Primeiros Sinais

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A batida eletrônica reverberava pelo galpão, fazendo o chão tremer sob meus pés. As luzes estroboscópicas transformavam a multidão em sombras dançantes, e a atmosfera pulsava com uma energia elétrica, cheia de euforia. Decidi me aproximar de Nataly na pista de dança, mas, ao chegar perto, notei que ela estava ocupada com um cara desconhecido. Alto, com um ar rebelde, fantasiado como um dos integrantes da banda Kiss, o garoto exibia uma atitude despreocupada enquanto dançava com ela.

Sorri para mim mesma, afastando-me. Não queria atrapalhar o momento, e Nataly parecia estar se divertindo.

Sem rumo, me dirigi à mesa onde Luca e Thomas estavam, envolvidos em uma absurda competição para ver quem comia mais doces.

— Vocês viram a Nina ou o Diogo? — perguntei, esperando que um deles pudesse me dar alguma pista.

Thomas, incapaz de responder com a boca cheia de marshmallows, apenas fez um gesto vago com a mão. Luca, por sua vez, cuspiu esqueletos de chocolate antes de responder.

— A Nina foi ao banheiro, e o Diogo sumiu com uma garota por aí.

Levantei uma sobrancelha, tentando disfarçar a leve surpresa que senti. Diogo sempre dava sinais de interesse, mas eu nunca correspondi. Luca, percebendo meu olhar, ficou momentaneamente confuso antes de arregalar os olhos em compreensão.

— Ah, merda! Desculpa, Alyssa. O Diogo é um babaca. Você merece coisa melhor. Quer saber? Tô solteiro — ele completou com um sorriso maroto, tentando aliviar a situação.

Ri, balançando a cabeça.

— Relaxa, Luca. Ele que sempre demonstrou interesse. Eu não sinto o mesmo. Não me incomodo se ele fica com outras garotas. — falei sinceramente. Não era algo que me perturbava.

Os dois se entreolharam com uma expressão de dúvida, mas logo voltaram à competição de doces, deixando o assunto para trás.

A sensação persistente de estar sendo observada, no entanto, não me abandonava. Era uma inquietação constante que latejava em minha mente. Decidi explorar o galpão, procurando alguma distração. Atravessando o mar de pessoas e decorações macabras de Halloween, acabei me deparando com um corredor estreito e quase deserto, iluminado apenas por algumas velas tremulantes que decoravam as paredes.

Entrei no corredor, observando as decorações — teias de aranha falsas pendiam do teto, e pequenas caveiras adornavam as paredes. Estava sozinha, ou pelo menos assim parecia.

O silêncio foi interrompido por passos pesados atrás de mim. Meu coração acelerou, e virei rapidamente, dando de cara com a figura que eu já havia notado antes na festa. O homem de capuz, vestido inteiramente de preto, agora estava parado a poucos metros de mim. Ele era grande, imponente, e suas mãos enluvadas estavam fechadas em punhos.

Meus instintos gritaram para eu me afastar, mas meus pés pareciam enraizados no chão. A atmosfera ao redor mudou, tornando-se densa, carregada de algo inexplicável.

— Ah... então, ficar encarando garotas em festas é seu jeito de flertar? — tentei brincar, forçando um sorriso na esperança de aliviar a tensão. Mas ele não disse uma palavra. Seu silêncio era tão pesado quanto sua presença.

Eu o observei por um momento, tentando entender sua intenção, mas seu rosto estava coberto pelo capuz, e nada dele era visível. Era como se ele fosse uma sombra sólida, sem identidade, sem expressão. A falta de resposta fez o ar ao meu redor parecer mais gelado.

— Legal... — murmurei para mim mesma, tentando disfarçar o desconforto.

Decidi que o melhor seria sair dali. Comecei a me mover lentamente para o lado, tentando contorná-lo para voltar à multidão. Mas ele se moveu também, bloqueando minha passagem. A cada passo que eu dava, ele se colocava à minha frente, como um predador brincando com sua presa.

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