Through the Shadows

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Ele não se lembrava muito bem da conversa que se seguiu.

As palavras ao seu redor soavam distantes. Sua cabeça pesava tanto que até mesmo o ato de manter os olhos abertos parecia um esforço monumental. Os pensamentos vinham fragmentados, desconexos, incapazes de se organizar em algo coerente.

Sentiu o toque leve de alguém em seu ombro, mas mal conseguiu reagir.

Ele piscou, tentando focar na figura à sua frente. Feyre ainda estava ali, ao lado dele, sua luz fraca, mas constante. Cassian se aproximou mais, sua presença sólida como uma âncora. Ele falou algo, mas Azriel não conseguiu entender. Cada som parecia ser engolido pelo cansaço que o dominava.

- Vamos, Az. - a voz de Cassian finalmente conseguiu atravessar a névoa. Ele se abaixou, envolvendo o braço de Azriel em torno de seus ombros, enquanto o ajudava a levantar. - Vamos te levar para seu quarto.

Azriel tentou resistir ao peso que sentia nas pernas, mas falhou miseravelmente. Seus músculos estavam fracos, suas asas quase sem controle, arrastando-se no chão enquanto Cassian o guiava.

Gwyn se aproximou, silenciosa, seus olhos fixos em Azriel com uma preocupação nítida. Ela parecia hesitar por um instante, mas quando ele cambaleou para o lado, quase perdendo o equilíbrio, foi ela quem rapidamente segurou o outro braço dele, estabilizando-o.

- Eu cuido disso, Gwyn. - Cassian disse, tentando poupá-la do esforço, mas ela balançou a cabeça.

- Não. Eu quero ajudar. - ela respondeu firmemente, sua voz baixa, mas determinada.

Juntos, eles o conduziram para longe do gramado, para dentro da Casa do Rio. O caminho parecia mais longo do que o habitual, como se a distância entre eles e o quarto fosse se esticando a cada passo. O cansaço era tão esmagador que a cada movimento, Azriel sentia como se estivesse se afastando mais da realidade.

Quando finalmente chegaram ao quarto, Cassian o ajudou a sentar na beira da cama. Gwyn soltou seu braço com cuidado, como se temesse machucá-lo de alguma forma.

- Você vai ficar bem. - Cassian disse, mais como uma afirmação do que uma pergunta. Ele esperou que Azriel se deitasse, mas ao perceber que ele não faria isso tão facilmente, Cassian colocou uma mão firme no ombro dele, guiando-o de volta para os travesseiros.

Azriel respirou fundo, seus olhos pesados, mas ele os manteve abertos por um momento a mais, antes de Cassian sair do quarto. Quando ele se virou para partir, Azriel sentiu a urgência crescendo dentro de si.

- Gwyn... fique... - ele murmurou, sua voz rouca.

Gwyn, que estava prestes a seguir Cassian, parou abruptamente. Ela olhou para Cassian, que hesitou por um breve segundo, antes de assentir em silêncio. Ele deu uma última olhada em Azriel antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si.

Gwyn se aproximou da cama, sentando-se com cuidado ao lado dele. Ela exitou por um momento, mas segurou sua mão.A pele de Azriel estava fria, como se ainda houvesse vestígios daquela escuridão dentro dele, mas ele não afastou a mão.

Ela esperou que ele falasse algo, mas ele não conseguia formular nada.

O peito de Azriel subia e descia em um ritmo regular, um sinal claro de que ele havia caído em um sono profundo.

Gwyn olhou para ele, sentindo um alívio cauteloso ao perceber que ele finalmente havia se entregue ao descanso. Ela não sabia explicar de onde vinha aquele desejo incontrolável de ficar ao lado dele, de velar por ele enquanto dormia.

Talvez fosse a preocupação que se infiltrara em seu coração, ou talvez fosse o fato de que ela sabia como a escuridão interna podia consumir alguém.

Ela o observou por alguns instantes, estudando as linhas de seu rosto relaxado, as sombras sob seus olhos que pareciam mais profundas do que antes. Ele sempre foi o tipo que carregava seus fardos em silêncio, nunca permitindo que os outros vissem as verdadeiras feridas que o atormentavam.

Mas naquela noite... algo havia quebrado.

Ela não sabe quando o sono a embalou. Uma exaustão silenciosa a envolveu, e ela se deixou afundar na poltrona ao lado de Azriel. Quando abriu os olhos novamente, o quarto estava mais claro, banhado pela luz suave da manhã.

Ao tentar se mover, sentiu algo macio e quente sobre si. Uma manta havia sido cuidadosamente colocada sobre seus ombros, cobrindo-a.

E a cama de Azriel estava vazia.

Ao olhar pelo quarto o viu de pé saindo do banheiro, com um couro Illiryano novo em seu corpo e os cabelos levemente molhados. Seu olhos encontraram os dela, e ele sorriu.

- Bom dia. - ele respondeu, caminhando cautelosamente até ela. - Eu não quis te acordar.

- Bom dia. - ela disse se ajeitando na poltrona. - Como você está?

- Melhor que ontem. - ele disse com um suspiro. Mas havia algo nos olhos dele, algo que ela não entendeu.

- É melhor eu ir, - ela disse se levantando e depositando a manta na poltrona. - ou vou me atrasar para o treino com Cassian.

Ela caminhou até a porta, passando por ele. Ele estava próximo demais quando ela passou, e ela conseguiu sentir seu cheiro. Uma mistura profunda de cedro e algo antigo, como pergaminho envelhecido, com um toque de escuridão que parecia aninhar-se no ar ao redor dele.

Aquilo a fez lembrar de quando encontrava livros antigos nas bibliotecas, aquele momento em que o cheiro das páginas antigas trazia uma sensação de mistérios sobre o conteúdo que cada livro continha.

Gwyn parou por um breve segundo, quase imperceptível, seu coração acelerando por causa da inesperada familiaridade.

- Nos vemos mais tarde. - ela conseguiu murmurar, um leve rubor em suas bochechas enquanto abria a porta.

Azriel inclinou a cabeça, observando-a com aquele olhar intenso.

- Gwyn. - Sua voz foi suave, mas firme, e ela parou ao ouvi-lo, o coração batendo ainda mais forte. - Obrigado... por ficar ontem.

Ela hesitou, sem se virar para ele, tentando controlar a onda de sentimentos conflitantes que a invadiram.

– Sempre que precisar – respondeu finalmente, a voz quase um sussurro. Então, sem esperar por uma resposta, ela saiu pela porta.

Canção das Sombras | GWYNRIELOnde histórias criam vida. Descubra agora