Capítulo 13 - Limiar do Desejo - Renata Lopes

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Minha cabeça parecia prestes a explodir. Cada batida era um martelo, e quando finalmente abri os olhos, a luz invadiu meu campo de visão como um golpe certeiro, me fazendo piscar repetidamente até me acostumar. Meus cabelos estavam uma bagunça, e o vestido que eu usava... bem, parecia ter sobrevivido a uma guerra. Ajeitei o tecido amarrotado e me forcei a sentar na cama. Eu olhei ao redor, tentando entender onde estava. O quarto era estranho, com cores escuras, paredes sombrias, uma cama enorme e redonda, com lençóis e travesseiros pretos. Havia uma estante de livros, mas cada título parecia mais suspeito que o outro. Isso não era familiar, definitivamente. Como eu vim parar aqui? A última coisa de que me lembro... era de estar na festa com Sky, rindo, bebendo. Depois, tudo vira um borrão.

Me levantei, ainda tonta, quase tropeçando, e fui até a porta. Precisei de alguns segundos para me estabilizar, sentindo as pernas fracas. Desci as escadas, e assim que cheguei à sala, o cheiro de ovos mexidos com bacon me atingiu com força. Meu estômago reclamou, mas antes de pensar em comida, eu precisava descobrir onde diabos estava.

Me aproximei da cozinha, com o coração acelerado e, espiando pela porta entreaberta, vi um homem de costas. Ele não estava usando camisa, só uma calça de moletom cinza escuro. O corpo dele... ok, preciso admitir, era bem atraente. Ele mexia a frigideira como se aquilo fosse algo que fazia todos os dias, com uma habilidade quase hipnotizante.

Eu estava lá, congelada, tentando processar tudo, quando vi a porta se abrir bruscamente e eu quase cair para dentro da cozinha. Levei um susto, e antes que pudesse reagir, uma voz grave cortou o ar, cheia de ironia.

— Vai ficar só olhando?

Eu me virei devagar, tentando me recompor diante da figura que apareceu. O cara estava coberto de tatuagens intrincadas, cada uma mais chamativa que a outra. O rosto dele... sombrio, misterioso, com mechas de cabelo caindo sobre os olhos, que eram pretos e ligeiramente puxados. Havia algo nele que fazia meu corpo enrijecer, uma mistura de alerta e curiosidade.

Ele me olhou de cima a baixo, com um olhar afiado e quase debochado. Eu tentei me manter firme, ignorando o desconforto que essa análise descarada causava. Ele parecia se divertir com a minha confusão, porque cutucou o outro homem que ainda mexia na frigideira com uma risadinha sarcástica.

— Essa aí é a doida de ontem ? — disse ele, pegando uma maçã da tigela de frutas e levando à boca, mordendo com desdém.

Doida? Uma onda de desconforto e vergonha subiu por mim, mas me forcei a ficar de pé, tentando não demonstrar fraqueza. Eu precisava descobrir o que aconteceu, mas não sabia por onde começar, e a atitude debochada dele só deixava tudo ainda mais irritante.

Assim que ele se virou com a frigideira em mãos, começou a dividir os ovos nos pratos. Me lançou um sorriso de canto, um daqueles que me deixou ainda mais desconcertada.

— Renata, acordou... Como passou a noite? Está mais calma? — ele perguntou, indo até a pia para largar a frigideira.

Nós nos sentamos à mesa, mas eu não conseguia relaxar. Minha cabeça latejava, o estômago estava embrulhado, e uma sensação de urgência começou a tomar conta de mim.

— Como eu vim parar aqui? — disparei, minha voz saindo mais apressada do que eu pretendia. — Cadê meu carro? Minha casa? Onde está a Sky? O que aconteceu pra minha cabeça estar explodindo desse jeito?

Minha mente tentava, sem sucesso, juntar os pedaços da noite passada. Tudo parecia confuso, como um quebra-cabeça em que faltam peças essenciais. O cara de regata larga deu uma risadinha, ainda mordendo a maçã, enquanto o outro me olhava com calma, como se estivesse acostumado com esse tipo de reação.

Olhei para o cara rindo e, sem paciência, o encarei.

— Tá no circo, idiota? — disse, deixando o sarcasmo escapar sem controle.

Ele revirou os olhos e levantou as mãos em rendição.

— Calma, donzela perdida — respondeu, saindo da cozinha com a maçã ainda em mãos. — Tô indo nessa. — E desapareceu pela porta, enquanto eu voltava minha atenção para o homem à minha frente.

Foi então que uma lembrança me atingiu em cheio. O homem sentado ali, agora em silêncio, observando meus movimentos, era Oliver... O médico que me atendeu naquele dia, quando meu corpo cedeu por conta do... Não, eu não podia cogitar pensar nesse nome. Um nó se formou no meu estômago. O que eu estava fazendo aqui, e por que estava na casa dele, será que eu..ele..nós?

Oliver manteve seu olhar sobre mim, paciente, como se estivesse esperando o momento certo para quebrar o silêncio, mas a onda de memórias e sentimentos me deixou sem palavras por alguns segundos.

Me aproximei dele bruscamente, fixando o olhar e falando de forma ríspida.

— Se você ousou me tocar enquanto eu não estava, juro que—

A interrupção do meu discurso foi quase palpável, e um silêncio tenso se instalou entre nós. Ele levantou as sobrancelhas, os olhos escuros brilhando com uma mistura de surpresa e diversão; logo quando se levantou a minha frente enquanto se aproximava de mim, enquanto seus braços, ao lado de minha cintura me prendendo entre ele e o móvel.

— Você acha mesmo...que eu transaria com você bêbada, sabendo que no dia seguinte você não lembraria, não, não minha querida...se eu fizesse isso seria exatamente agora...com você sóbria, para se lembrar de quantas vezes gozou enquanto gemia meu nome... — Sua voz era baixa e tranquila enquanto seu hálito quente roçava meu rosto a cada vez que ele se aproximava.

Oliver continuou me olhando, e percebi que ele não estava apenas esperando que eu terminasse de falar. Ele estava avaliando minha expressão, buscando algo mais. Assim que meus lábios se afastaram para responder, Oliver me cortou, se afastando enquanto dizia onde que meu carro estava estacionado e que não sabia da Sky. Em um instante, me vi sozinha na cozinha, cada poro do meu corpo arrepiado, lembrando das palavras dele e do quão próximo ele estava de mim. Antes que eu conseguisse recompor meus pensamentos, uma imagem intrusa invadiu minha mente: eu nua sobre aquela mesa, com Oliver entre minhas pernas, dedicando-se ao máximo com sua língua, me fazendo gritar de prazer.

Sacudi a cabeça rapidamente, tentando evitar que a excitação transparecesse em meu rosto. Mas, antes que eu pudesse me recuperar, uma voz ecoou pela porta.

— Estou saindo, sei que não estará aqui quando eu voltar. Então, até mais, princesinha.

A porta se fechou bruscamente, e eu dei um leve sobressalto. Um frio na barriga subiu pela minha espinha enquanto sentia entre minhas pernas um líquido descer. Fiquei incrédula, lutando para processar o que acabara de acontecer. Como eu pude ter um orgasmo apenas com as palavras de Oliver sobre mim?

A realidade do momento me atingiu como uma onda. Eu estava em uma casa estranha, sem saber como cheguei ali, e a única coisa que conseguia pensar era sobre a intensidade daquela lembrança, como se tivesse sido real, como se Oliver realmente tivesse me tocado. A confusão se misturava à culpa e ao desejo, me deixando em um estado de vulnerabilidade que eu não estava pronta para enfrentar.

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