Capítulo XXVIII - Numa felicidade tranquila e apaixonada

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Apesar da simplicidade, Elise precisava admitir que a escola se esforçava para fazer uma festa de formatura decente para os alunos. Ainda que parecesse uma grande missa ou culto por conta da falta de senso de moda das pessoas, haviam decorado todo o prédio com flores e outros enfeites para dar à escola um ar de formalidade. Assim como a festa da semana passada, essa aconteceria no pátio e tinha muito mais cadeiras e muito menos espaço para dançar.

Como esperado, não havia uma única pessoa que não olhasse para Elise quando ela passava, afinal estava muito mais do que deslumbrante no vestido incrível feito por Renée. A situação de Edith e Rafa não era diferente, os três amigos sem dúvidas foram uma atração e tanto, todos olhavam, apontavam, comentavam, se perguntando onde tinham arrumado aquelas roupas tão maneiras. Embora os mais velhos cochichassem em tom de reprovação, acusando-os de querer roubar a cena, a maioria dos colegas de turma estava encantada e vez por outra alguém ia até eles, querendo saber onde compraram as roupas.

Orgulhosos, os três amigos falavam sobre Renée e o Altdoll e era maravilhoso para eles notarem o quanto a visão das pessoas havia mudado depois da chegada da Paraíso. Se mais cedo tinham alguma dúvida sobre gerenciar a boate, depois disso não restava nada além da certeza de que ela precisava continuar funcionando a qualquer custo. A Paraíso era um importante agente na mudança social que lentamente operava na cidade, contribuindo para a criação de uma população mais liberal e tolerante com o diferente, ela não podia fechar.

Então, passado o momento de espera inicial, as formalidades da cerimônia começaram. Cada concluinte foi chamado pelo seu nome e sentou-se numa cadeira no local reservado apenas para os formandos e assim foi seguindo essa chatice. Muito mais demorado do que deveria ser, Elise perdeu as contas de quantas vezes bocejou.

De vez em quando suspirava, lembrando do toque gelado de Lud, da voz cínica, do olhar ferino. Do cheiro de noite e liberdade que só ele tinha. Preferia mil vezes estar indo para alguma construção abandonada com ele do que estar sentada olhando para cima nessa cerimônia chata. Pelo menos Edith havia ficado sentada do seu lado e podiam conversar baixinho, já o coitado do Rafa não tinha tido a mesma sorte.

E nesse ritmo a noite foi passando, recebeu os parabéns dos seus pais e seu irmão quando pôde voltar para perto deles, comemorou com os amigos, tiraram muitas fotos e foram todos jantar numa pizzaria no centro da cidade, mas, ao fim, Elise estava sozinha em sua cama, mirando o quarto escuro e silencioso.

Jurou que ninguém nunca mais a veria naquele estado miserável, não que nunca mais ficaria nele. Estava tudo bem, enquanto pudesse esconder seu sofrimento, tudo ficaria bem. Só precisava ser forte na frente dos outros. Quando estava sozinha, apenas ela, o silêncio e o escuro, não havia necessidade disso. Podia chorar e chorar e chorar, encolher-se em si mesma e abraçar a própria dor enquanto relembrava os doces e tenros momentos que viveu ao lado do seu vampiro.

Quando a manhã chegou e Elise saiu do quarto, nenhuma única alma viva poderia dizer que havia passado a noite chorando em sofrimento eterno. Preparou uma mochila com lanches nada saudáveis como de costume, muito biscoito recheado e salgadinho, tomou café da manhã e esperou Rafa chegar com Edith para irem juntos à Paraíso.

Sentiu um frio na barriga ao encontrar os amigos naquela manhã, mas era um frio na barriga bom. Estavam todos muito animados e nervosos também, sem saber ao certo como fariam a Paraíso funcionar. Elise engoliu em seco quando o prédio escuro começou a aparecer na paisagem verdejante, precisava ser forte, precisava engolir a ansiedade e a sofreguidão, precisava... ser como ele, sua fada do mau agouro.

Respirando fundo, apanhou as chaves da Paraíso no bolso, o frio do metal em contato com seus dedos ajudou-a a manter a concentração e não pensar em coisas desnecessárias.

Para toda a eternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora