Canção das Sombras | GWYNRIEL

Bound by Darkness

Ele estava fodido.

Inteiramente fodido.

Conversar com Gwyn e prometer não guardar mais segredos, sem contar a ela sobre a parceria, parecia errado. Mas despejar o laço entre eles sobre ela, expor a profundidade de suas ligações, parecia ainda pior.

Depois da conversa no jardim, Gwyn voltou a se juntar as suas amigas dentro da casa, e Azriel ficou por mais alguns momentos, absorvendo a conversa que tiveram.

Ele ainda sentia o perfume dela no ar. Quando ela passou por ele, todos os seus instintos gritaram para que a abraçasse, para não deixá-la ir. Suas sombras se agitaram na presença dela, um sinal de algo que ele já não conseguia mais controlar. A conexão entre eles era intensa, como um fio invisível que o puxava na direção dela, e, ao mesmo tempo, a ideia de não poder compartilhá-la o deixava ainda mais angustiado.

Ouviu passos em sua direção, e Cassian o encontrou. Ele mastigava algo e ao vê-lo parado ali, ele se aproximou cautelosamente.

- Rhys disse que as coisas no Refúgio do Vento estão tensas. - ele disse parando ao seu lado.

- Sim. - respondi voltando a encarar o céu que escurecia, os últimos raios de dourado sumindo. - Tudo indica que uma revolta estourará em breve.

- Isso é grave. - ele murmurou, cruzando os braços. - Precisamos nos preparar para qualquer eventualidade. Você sabe que não podemos subestimar a situação.

Azriel assentiu, a mente ainda ocupada com a conversa que tivera com Gwyn.

- Vou falar com Rhys sobre isso. Ele precisará de todos nós. - Cassian continuou, o tom de voz mais sério. - E você, como está lidando com tudo isso? Com... ela?

Azriel hesitou, a pergunta o pegando de surpresa. Ele olhou para o irmão confuso.

- Você não pode pensar que sou tão burro assim irmão. - Cassian disse abrindo um largo sorriso. - Você acaba de voltar de uma longa missão, algo acontece na minha cerimônia e, de repente, uma Gwyn de olhos vermelhos e inchados aparece no treino. Então você desaparece novamente para outra missão em um lugar que você odeia.

Ele realmente odiava o Refúgio do Vento. Cada segunda que estava lá, desejava matar os soldados um por um com suas mãos.

Azriel desviou o olhar, fixando-o no horizonte.

- Ela é ... - ele começou.

- Eu sei. - Cassian o interrompeu. O que fez Azriel o olhar surpreso. - Você realmente subestima minha inteligência. - O irmão fez uma expressão exagerada de tristeza

- Como você... - Azriel começou a perguntar.

- No início, não era tão óbvio - Cassian disse, observando distraidamente um pequeno botão de rosa no canteiro recém-plantado. - Achei que você estava apenas desconfortável com as sacerdotisas no treinamento. Mas havia algo na sua proximidade com Gwyn, algo diferente. Então você desaparece, e de repente Gwyn para de falar tanto nos treinos, sempre aparecendo com os olhos vermelhos. Agora, vejo você, com essa cara de quem não dorme há dias. Não foi difícil ligar os pontos.

Azriel soltou um suspiro baixo, cruzando os braços enquanto observava o horizonte desaparecer no crescente manto da noite.

- Eu não sei o que fazer. - ele murmurou, como se falasse mais consigo mesmo do que com Cassian.

- Gwyn é perspicaz, irmão. - Cassian agora o encarava. - Ela irá descobrir uma hora ou outra.

Azriel balançou a cabeça, os lábios apertados. Ele sabia que Cassian estava certo.

- Eu não sei como lidar com isso - admitiu Azriel, a voz baixa, quase inaudível.

Cassian se aproximou, colocando uma mão pesada no ombro do irmão.

- Você começa falando com ela. De verdade. - Ele olhou Azriel com seriedade. - E para de se esconder atrás dessas malditas sombras.

Com o irmão falando, ele percebeu que suas sombras cobriam metade do seu corpo, da cintura para baixo. Deixando uma sensação estranha em suas pernas.

Parem com isso.

Ele ordenou, mas não obteve nenhuma resposta.

Havia algo de errado.

Elas estavam segurando no lugar. Ele não conseguia se mover. Ele tentou mover as asas, mas elas permaneceram teimosamente paradas, sem conseguir levantá-lo nem um mísero centímetro. Cassian o olhou, confuso.

- Não consigo me mover. - foi a última coisa que ele conseguiu dizer, antes de ser engolido pela escuridão.