Capítulo 8 - A Noite que Nunca Acaba - Christian Ferraci

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Cheguei em casa chutando a porta com mais força do que o necessário. O som ecoou pelo corredor, quase tanto quanto a frustração que fervia dentro de mim. O plano... maldito plano, tudo desmoronou. Sky apareceu do nada, e Renata escapou mais uma vez. Eu estava a um passo de tê-la de volta, e tudo foi por água abaixo. Joguei as chaves em cima da mesa, o tilintar delas não me satisfazendo nem um pouco. Caminhei até o sofá e me joguei ali, com a cabeça apoiada nas mãos, tentando conter a raiva que crescia dentro de mim. Todo aquele esforço para encontrar Renata e agora? Nada. Pior, fui obrigado a fazer papel de idiota no cemitério. Respirei fundo, tentando controlar o fluxo de pensamentos negativos que não paravam de vir.

Peguei meu celular, deslizando pelos aplicativos, sem realmente prestar atenção em nada. Mas então, algo piscou na tela. Uma notificação de evento nas redes sociais. Uma festa importante em uma das mansões mais badaladas da cidade, cheia de gente influente, música alta e, é claro, distrações suficientes para me fazer esquecer, nem que fosse por algumas horas, a frustração do dia. Olhei para o relógio. Ainda tinha tempo. Por que não? Talvez me perder na noite fosse exatamente o que eu precisava. Além disso, essas festas sempre ofereciam novas oportunidades, novos contatos, e — quem sabe — novas formas de tirar vantagem.

Levantei-me do sofá com um suspiro. Caminhei até o espelho no corredor, vendo o reflexo da minha expressão tensa. Sorri para mim mesmo, um sorriso amargo, mas um sorriso, ainda assim. Tirei a camisa e fui para o banho. A água quente caindo sobre mim parecia lavar parte do estresse, embora eu soubesse que a verdadeira distração viria depois. Saí do banho e fui direto ao guarda-roupa. Escolhi uma roupa que sabia que ia chamar atenção. Algo elegante, mas com aquele toque de ousadia que sempre me destacava. Um terno preto perfeitamente ajustado ao meu corpo, camisa branca impecável, mas sem gravata. Apenas o suficiente para mostrar que eu não estava ali para obedecer a regras.

Me olhei no espelho de novo, ajeitei o cabelo, e senti a mudança. A frustração do plano falho começava a se dissolver. Logo, eu estaria rodeado por pessoas que não sabiam nada sobre Renata ou sobre o que aconteceu. E naquele ambiente, por algumas horas, eu poderia ser quem quisesse, sem lembranças, sem frustrações. Peguei minhas chaves e saí, pronto para apagar o dia da minha mente, ao menos era o que eu pensava.


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Assim que atravessei a entrada da festa, passando pelo segurança com um aceno casual, senti a atmosfera mudar. As luzes piscavam, a música estava alta o suficiente para fazer o chão vibrar, e o som de conversas misturadas criava um zumbido constante ao redor. Havia uma energia no ar que só grandes festas conseguem criar — aquele caos organizado onde tudo parece possível. Mas antes que eu pudesse me jogar completamente naquele caos, algo interrompeu meu caminho. Um corpo vacilante esbarrou em mim com força. Instintivamente, me virei, e vi uma mulher cambaleando para trás, o equilíbrio dela totalmente comprometido. Tudo aconteceu em um piscar de olhos. Seus braços se esticaram, tentando pegar alguma coisa no ar, mas seus pés não a seguraram.

Sem pensar, dei um passo à frente e a agarrei pelo braço, firme o suficiente para impedi-la de cair. Ela parou a centímetros do chão, e com um movimento rápido, a puxei de volta para mim. Ela ficou de pé, apoiada contra meu peito, ainda respirando com dificuldade por conta do susto. Olhei para ela, e percebi que era uma jovem. O rosto dela estava um pouco vermelho, talvez por causa da bebida, ou quem sabe pelo embaraço da situação. Ela levantou os olhos lentamente, encontrando os meus, e por um momento, a festa ao redor pareceu desaparecer. Nossos olhares se cruzaram, e pude ver uma mistura de surpresa e gratidão.

— Está tudo be- — antes que eu mesmo pudesse completar minha pergunta, meu coração deu um salto, e o choque de reconhecimento percorreu meu corpo. Era ela. Sky Springfield. A mulher que, nos meus planos, deveria ser afastada da vida de Renata. E agora ela estava ali, completamente inconsciente de seus atos, bêbada, vulnerável, nas minhas mãos.

Senti uma onda de adrenalina correr pelo meu corpo. O que diabos ela estava fazendo aqui? Em uma festa como essa? Parecia uma piada cruel do destino, entregando-a diretamente a mim, sem ela nem mesmo perceber. Eu sabia exatamente o que Sky significava para Renata, o quanto ela tinha se tornado uma peça-chave na proteção dela. E agora, a peça estava fora do tabuleiro, nas minhas mãos, totalmente à mercê. O pensamento de vingança me atravessou. Vai ser tão fácil... Ela estava indefesa, entregue a mim. Se eu a afastasse, se a destruísse de uma maneira ou de outra, talvez Renata ficasse mais exposta. Talvez ela finalmente voltasse para mim.

Por um breve momento, o que eu irei fazer ali passou pela minha mente, cada possibilidade mais escura que a anterior. Eu irei usar esse momento a meu favor, tornar as coisas mais fáceis para mim. Tudo o que precisei fazer foi olhar para Sky, bêbada, rindo, sem ideia de quem estava a seu lado era o próprio diabo. Eu poderia fazer algo agora, poderia acabar com esse obstáculo.

Enquanto caminhava com Sky em meus braços, a sensação de poder me invadia. Cada passo parecia um eco da vitória iminente.

— N...n-não...— Ela murmurava algo incoerente, com os olhos marejados pelo álcool, tentando formar palavras.

Eu sorri. Tão vulnerável e frágil. Ela não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Continuei caminhando até minha BMW, estacionada em um beco lateral da festa. O silêncio ali contrastava com a música alta e as luzes vibrantes que ficavam para trás. Quando finalmente cheguei ao carro, Sky desmaiou por completo em meus braços, totalmente entregue. Abri o porta-malas com uma leve risada, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias. Com um movimento preciso, a coloquei dentro, quase como se estivesse lidando com uma peça de xadrez que havia sido capturada. Ela estava fora do jogo por enquanto. Olhei para o corpo inerte dela, e uma onda de satisfação me preencheu. Foi fácil demais, pensei, enquanto fechei o porta-malas com um estalo que ecoou pelo beco silencioso. Meus olhos brilharam com a antecipação do que estava por vir. A primeira peça estava fora de cena. Agora, Renata ficaria ainda mais vulnerável. Um sorriso frio surgiu em meus lábios enquanto dava a volta e entrava no carro, pronto para dar início ao próximo movimento do meu jogo.

Vingança, afinal, era um prato que eu sabia muito bem como servir.

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