Duas semanas depois...
Eu tinha acabado de receber alta do hospital. Confesso que estava com muito medo de sair para o mundo novamente. Depois de tudo que aconteceu, a única coisa que eu queria era me esconder, fugir de tudo e de todos. A ideia de encarar a vida lá fora, tão cheia de incertezas, me dava calafrios. Mas eu sabia que não podia me permitir isso. Desistir seria exatamente o que ele queria, e eu não estava disposta a dar a ele esse prazer e isso sujaria a memória de minha mãe. Ainda assim, havia uma pergunta que não saía da minha cabeça, o que Christian tinha a ver com Renata? Algo me incomodava nessa relação, algo que eu não conseguia entender.
- Ei, Sky, por aqui! - A voz de Renata me tirou dos meus devaneios.
Ela estava na sua BMW, buzinando insistentemente. Ao vê-la, apressei os passos. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto enquanto eu caminhava até o carro. Renata sempre tinha essa energia vibrante, como se o mundo ao redor dela não pudesse desmoronar. Mas comigo era diferente, desde que tudo aconteceu, tudo o que eu sentia era uma espécie de peso no peito, uma sombra constante. Eu não me lembrava bem da noite em que acordei no hospital. Tudo estava embaçado, como se partes da minha memória tivessem sido arrancadas. Mas havia uma coisa da qual eu tinha certeza, Renata esteve ao meu lado o tempo todo. E por mais confusa que eu estivesse, aquele gesto de lealdade dela me dava um mínimo de conforto. Sabia que, com ela por perto, talvez eu conseguisse encontrar algum equilíbrio de novo.
- Vamos? Quero te apresentar uma pessoa.. - Renata perguntou e logo deu continuidade, assim que entrei no carro. Sua voz era animada, mas eu podia sentir um leve traço de preocupação por trás do sorriso.
Assenti, tentando demonstrar não estar curiosa, mas a ansiedade batia forte no peito assim que ela mencionou "apresentar". O motor roncou suavemente, e logo estávamos a caminho. Eu olhei pela janela, observando o mundo lá fora com a sensação estranha de estar vendo tudo pela primeira vez.
- Obrigada por tudo, Renata - minha voz saiu mais suave do que eu esperava. Ela virou o rosto para mim, surpresa.
- Ei, você sabe que estou aqui para o que precisar - ela respondeu, seu olhar fixo na estrada à frente. - Não precisa agradecer, Sky. Eu faria de novo mil vezes.
Sorri, ainda que de forma hesitante, e encostei a cabeça no banco. O silêncio confortável se instalou entre nós, mas minha mente não parava de girar.
❦ ❦ ❦
O carro começou a diminuir a velocidade, e logo paramos em frente a um parque. Renata saiu rapidamente, sorrindo enquanto voltava em passos curtos, e abriu a porta para mim. Eu hesitei por um momento, sem entender muito bem para onde ela queria me levar, mas logo desci. Ela trancou o carro e passou o braço sobre meu ombro, me guiando pelo gramado em direção a um banco de madeira debaixo de uma árvore.
Sentamos lado a lado, o silêncio do ambiente sendo quase calmante, até que Renata virou-se para mim e, com um sorriso sereno, comentou.
- Você está muito tensa... precisa relaxar.
Antes que ela pudesse terminar a frase, eu a cortei com a pergunta que estava me atormentando desde que saí do hospital
- Quem é Christian Ferraci?
O sorriso nos lábios de Renata desapareceu instantaneamente. Ela tentou disfarçar, mas seu desconforto era evidente. Gaguejando, ela murmurou.
- Sky... já falamos sobre isso...
Mas eu a interrompi novamente, dessa vez elevando o tom da minha voz.
- Renata, para com isso! Para de mentir e fala logo!
Ela me olhou, os olhos fixos nos meus, sua mandíbula travada. Parecia que ia finalmente falar, mas antes que qualquer palavra pudesse sair de sua boca, uma voz grave e cortou o ar.
- Senhorita Lopes.
Ambas nos viramos rapidamente para ver quem estava atrás de nós. Lá estava um homem alto, aparentando ter, no máximo, trinta anos. Ele não devia ter mais de um metro e noventa, mas sua presença dominava o espaço. Os cabelos castanhos, bem alinhados, estavam penteados em um topete discreto para trás. Havia uma parte de um desenho no pescoço que eu só podia supor ser uma tatuagem. Seu corpo era forte, visivelmente destacado dentro do terno preto. A maneira como ele se postava me fazia sentir pequena, intimidada, embora eu tentasse disfarçar.
Renata se levantou rapidamente, caminhando até ele e apertando sua mão com firmeza, mas ele respondeu ao gesto com uma gentileza controlada.
- Sim, mas Renata já está ótimo. - ela respondeu, um toque de familiaridade em sua voz.
Ele assentiu de forma quase mecânica. Ela, então, olhou para mim e depois para ele, dizendo.
- Sky, esse é Rodolfo. Rodolfo, essa é Sky.
Eu o cumprimentei com um simples aceno de cabeça, não confiando totalmente na minha voz naquele momento. Renata continuou.
- Ele será seu... novo guarda-costas.
Antes mesmo de ela terminar a frase, já saltei em protesto.
- O QUÊ? Você enlouqueceu? Eu não preciso de guarda-costas! Posso muito bem lidar com meus problemas sozinha!
Renata soltou uma risada, mas não era uma risada divertida. Era sarcástica, cansada. Ela se encostou no banco, cruzando os braços enquanto me observava.
- Ah, é? Lida com isso então.
Ela tirou um pedaço de papel amassado do bolso da saia e estendeu para mim. Relutante e já com uma raiva crescente, eu puxei o papel da mão dela com força, abrindo-o. Ao ler, meu coração congelou.
Letras recortadas de revistas formavam uma frase assustadora que me deixou sem ar:
"Posso ver você agora, e estarei lá antes que perceba, e esse será o seu fim."
Minhas pernas fraquejaram, e eu caí sentada no banco, sem forças, o papel tremendo em minhas mãos. O mundo pareceu fechar ao meu redor, e, naquele momento, tudo fez sentido. Eu não estava segura. Eu nunca estive.
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Lights and Secrets +18 | Dark Romance
FanfictionEm Lights and Secrets, vidas cruzam-se em uma Paris envolta em mistérios e sombras do passado. Renata Lopes, uma mulher marcada por eventos traumáticos, é jogada em uma espiral de tensão e segredos perigosos enquanto tenta recomeçar. Sky, assombrad...