Capítulo VI - Um desejo selvagem

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Naquela noite, Elise não conseguiu perceber se dormiu rápido ou não. Quando se deu conta, já era outro dia e o sol se esgueirava pelas frestas da cortina blackout.

Surpreendentemente, não demorou a levantar, se sentia feliz e cheia de energia, então botou o Nothing personal, um dos seus álbuns preferidos, para tocar e foi tomar um banho ligeiro. Se arrumou enquanto cantava e dançava, ignorando as batidas na porta do quarto. Não queria que ninguém a incomodasse agora, estava flutuando num sentimento quentinho e gostoso.

Não conseguia parar de pensar na noite de ontem, no vento uivante, no toque gelado de Lud. Sempre que lembrava de como ele a puxou para si, um arrepio cruzava o corpo de Elise e ela se pegava suspirando. Ainda não acreditava que realmente havia beijado um vampiro. Tipo, quais as chances?

Gargalhou, girando com os braços abertos no meio do quarto, e caiu na cama, tonta.

Apanhou o celular entre os lençóis e digitou muito rápido uma mensagem de texto para Edith e Rafa.

[ adivinhem com quem eu saí ontem >_< ]

Assim que largou o aparelho, ele começou a tocar.

Precisamos nos ver agora! — disse uma Edith animada e desesperada. — Vou ligar pro Rafa, nos vemos no cemitério às três.

Ela nem deu tempo de Elise responder, apenas desligou, mas Elise não se ofendeu com isso, já era acostumada com o jeito da amiga.

Então levantou e foi até o espelho para conferir sua aparência, deslumbrante como sempre. Pegou uma bolsinha no formato de caixão, colocou algumas coisas e desceu as escadas correndo. No andar de baixo, preparou uns sanduíches e pegou uns biscoitos recheados, colocou tudo na bolsa e saiu de casa como um furacão antes mesmo que alguém pudesse perguntar o que estava fazendo.

Foi andando na maior pressa que conseguiu sem correr e foi a primeira a chegar, posicionou a toalha sob a copa de uma grande árvore para fugir do sol da tarde. Não muito tempo depois Edith e Rafa apareceram, acenando de maneira animada.

Montaram um piquenique com os sanduíches e os biscoitos que Elise levou mais salgadinhos e energéticos que os outros dois trouxeram. Não tinham hábitos alimentares muito saudáveis, sabiam disso, mas quem ligava?

Não acreditavam que iam viver muito de qualquer forma, nem estavam tentando. Se fosse para morrer, que morressem jovens para que permanecessem eternamente bonitos e cheios de vida na memória das outras pessoas.

Entre lanchinhos nada saudáveis, risadas e exclamações, Elise contou aos dois amigos sobre a noite incrível que teve, omitindo a parte de que havia saído com um vampiro, é claro.

Havia prometido a Lud que não contaria para ninguém, cumpriria sua palavra. Mas fora isso falou sobre todo o resto, sobre o vento furioso e a noite cintilante, sobre a igreja e o vitral colorido... E quase engasgou quando falou que ele a beijou.

Nunca antes tinha visto os amigos fazerem tanta algazarra, sabia que eram três encalhados, mas não pensava que a situação estava tão feia a ponto dos amigos fazerem praticamente uma festa por causa de um beijo. Um. Único. Beijo.

Elise sentiu um frio na barriga ao relembrar a cena pela milésima vez e revirou os olhos, irritada. Por que tudo sobre aquele cara tinha que ser tão bom?

Edith suspirou, atraindo a atenção de Elise.

Os olhos azuis da amiga cintilavam de admiração e felicidade, fazendo o coração da ruiva derreter, era muito grata por ter dois amigos que a apoiavam de forma incondicional assim como ela também os apoiava. Mesmo que fossem desajustados e diferentes das outras pessoas, mesmo que fossem um zero à esquerda, pelo menos eram zeros à esquerda juntos.

Para toda a eternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora