Para toda a eternidade

Capítulo XXXII - Quando estavam juntos

Janeiro.

Nada de memorável aconteceu nesse mês além de uma grandessíssima decepção. Nenhum dos três amigos conseguiu passar para a faculdade na capital. Apesar do sentimento de tristeza geral que se instalou entre eles, tinham a Paraíso agora. Não precisavam se preocupar. As luzes brilhantes, a música alta e as bebidas coloridas iriam curar todas as dores conforme o passar do tempo. Depois dessa, Rafa até começou a fazer performances de pole dance com maior frequência, sem se importar com o que a mãe iria pensar.

Fevereiro.

Pela primeira vez desde que podiam se lembrar, não eram obrigados a voltar à escola em fevereiro. E agora que já estavam acostumados com a dinâmica da Paraíso, conseguiam energia para fazer outras coisas, como por exemplo voltar a visitar lugares esquisitos para fazer piqueniques e jogar RPG à luz de velas enquanto ouviam música bacana, sempre tirando fotos para as postagens no blog. Foi um mês alegre e divertido, mesmo com o calor. Porém, de vez em quando era possível ver uma emo ruiva suspirando aqui e acolá, o olhar tristonho perdido no horizonte.

Março.

No terceiro mês, choveu um pouco para aliviar o calor infernal. Das janelonas da Paraíso, Elise via as gotas se espatifando contra o vidro enquanto ouvia Time of dying. O tempo passava devagar, dolorido. Esperava que a qualquer momento ele voltaria e então sua solidão se transformaria em solitude, porém isso nunca acontecia. Era cansativo. Principalmente porque, em alguns momentos, era quase como se ele ou qualquer um dos outros vampiros da Paraíso jamais tivesse existido.

As pessoas da cidade não falavam mais deles, afinal haviam sumido do mapa e parado de causar problemas, agora essa função voltara a ser exclusiva de Elise e seus dois amigos, assim todas as reclamações eram direcionadas a eles.

Tinha até gente suspeitando que eles três haviam arquitetado um plano para dar cabo dos antigos funcionários e oferecer as almas deles ao diabo para assumir a boate. Seria até engraçado se Elise não soubesse o verdadeiro motivo pelo qual os vampiros haviam partido.

E, todos os dias, a garota acessava o Altdoll em busca de notícias. Nunca descobria nada, mas pelo menos o Insider freaks estava ganhando uma visibilidade bacana. Ah, também teve o carnaval. As festas na Paraíso foram verdadeiramente insanas.

Abril.

Foi um mês turbulento. Pela primeira vez depois de um tempão havia uma postagem nova no Altdoll e, sem saber se ria ou se chorava, Elise fez os dois ao mesmo tempo. Não dizia nada sobre os vampiros, mas ainda assim era muito, muito bom saber que Renée estava viva e falando de moda na internet, do jeitinho que devia ser. Rafa e Edith também ficaram eufóricos em saber disso, embora o rapaz de cabelos azuis tenha suspirado, provavelmente pensando em Lino, e sempre Elise tinha que se obrigar a não chorar na frente dos amigos.

Sentia muita, muita falta dele. E sempre que se pegava sozinha na Paraíso, ela deixava as emoções fluírem, o que geralmente acabava num surto com ela jogada no chão, embora de vez em quando acabasse numa explosão de felicidade ou tesão. Se fosse só isso, ela nem reclamava, já era acostumada com o seu descontrole emocional e dependência pelo vampiro, porém de repente Rafa se viu preso numa teia de problemas.

Primeiro a mãe dele descobriu sobre o pole dance na Paraíso e isso por si só já foi ruim até demais. Ela não se importava que Rafa tivesse um estilo alternativo porque, afinal, pensava que rock, roupa preta e essas coisas eram "coisa de homem", logo não tinha problema o filho gostar disso.

Porém conforme a ficha caía, ela percebia que o seu filho não terminaria casando com uma das amiguinhas exóticas e então começaram as brigas em casa. Mas o pior foi quando ela soube de Lino. Fez um inferno por conta disso e Rafa não foi capaz de negar, admitiu tudo, pegou suas coisas e saiu de casa, farto da perturbação e do preconceito.