A semana de visita de Minnie trouxe uma nova dinâmica para a frágil rotina de Seungmin e Cristopher. A pequena casa de Cristopher, que normalmente era um refúgio silencioso, agora se via envolta em uma mistura de emoções e segredos. Minnie, determinada a aproveitar o tempo que tinha com o irmão, conseguiu uma rara permissão do sanatório para levar Seungmin à cidade. Mas com a liberdade monitorada por um rastreador nas mãos de Cristopher e uma gargantilha de controle no pescoço de Seungmin, essa saída para o mundo externo trazia uma liberdade limitada, mas ainda assim esperançosa.
Ao sair do sanatório, o trio se deparou com a realidade das regras impostas. Seungmin, com uma expressão de desconforto, tocava a gargantilha de monitoramento em seu pescoço, como se fosse um lembrete constante de sua posição de paciente, mesmo fora dos muros que o aprisionavam. O ambiente da cidade ao redor, antes familiar, parecia distante e frio. Minnie, tentando acalmar o desconforto do irmão, lançou um sorriso encorajador.
— É apenas por algumas horas, Min. Vamos aproveitar o tempo que temos juntos.
Seungmin, com os olhos fixos nas ruas, respondeu em voz baixa.
— Aproveitar o quê? Até aqui fora, ainda estou preso.
Cristopher, segurando o rastreador, se sentia como um carcereiro involuntário. Ele sabia que, a qualquer sinal de fuga ou crise, seria sua responsabilidade acionar os enfermeiros, algo que o fazia sentir a tensão física e emocional do que aquela "liberdade" realmente significava.
A cidade trouxe lembranças para Minnie. Ela conhecia cada rua, cada loja e café que antes significavam algo para Seungmin. Decidida a despertar alguma conexão no irmão, Minnie o levou a uma cafeteria onde eles costumavam passar tardes juntos. Quando chegaram, Minnie apontou para a mesa perto da janela.
—. Você se lembra daqui, Min? A gente costumava vir aqui... você sempre pedia aquele bolo de chocolate que adorava.
Seungmin olhou ao redor, mas seus olhos pareciam vazios, como se estivesse observando uma cena distante.
— Tudo isso parece tão... desconectado. Como se não fosse minha vida.
Cristopher, observando a troca entre os dois, notou o desespero sutil de Minnie. Ela estava tentando, desesperadamente, trazer algo de volta. Algo que, talvez, nunca voltasse.
Enquanto bebiam seus cafés, o trio mantinha uma conversa superficial, mas o peso da situação estava sempre presente. A tensão entre o que Seungmin poderia recuperar e o que estava perdido era palpável. Mesmo assim, Minnie tentou manter a esperança, sugerindo pequenas atividades, uma caminhada pelo parque, uma parada em uma livraria. Cristopher, por sua vez, permaneceu atento, preocupado com o impacto emocional de toda aquela experiência em Seungmin.
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De volta ao sanatório, Seungmin foi levado para seu quarto pelos enfermeiros, e Cristopher acompanhou Minnie de volta à sua casa. Exausta, Minnie sentou-se no sofá enquanto Cristopher preparava uma xícara de chá para ambos. A atmosfera na casa estava mais tranquila, mas ainda havia uma tensão subjacente no ar.
Enquanto Cristopher lhe oferecia o chá, Minnie olhou para ele, como se estivesse se preparando para dizer algo importante. Ela segurou a xícara com força, seus olhos fixos no líquido quente.
— Você já perguntou sobre a sexualidade do Min? — Minnie soltou de repente, como se precisasse tirar aquilo de si.
Cristopher, pego de surpresa, franziu o cenho.
— Bem, não. Eu só li isso no prontuário, mas nunca cheguei a questionar diretamente, especialmente considerando como ele reage agressivamente a certos temas.
Minnie assentiu lentamente, como se já esperasse aquela resposta. Ela respirou fundo antes de continuar.
— Eu vou revelar uma coisa... Se você se importar, talvez te ajude.
Minnie se lembrou de como tudo começou. Ela sempre soubera que Seungmin era diferente, mesmo antes de ele próprio entender. Ele era sensível, introvertido e criativo, sempre preferindo a companhia dos livros e da música ao invés das brincadeiras agressivas dos meninos da escola. Minnie sempre tentou protegê-lo, mas mesmo ela não podia prever o que estava por vir.
Na época do ensino médio, Seungmin havia começado um relacionamento secreto com um de seus professores de literatura, um homem mais velho e manipulador. Minnie nunca gostou dele, mas não sabia o quanto ele era tóxico até que já fosse tarde demais. O professor o tratava com carinho, mas o mantinha sob controle, usando a posição de poder para manipular os sentimentos de Seungmin, sempre controlando o que ele vestia, com quem ele falava, o que ele comia, para onde ia, e Seungmin, que, ainda era jovem e confuso, acreditava estar apaixonado.
Minnie se lembrou do dia em que encontrou Seungmin após o professor ter rompido com ele de forma abrupta. Seu irmão estava devastado, emocionalmente destruído, sendo uma pessoa paranoide e completamente manipulado, o término foi como uma facada funda na alma. Ele tentara acabar com sua vida na noite seguinte, ingerindo uma quantidade de remédios, e foi Minnie quem o encontrara, desmaiado no chão do banheiro. Quando ele sobreviveu, a situação só piorou.
A sexualidade de Seungmin foi exposta pela família do professor, como forma de proteger a reputação do homem. Em uma sociedade conservadora e dentro de uma família que já via Seungmin como "diferente", essa revelação foi o ponto final. Seus pais decidiram enviá-lo para a clínica psiquiátrica, alegando que ele precisava ser "curado" não apenas dos transtornos que começavam a se manifestar, mas também de sua própria identidade.
— Eu nunca vou esquecer a expressão no rosto dele quando nossos pais o deixaram lá. Foi como se eles estivessem entregando um filho para ser apagado, não para ser ajudado. — Minnie sussurrou, lutando contra as lágrimas.
Cristopher ouviu em silêncio, processando tudo que Minnie havia compartilhado. Isso explicava tanto sobre Seungmin — seu trauma, sua desconfiança, sua agressividade quando o assunto tocava em sua sexualidade.
— Eu não sabia de tudo isso... — Cristopher murmurou, sua voz mais pesada com a nova compreensão. — Isso muda muitas coisas.
Minnie enxugou os olhos e olhou diretamente para Cristopher.
— Ele não precisa que você o conserte, Cristopher. Ele precisa que você o veja. O veja pelo que ele é, e não por aquilo que os outros definiram sobre ele.
Cristopher assentiu, sabendo que agora, mais do que nunca, ele teria que repensar sua abordagem. O equilíbrio entre o profissional e o pessoal estava cada vez mais tênue, e ele sabia que, de alguma forma, teria que encontrar uma maneira de ajudar Seungmin a se curar — não de sua identidade, mas dos traumas que os outros o haviam forçado a carregar.
— Eu vou tentar, Minnie. Eu prometo que vou tentar.
— Por favor... eu sinto que você reacendeu algo nele que eu nunca consegui. Por favor não desista do meu irmão.
— Eu não vou... — Ele diz rouco, sua garganta doía ao pensar em tudo isso, enquanto ele tenta acalmar a mulher em sua frente que soluçava. — Nós vamos ajudar ele, eu sei que vamos.
— Eu quero acreditar nisso...
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Entre as sombras e o silêncio | chanmin
Fanfico Hospital Psiquiátrico de Sanatório Whitmore é conhecido por suas práticas rigorosas e por sua atmosfera opressiva. Cristopher Bang, um terapeuta jovem e ambicioso, chega para trabalhar no hospital, acreditando que pode trazer abordagens mais human...