Gato e Rato

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O silêncio se estendeu por alguns segundos, apenas quebrado pela madeira velha do chão que rangia sob o peso do homem. Ele se agachou lentamente, sem pressa, como se saboreasse o momento. Sua cabeça inclinou-se levemente para o lado, seus olhos cravados nos meus, analisando cada movimento, cada respiração acelerada. Eu estava encurralada, encolhida embaixo da cama, o coração martelando no peito, e ele... Ele parecia saborear meu medo.

— Vai implorar? — Ele zombou, sua voz grave reverberando pelo quarto. Era tão calma, tão controlada, como se ele estivesse completamente no comando, enquanto eu me desfazia de pavor. — O que tenho que fazer pra te tirar daí?

Seus lábios se curvaram num sorriso lento, cruel. O tipo de sorriso que prometia que ele não me deixaria sair tão fácil. Eu respirei fundo, tentando manter a sanidade, mas a proximidade dele fazia o ar parecer rarefeito, sufocante. O cheiro de couro e metal impregnava o ambiente, misturado ao calor da lareira que tornava o quarto opressor. Mesmo em silêncio, sua presença era esmagadora.

Eu me encolhi mais sob a cama, tentando criar uma distância que eu sabia ser inútil. As tábuas rangiam novamente quando ele se aproximou mais, seus dedos batendo levemente no chão de madeira como se estivesse contando o tempo — um predador esperando o momento certo para atacar.

— O que está acontecendo? O que vocês estão fazendo? — Minha voz saiu trêmula, hesitante. Eu sabia que ele não responderia. Ele era o tipo que preferia deixar as perguntas sem respostas, apreciando a tensão e a confusão que isso causava. E eu estava completamente à mercê dessa sensação.

Seus olhos negros e profundos encontraram os meus mais uma vez, e por um segundo, o tempo pareceu parar. O mundo inteiro se resumiu àquele pequeno espaço sob a cama, ao som da nossa respiração e ao peso insuportável da presença dele.

— O que estamos fazendo? — Ele repetiu devagar, saboreando as palavras. — Brincando. Não é isso que você queria? Uma noite de diversão?

Seu tom era de puro sarcasmo, mas escondia algo mais. Um desafio. Ele estava brincando comigo, mas não da forma como eu imaginava.

— Não pedi por isso. — Minha voz era um sussurro, o desespero começando a me consumir. — Por favor, me deixe ir...

Ele riu suavemente, um som baixo e áspero que fez minha pele se arrepiar.

— Pedir não vai te salvar, querida. — Ele se levantou, caminhando em volta da cama com passos lentos e calculados. — Mas eu gosto da ideia de esconde-esconde. Gato e rato... Isso soa mais divertido, não acha?

Minha mente corria. Se eu ficasse ali embaixo, seria uma questão de tempo até ele me arrastar para fora. Correr era minha única chance, por menor que fosse. Mas o medo paralisava minhas pernas, e eu mal conseguia mover os dedos de tanto que meu corpo tremia.

Ele parou ao lado da cama, e por um segundo, o som da sua respiração era a única coisa que preenchia o quarto.

— Vou contar até cinco, Alyssa. — Sua voz era um sussurro predatório. — Se eu tiver que te buscar... Não será tão agradável quanto você imagina.

Meu corpo entrou em alerta. Cinco.

Eu prendi a respiração, lutando contra o pânico que se apoderava de mim. Quatro.

Eu poderia sair e tentar correr. Três.

Mas ele me pegaria facilmente. Dois.

Eu não tinha outra escolha.

Um.

Num salto, saí debaixo da cama, passando por ele com uma agilidade que não sabia que possuía. Meus pés descalços tocaram o chão frio e eu corri, ouvindo sua risada baixa ecoando atrás de mim. Ele não veio atrás de imediato. Ele queria prolongar o jogo, saborear a caçada.

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