Noite de Halloween

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Agora, finalmente de volta à estrada após tanta confusão e problemas, o alívio era quase palpável no ar, embora a tensão ainda permanecesse. Parecia que o universo conspirava contra nossa ida àquela festa de Halloween. Por mais que a sensação de desconforto persistisse, eu decidi me manter quieta, engolindo qualquer comentário de preocupação. Esse papel já pertencia à Nina, e todos sabiam disso.

A caminhonete seguia seu curso, os faróis cortando a escuridão da noite, revelando um caminho deserto que se estendia à nossa frente. Maressa estava com a cabeça repousada no ombro de Gael, os dois parecendo estranhamente despreocupados, enquanto ele brincava com os cachos dela, enrolando-os entre os dedos distraidamente.

O silêncio no carro era opressor, o tipo de silêncio que grita mais alto que qualquer som. Cada um de nós parecia imerso em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o que tinha acontecido até agora e o que ainda estava por vir. Parecia que algo estava sempre à espreita, pronto para nos surpreender, como a aparição misteriosa daquele homem mais cedo.

Luca, completamente bêbado, começou a batucar no encosto do banco da frente, sua tentativa desajeitada de quebrar o clima pesado. Ele começou a cantar, sua voz arrastada, mas surpreendentemente afinada. Mesmo com o álcool, ele conseguia manter um tom angelical.

— I thought that I'd been hurt before, but no one's ever left me quite this sore... — cantou Luca, sua voz preenchendo o silêncio com uma melodia familiar.

Thomas, sentado ao lado de Diogo, no banco do passageiro, deu um sorriso travesso e se juntou à cantoria com entusiasmo, sua voz grave contrastando com a suavidade da de Luca.

— Your words cut deeper than a knife, now I need someone to breathe me back to life... — Thomas completou a frase, e antes que percebêssemos, a tensão havia começado a derreter.

Nataly soltou um grito animado, seus olhos brilhando com uma excitação infantil.

— Shawn Mendes! — exclamou, batendo palmas, empolgada.

Foi o estopim para todos rirem, e, de repente, o carro estava envolto em um coro inesperado. Começamos a cantar juntos, todos rindo, como se a música tivesse o poder de nos conectar e dissipar qualquer mal-estar.

— You watch me bleed until I can't breathe, shaking, falling onto my knees...  — cantávamos juntos, como se nossa voz unida pudesse, de alguma forma, afugentar qualquer sombra de dúvida ou medo.

Até Nina, sempre a mais séria do grupo, estava murmurando a letra baixinho, sorrindo de canto, enquanto observava a estrada através da janela. Eu notei o brilho suave em seus olhos, algo raro de se ver.

Gael e Maressa, sentados juntos, pareciam em um mundo à parte. Cantavam olhando um para o outro, sorrisos bobos nos rostos, completamente alheios ao que acontecia ao redor. Havia algo reconfortante na simplicidade do momento, como se as preocupações de antes não fossem mais tão importantes.

Luca, Thomas e Nataly estavam vivendo o momento ao máximo, gritando a letra como os maiores fãs de Shawn Mendes que eu já havia visto. Eles colocavam tanto sentimento na música que era impossível não sorrir junto. Diogo, sempre discreto, cantava com um leve sorriso, apreciando o clima descontraído.

— Needle and the thread, gotta get you outta my head, needle and the thread, gonna wind up dead... — cantávamos juntos, as palavras ecoando pelo carro, e por um momento, eu me senti parte de algo maior. Talvez fosse a magia do Halloween, ou talvez fosse simplesmente o efeito da amizade.

A estrada à nossa frente parecia interminável. As árvores, à medida que passávamos, formavam sombras estranhas que dançavam no ritmo da luz dos faróis, criando uma atmosfera surreal. A música parecia envolver a todos, uma bolha temporária de felicidade que nos isolava do mundo exterior.

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