedo. - ela disse, tentando soar casual enquanto fechava a porta atrás de si.

Azriel deu um meio sorriso, uma expressão que era mais enigmática do que amigável.

- Eu poderia dizer o mesmo sobre você.

Gwyn hesitou por um momento, observando-o de relance antes de começar a caminhar na direção do centro do espaço de treino. Seu corpo já sentia o peso da exaustão emocional, mas o movimento, a luta, sempre ajudavam.

- Eu precisava... de um pouco de ar. - Ela falou com sinceridade, se aproximando do local onde as armas de treino estavam organizadas.

Azriel observou-a com atenção, seu olhar parecia ver mais do que ela gostaria de admitir.

- Ar, ou uma distração? - Ele perguntou, calmamente, com a sombra de um sorriso.

Ela parou, pegando uma espada de treino e sentindo o peso familiar nas mãos, antes de olhar para ele.

- Talvez um pouco dos dois.

Azriel ficou em silêncio por um momento, sua postura relaxada contrastando com a intensidade de seu olhar.

- Cassian está fora, como você sabe. Eu ficarei encarregado do treino até ele voltar.

Gwyn sentiu a tensão se acumular em seu corpo. Treinar com Cassian era algo com o qual ela já estava acostumada. Mas com Azriel? Aquilo era diferente? Ela não sabia dizer.

- E você acha que está à altura? - Ela o provocou, suas palavras saindo com mais confiança do que ela sentia.

Azriel arqueou uma sobrancelha, sua expressão suavemente divertida.

- Veremos, Berdara. - Ele fez um gesto para que ela se aproximasse. - Vamos começar.

Gwyn segurou a espada com mais firmeza, avançando para o centro do espaço de treino. Ela sabia que, com Azriel, não haveria espaço para erros ou hesitação. Ele a desafiaria de formas que Cassian talvez não pudesse. E por mais que isso a assustasse... também a instigava.

Azriel se posicionou em frente a ela, tirando sua própria espada do chão. Ele a analisou por um breve momento, suas sombras serpenteando em torno dele como sempre.

- Não espere que eu vá pegar leve com você. - ele disse, com uma calma que parecia afiada como uma lâmina.

Gwyn sorriu, determinada.

- Eu não esperaria menos.

E então, sem mais palavras, ele avançou.

Canção das Sombras | GWYNRIELOnde histórias criam vida. Descubra agora