Floresta

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Após um tempo de espera com a caminhonete parada, nossos planos para uma noite de Halloween promissora já pareciam se dissolver. Foi quando finalmente um carro apareceu. Um jipe com vidros escuros se aproximava lentamente pela estrada deserta.

Gael, sempre o mais proativo, fez sinal para o veículo. Para nossa surpresa, ele parou e o vidro foi abaixado, revelando o motorista. Um homem grisalho, de barba rala, com olhos acinzentados tão intensos que me causaram arrepios. Havia uma cicatriz que descia do maxilar até a sobrancelha, e, para completar a figura perturbadora, ele usava uma batina preta.

— O cara tá vestido como um padre... — sussurrou Nataly ao meu lado.

— Vai ver ele é um padre. — Maressa sugeriu, curiosa.

— Ou só uma fantasia... — completei, sem tirar os olhos da interação entre Gael e o homem.

Observamos em silêncio enquanto Gael explicava a situação.

— Boa noite, cara. Desculpa interromper, especialmente nessa noite, mas estamos com um problema. O pneu furou e o idiota aqui não trouxe as ferramentas. — Gael gesticulou com a cabeça para Luca, que apenas sorriu de forma abobalhada.

O homem nos analisou por um instante com uma expressão difícil de ler. Depois, abriu um sorriso quase predatório e saiu do jipe.

— Claro, posso ajudar. Sempre carrego minha caixa de ferramentas comigo.

— Finalmente! — Luca exclamou aliviado, cambaleando um pouco ao se afastar do capô, onde estava escorado.

— Finalmente mesmo. — Nataly murmurou, aninhando-se ainda mais no cobertor junto com Maressa.

Eu observei atentamente da caminhonete, tentando decifrar a sensação estranha que aquele homem trazia. Ele parecia estar acostumado com estradas desertas e noites frias.

— Vamos precisar que vocês saiam do carro, meninas... — Diogo nos avisou ao abrir a porta para ajudar.

Soltamos um suspiro frustrado, mas obedecemos. Saímos para a noite gélida, dando alguns passos para longe enquanto os garotos e o homem misterioso começavam a trabalhar na troca do pneu. Eles faziam o possível para parecerem úteis, mas claramente o mais velho era quem sabia o que estava fazendo.

— Está congelando... — reclamei, esfregando meus braços para tentar aquecer.

— Puta que pariu, sim! — Nataly concordou, tremendo.

Foi então que Maressa cochichou algo, quase inaudível:

— Meninas... preciso mijar.

Eu ri levemente, acompanhada por Nataly, mas Nina revirou os olhos, impaciente.

— Sério? Justo agora? — ela reclamou, com seu costumeiro tom de irritação.

— Relaxa. Eu vou ali rapidinho, na mata. — Maressa respondeu tranquilamente, já se afastando.

Ela atravessou a estrada deserta, passando por Gael e piscando para ele. Ele retribuiu o gesto com um sorriso malicioso.

— Acho que o Gael vai querer ajudar. — comentei, divertindo-me com a situação.

— Pode apostar que vai. — Nataly riu.

Nina, como sempre, revirou os olhos com uma expressão de desgosto.

Não demorou muito para que Gael saísse de fininho, seguindo Maressa pela floresta escura e fechada. Enquanto isso, o homem misterioso estava terminando de ajustar o pneu. Limpou as mãos sujas na roupa e abriu um sorriso satisfeito.

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