Capítulo 5: Memórias Desenterradas

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Os dias seguintes ao último encontro com Seungmin foram uma espiral de confusão para Cristopher. Ele se viu obcecado, não apenas com as sessões, mas com tudo o que Seungmin representava: dor, segredos, e um fascínio sombrio que o puxava cada vez mais para o abismo emocional que ambos compartilhavam.

Cristopher sabia que estava arriscando sua carreira, sua reputação e até sua sanidade, mas, estranhamente, isso não o impedia de continuar. Havia algo em Seungmin que ele precisava entender, algo que ia além do seu papel de terapeuta.

Enquanto revisava suas anotações sobre Seungmin, Cristopher percebeu que, apesar das revelações parciais do paciente, ele ainda não havia tocado no verdadeiro cerne de sua dor. Os segredos do passado de Seungmin permaneciam envoltos em sombras, apenas sugeridos em frases fragmentadas e olhares perdidos. Cristopher sentiu que a chave para ajudar Seungmin estava lá, mas algo impedia o paciente de se abrir completamente — talvez o medo de que Cristopher, como todos os outros, o abandonasse.

Ele sabia que precisava levar a terapia para um novo patamar. Ele precisava de respostas concretas, e isso significava mergulhar mais fundo do que nunca nos traumas de Seungmin, mesmo que isso significasse confrontar os próprios limites.

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Naquela tarde, a sala de terapia parecia mais fria do que o habitual, como se as próprias paredes refletissem a tensão crescente entre Cristopher e Seungmin. Quando Cris entrou, Seungmin estava sentado de maneira incomum, os ombros rígidos e os olhos fixos no chão, em vez da janela.

— Como você está se sentindo hoje? — perguntou, tentando abrir o diálogo com uma pergunta neutra. Mas ele sabia que o clima era diferente naquela tarde. Algo estava prestes a emergir.

— Sentindo? — Seungmin murmurou, ainda sem olhar para Cristopher. — O que importa o que eu sinto? Ninguém nunca se importou de verdade.

Cristopher sentiu o peso nas palavras. A cada sessão, as defesas de Seungmin pareciam enfraquecer, mas ele também se tornava mais evasivo, como se estivesse prestes a explodir e, ao mesmo tempo, tentando impedir isso.

— Eu me importo, Seungmin. — Cristopher disse, a voz firme. — E estou aqui para te ajudar, mas você precisa confiar em mim. Você precisa me contar o que aconteceu com você. O que realmente aconteceu.

Seungmin riu, mas o som estava cheio de amargura.

— Confiar em você? Você sabe o que acontece quando você confia nas pessoas, Cristopher? Elas te quebram. Elas te traem.

— Eu não sou como os outros. — Cristopher insistiu, a tensão crescente em sua própria voz. Ele se inclinou para frente, tentando captar o olhar de Seungmin, mas o paciente continuava a evitar contato visual. — Eu estou aqui, e não vou a lugar algum. Mas eu preciso que você me deixe entrar.

Por um momento, Seungmin ficou em silêncio, os músculos de seu rosto tensos como se lutasse com algo profundo e sombrio. Cristopher sabia que estava no limite de descobrir a verdade, mas também sabia que forçar Seungmin poderia quebrar o pouco de confiança que tinham construído. Ele precisava ser paciente, mesmo que a tensão dentro dele o fizesse querer empurrar mais.

Finalmente, Seungmin ergueu os olhos, e o olhar que ele deu a Cristopher fez o coração do terapeuta parar por um momento. Havia algo cru e feroz naqueles olhos, uma mistura de raiva, dor e... medo. Mas não era apenas o medo do que os outros poderiam fazer com ele. Era o medo do que Seungmin poderia fazer com si mesmo.

— Eles me deixaram lá — Ele começou, sua voz baixa e vacilante. — Quando tudo desmoronou. Quando eu estava no meu pior, quando precisei deles... eles não estavam lá.

Cris ouviu atentamente, sabendo que Seungmin estava finalmente começando a revelar as cicatrizes mais profundas.

— Quem, Seungmin? Quem te abandonou?

Seungmin hesitou, suas mãos apertando os braços da cadeira com força. Cristopher percebeu que, para Seungmin, reviver o passado era como abrir uma ferida que nunca cicatrizou.

— Meus pais. Meus amigos. Todos eles. Eu... eu passei por algo horrível, algo que me mudou para sempre, e quando precisei de ajuda, quando precisei de alguém... eles me deixaram sozinho.

O silêncio na sala era palpável, como se o ar tivesse se tornado pesado demais para respirar. O terapeuta sabia que estava perto de algo crucial, mas não sabia o quão profundo era o trauma de Seungmin.

— E o que foi esse algo? — Perguntou suavemente, tentando guiar Seungmin através de sua dor.

Seungmin respirou fundo, como se estivesse tentando controlar uma avalanche de emoções prestes a desabar.

— Aconteceu... há alguns anos. Eu me apaixonei por alguém. Alguém que me fez acreditar que eu era importante, que me fez sentir... vivo. Mas era tudo mentira. No fim, eu era apenas um jogo para eles. Eles me quebraram, Cristopher. Eles fizeram eu acreditar que eu merecia isso, que a culpa era minha. E quando finalmente percebi o que tinha acontecido... já era tarde demais.

Cristopher sentiu um nó na garganta. Ele sabia que o que Seungmin estava revelando não era apenas uma experiência traumática. Era o motivo de sua internação, a raiz da dor que o consumia até hoje.

— Você tentou se machucar, não é? — Cristopher perguntou, sua voz baixa, cheia de cuidado.

Seungmin não respondeu imediatamente, mas seu silêncio confirmou o que Cristopher já suspeitava. Quando finalmente falou, sua voz estava quebrada.

— Eu queria que tudo acabasse. Mas... não consegui. Eles me encontraram a tempo, mas depois disso... eu fui descartado. Eu não era mais a pessoa que eles amavam. Eu era um peso.

Cristopher sentiu o peso das palavras de Seungmin como um golpe. Ele finalmente entendia. Seungmin havia sido traído não apenas por aqueles que ele amava, mas por si mesmo, por sua própria mente que o fizera acreditar que não merecia mais viver. E o abandono das pessoas em quem ele confiava apenas intensificou esse sentimento.

Seungmin suspira e puxa a manga longa da roupa branca que os pacientes usavam no sanatório, mostrando para o terapeuta. Tinha vários cortes no seu braço e um grande corte em seu pulso, Cristopher engoliu seco, pedindo permissão para pegar seu pulso e ver melhor, o que relutantemente o moreno cedeu. Era a primeira vez que eles se tocavam, Seungmin parecia tenso mesmo que Cristopher mantivesse um toque delicado.

— Você se cortou?

— Várias vezes, por causa disso os funcionários aqui proibiriam de colocar qualquer tipo de arma branca perto de mim. — Ele ri sem humor, Cris suspira. Isso o lembra uma cena que ele viu do seu paciente e agora ela parecia finalmente fazer sentido, quando os pacientes foram liberados para o refeitório almoçar, ele viu Seungmin sentado em uma mesa pequena afastado de todo mundo, batendo a colher contra seu pulso como se quisesse cravar algo nele. Seu peito parece afundar.

Ele queria dizer algo, queria confortá-lo de alguma forma, mas as palavras não pareciam suficientes para a profundidade daquela dor.

Em vez disso, ele se levantou da cadeira e caminhou até Seungmin, parando à sua frente. Sem pensar, ele colocou a mão no ombro de Seungmin, um gesto de conexão que parecia mais humano do que qualquer coisa que ele pudesse dizer.

Seungmin olhou para cima, seus olhos cheios de lágrimas contidas.

— Você não entende... Cristopher. Eu não posso ser salvo.

Cristopher apertou o ombro de Seungmin com mais firmeza, tentando transmitir em toque o que as palavras não podiam.

— Você não precisa enfrentar isso sozinho, Seungmin. Eu estou aqui, e eu vou te ajudar a encontrar um caminho. Juntos.

Entre as sombras e o silêncio | chanminOnde histórias criam vida. Descubra agora