Capítulo 2

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O sol havia se posto completamente quando Jeon Jungkook se afastou da janela de seu quarto. A aldeia estava agora coberta pela escuridão, mas os olhos azuis do plebeu loiro ainda brilhavam em sua mente, tão nítidos quanto o dia. Uma chama havia sido acesa em seu peito, algo que ele não conseguia apagar, por mais que tentasse. Era como se um feitiço o houvesse enfeitiçado, e não importava o quanto ele lutasse para se concentrar, sua mente sempre voltava para aquele breve momento de contato visual.

Nos dias que se seguiram, Jungkook tentou de todas as formas retornar à sua rotina. As aulas com os conselheiros, as estratégias militares, os estudos políticos, tudo parecia banal agora. Nada mais prendia sua atenção como antes. Cada vez que ele fechava os olhos, via o jovem plebeu com seus cabelos dourados e os olhos azuis como o céu em uma manhã de verão.

Ele tentava se convencer de que era apenas curiosidade, que estava apenas intrigado com alguém diferente da aristocracia fria e rígida a que ele estava acostumado. No entanto, uma voz silenciosa em seu interior lhe dizia que havia algo mais. Algo que ele não conseguia nomear, algo que crescia a cada dia.

— Príncipe Jungkook, — a voz firme de seu tutor, o velho conselheiro Lorde Hwan, o chamou de volta à realidade. — Você está prestando atenção? — o homem perguntou, franzindo o cenho. Hwan era um homem velho, mas implacável, e tinha a responsabilidade de garantir que o herdeiro estivesse preparado para sua futura posição.

Jungkook piscou, percebendo que havia perdido completamente a última lição. Eles estavam no salão de estudos, cercados por livros antigos e mapas detalhados do reino e além. Lorde Hwan o observava com uma expressão severa.

— Sim... claro, milorde, — Jungkook mentiu, mas seu tom o denunciou.

Lorde Hwan ergueu uma sobrancelha, claramente cético.

— A mente de um futuro rei não pode se dar ao luxo de vaguear. Atenção e foco são essenciais, Jeon Jungkook, — ele disse com voz firme. — Lembre-se, seu pai lhe confiará o trono em breve, e você precisa estar à altura das expectativas.

Essas palavras soaram como um peso sobre os ombros de Jungkook. O trono. O dever que ele nunca pedira, mas que não podia recusar. E, no entanto, seus pensamentos ainda estavam longe daquele salão frio e formal.

Depois de mais algumas horas de lições, finalmente, as portas do salão de estudos se abriram, e Jungkook foi dispensado. Ele saiu rapidamente, com a cabeça cheia, não de mapas ou tratados, mas sim daquela única imagem: os olhos do plebeu. Ele não conseguia mais lutar contra isso. Precisava saber quem era aquele jovem. Precisava encontrá-lo novamente.

Nos dias seguintes, Jungkook passou a fazer perguntas sutis aos servos e guardas, tentando descobrir mais sobre as famílias da aldeia. Ele sabia que, se fosse muito direto, poderia levantar suspeitas, mas ele não podia simplesmente ignorar o que sentia. Essa busca começou a consumir seus pensamentos. E, a cada pista, sua determinação crescia.

Foi no final de uma tarde chuvosa que finalmente descobriu o que procurava. Um dos criados do castelo lhe contou sobre um jovem da aldeia que se encaixava na descrição que Jungkook tanto procurava. O nome dele era Park Jimin, filho de camponeses, mas conhecido na aldeia por sua beleza e por sua habilidade em dançar durante as festas locais. Essa informação fez o coração de Jungkook bater ainda mais rápido. O nome, a origem, tudo parecia perfeito.

Com essa revelação, Jungkook decidiu que precisava vê-lo novamente. Não havia como ignorar o chamado que sentia, então, naquela mesma noite, ele vestiu roupas simples, algo que o faria passar despercebido pelos corredores do castelo, e escapou para a aldeia.

A aldeia estava pacata àquela hora. A lua estava cheia no céu, e uma leve brisa soprava, balançando as copas das árvores e trazendo o som distante do canto dos grilos. O príncipe, com uma capa que escondia seu rosto, caminhava pelas ruas de terra, os pés ligeiros e o coração acelerado. Ele sabia que não devia estar ali, mas uma força invisível o guiava, como se a própria lua estivesse conspirando para esse reencontro.

Quando chegou à praça central, viu que as luzes da maioria das casas estavam apagadas, exceto por uma pequena casa de madeira ao longe. Lá, uma luz fraca brilhava, e a silhueta de alguém dançava graciosamente ao lado da janela. Era ele. Park Jimin. Jungkook reconheceria aquela postura, aqueles movimentos elegantes, mesmo à distância. Seu coração deu um salto.

Jimin estava sozinho, movendo-se suavemente, como se estivesse em sintonia com o vento. A dança parecia um ritual sagrado, algo íntimo, que Jungkook se sentiu privilegiado por presenciar. Ele ficou parado ali, na penumbra, observando em silêncio, hipnotizado por cada movimento do plebeu. Cada passo de Jimin parecia contar uma história, uma história de liberdade, de beleza e de algo que Jungkook nunca experimentara em sua vida dentro das muralhas do castelo.

Sem perceber, Jungkook deu um passo à frente, o suficiente para fazer o som de suas botas ecoar na calçada de pedra. Jimin parou imediatamente, seus movimentos congelados no ar. Os olhos azuis brilharam na escuridão enquanto ele se virava lentamente para a origem do som.

— Quem está aí? — Jimin perguntou com a voz baixa, mas firme. Ele não parecia assustado, apenas cauteloso.

Jungkook hesitou. Seu coração batia tão alto que ele tinha certeza de que Jimin podia ouvi-lo. Ele poderia simplesmente fugir, desaparecer nas sombras, mas algo dentro dele o forçou a ficar. Sem perceber, ele se aproximou mais um pouco, até que as luzes fracas da casa caíram sobre seu rosto, revelando parcialmente sua identidade.

— Eu... me desculpe, — Jungkook começou, sua voz um pouco rouca. Ele não estava acostumado a pedir desculpas, especialmente a plebeus. Mas ali, naquele momento, ele sentiu a necessidade de ser humilde.

Jimin franziu a testa por um momento, tentando reconhecer o jovem à sua frente. Ele deu um passo à frente, seus olhos azuis estudando o rosto parcialmente escondido de Jungkook. E então, de repente, os olhos de Jimin se arregalaram ao perceber quem estava à sua frente.

— Você... — Jimin gaguejou, sua voz traindo o choque. Ele havia visto aquele rosto antes, durante a visita do rei à aldeia. Era o príncipe. O mesmo que havia parado de repente para observá-lo, aquele que o fizera sentir algo inexplicável.

O silêncio entre eles era carregado, mas Jungkook percebeu que Jimin não recuava, nem demonstrava medo, algo que ele nunca havia experimentado com alguém de sua posição. O príncipe deu um passo hesitante à frente.

— Eu sou Jungkook, — ele disse, sua voz baixa, mas firme.

Jimin deu um sorriso tímido, algo que iluminou ainda mais seus olhos.

— Eu sei quem você é.

Azul como a cor dos seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora