Capítulo 22

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Na manhã que se seguiu ao grande Festival da Lua, o palácio parecia mais calmo do que o habitual, mas os ecos das celebrações ainda pairavam no ar. O céu estava claro, e os primeiros raios de sol penetravam pelas janelas, iluminando os corredores longos e silenciosos. Na ampla sala de jantar, Jungkook estava sentado junto de seu pai, o rei, e seu irmão mais novo, Joon-woo. A refeição era servida com a formalidade de sempre, mas algo estava diferente. Jungkook se sentia distante, alheio à conversa e à movimentação ao seu redor.

Sua mente estava em outro lugar. Na noite anterior, durante o festival, ele experimentara uma sensação inédita e avassaladora, uma mistura de emoções que não conseguia nomear completamente. Seus pensamentos estavam fixos em Jimin, o jovem plebeu de olhos azuis que o havia cativado desde o primeiro encontro na aldeia. A dança com ele foi intensa, e, embora simples aos olhos dos outros, para Jungkook foi o momento em que ele sentiu seu coração acelerar de uma maneira que nunca havia experimentado antes.

Ele mal conseguia prestar atenção nas palavras que seu pai, o rei, proferia. Algo sobre os deveres do reino, sobre o comércio que eles precisavam reforçar com as aldeias vizinhas. Jungkook assentia, mas sua mente vagava. Ele se lembrava claramente da suavidade do toque de Jimin, do jeito como seus olhos azuis brilhavam à luz das tochas do festival. Cada detalhe daquela noite estava gravado em sua memória com precisão quase dolorosa.

Sentado ao lado dele, Joon-woo parecia perceber a distração do irmão mais velho. Ele franziu o cenho e tentou puxá-lo para a realidade.

— Hyung, — disse Joon-woo em tom casual — estava pensando que poderíamos visitar a aldeia novamente hoje. Ver como os plebeus estão e talvez ouvir mais sobre as suas necessidades. O que acha?

A proposta era uma boa distração, mas Jungkook sabia que suas motivações para querer voltar à aldeia iam além de suas responsabilidades como príncipe. O coração dele pulou ao pensar na possibilidade de ver Jimin novamente, mas ele tentou esconder o entusiasmo, mantendo um semblante sério e formal.

— Sim, acho que seria uma boa ideia. — Ele respondeu calmamente, mas Joon-woo notou um brilho nos olhos de Jungkook que não estava lá antes.

Enquanto eles terminavam a refeição, o rei os observava em silêncio. Embora não fosse alguém que demonstrasse afeto facilmente, ele conhecia seus filhos bem o suficiente para perceber quando algo estava mudando. Ele notara a distração de Jungkook e não conseguia evitar se perguntar o que o estava perturbando. Entretanto, em vez de perguntar diretamente, o rei decidiu observar por enquanto, mantendo seus pensamentos para si.

Horas depois, quando os dois príncipes se prepararam para visitar a aldeia, o coração de Jungkook batia com uma mistura de expectativa e apreensão. Ele tentou convencer a si mesmo de que sua visita era puramente para cumprir seu dever, mas sabia que, no fundo, estava ansioso para ver Jimin novamente. Ele se perguntava se o jovem plebeu pensava nele da mesma forma, se a dança havia sido tão significativa para Jimin quanto fora para ele.

Na aldeia, enquanto o dia corria normalmente, Jimin também estava perdido em pensamentos. Depois do festival, ele mal conseguira dormir. O toque de Jungkook, os sorrisos que compartilharam e a intensidade daquele momento na pista de dança o deixaram inquieto. Ele sabia que os sentimentos que começavam a brotar dentro dele eram perigosos. Não havia lugar para esse tipo de afeto entre um príncipe e um plebeu. O mundo em que viviam era regido por tradições rígidas, e o relacionamento entre classes tão distintas era impensável. Mas, ao mesmo tempo, Jimin não conseguia evitar se perguntar: e se?

Sua amiga, Min-seo, percebeu sua distração enquanto caminhavam pela praça da aldeia. Ela era uma garota espirituosa, sempre atenta aos detalhes, e não demorou a notar o brilho diferente nos olhos de Jimin.

— Você não consegue parar de pensar no príncipe, consegue? — Min-seo perguntou com um sorriso malicioso.

Jimin corou imediatamente, mas não tentou negar. Em vez disso, suspirou profundamente.

— Eu não sei o que pensar. Ele é o príncipe. Eu sou... ninguém. Isso não faz sentido. — Ele murmurou, seus olhos se voltando para o horizonte.

— Talvez não faça sentido, mas o que você sente é real, não é? — Min-seo respondeu com um tom mais suave. — Às vezes, o coração não se importa com o que faz sentido ou não.

Jimin ficou em silêncio, suas palavras ecoando em sua mente. Embora soubesse que a realidade do mundo era cruel, ele não conseguia evitar sentir algo por Jungkook. E mais do que isso, ele queria entender se o príncipe sentia o mesmo.

Quando Jungkook e Joon-woo chegaram à aldeia, foram recebidos como sempre, com reverência e respeito pelos plebeus. Mas os olhos de Jungkook estavam à procura de uma pessoa em particular. Ele observava atentamente cada rosto que passava, esperando avistar Jimin entre a multidão.

Após algumas voltas pela praça, ele o viu. Jimin estava perto de uma das barracas, ajudando a família com os preparativos para o dia. O coração de Jungkook deu um salto involuntário ao vê-lo. Ele se aproximou devagar, tentando manter uma postura formal, mas quando seus olhos se encontraram com os de Jimin, ele sentiu o mundo ao seu redor desacelerar.

— Jimin, — chamou Jungkook com uma voz mais baixa do que o habitual. — Eu... preciso falar com você, em particular.

Jimin hesitou por um segundo, mas concordou com um aceno silencioso. Ele o seguiu até um lugar mais afastado, onde os dois pudessem falar sem serem ouvidos. Eles caminharam até um pequeno bosque próximo, e assim que ficaram fora de vista, o silêncio entre eles tornou-se palpável.

Jungkook estava nervoso, o que era raro. Ele sempre fora seguro de si, mas naquele momento, as palavras pareciam escapar de sua boca. Finalmente, depois de um longo momento de hesitação, ele respirou fundo e falou.

— Desde o festival... não consigo parar de pensar em você. — As palavras saíram com uma sinceridade que surpreendeu até ele mesmo. Jungkook olhou diretamente para Jimin, seus olhos refletindo a seriedade de seus sentimentos. — Eu sei que é complicado, mas... eu sinto algo por você.

O coração de Jimin acelerou. Ele sentia o mesmo, mas o medo de admitir aquilo, de enfrentar a dura realidade, o impedia de responder imediatamente. O silêncio entre eles parecia durar uma eternidade.

— Eu... também sinto algo, — Jimin finalmente confessou, sua voz baixa e insegura. — Mas como isso poderia funcionar? Você é o príncipe. Eu sou apenas um plebeu. Não podemos ignorar isso.

Jungkook olhou para ele com determinação. Ele sabia que a situação era delicada, mas pela primeira vez em sua vida, estava disposto a lutar por algo que realmente importava para ele, independentemente das consequências.

— Eu não sei como ainda, mas eu quero encontrar uma maneira, — disse Jungkook, sua voz cheia de convicção. — Eu não posso simplesmente ignorar o que estou sentindo, e não quero perder a chance de descobrir o que isso significa.

Jimin sorriu timidamente, sentindo uma onda de alívio misturada com medo. As palavras de Jungkook eram corajosas, mas o que o futuro lhes reservava era incerto.

— Se você está disposto a lutar, então eu também estou, — respondeu Jimin, seu coração finalmente se aquietando.

Eles ficaram ali, por alguns minutos, compartilhando um silêncio confortável. Mas ambos sabiam que a estrada à frente seria difícil. O destino deles estava entrelaçado, mas os desafios ainda eram muitos. De qualquer forma, aquele era o primeiro passo para algo muito maior.

Azul como a cor dos seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora