Felipe trabalhava há dezoito anos como bombeiro em uma base às margens da SP 43 na divisa de Pindamonhangaba e Guaratinguetá. Era o que se podia chamar de melhor trabalho do mundo. Ele saía de casa por volta das seis da manhã e chegava na base às oito, tomava um café que já tinha sido preparado por Neide, sua companheira de trabalho, sentava-se diante de sua mesa e ficava horas na frente do computador, ou lendo um livro, ou resolvendo alguma palavra cruzada, enquanto Jorge, o terceiro membro do efetivo que era composto por três pessoas ficava dando rondas por aí com a caminhonete, uma  Toyota Bandeirante 4x4. Depois Eles almoçavam e depois do almoço era a vez dele usar a caminhonete, até por volta das três da tarde. Depois das três eles tratavam de limpar a base e quando era preciso, faziam manutenção na caminhonete e mantinham o heliporto bem sinalizado. A base tinha um heliporto, porque, quando era preciso, um helicóptero era acionado e vinha da base em Guaratinguetá ou até mesmo de Pindamonhangaba.

Na maioria das vezes não havia qualquer ocorrência para atender, mas de vez em quando aparecia um servicinho, que em grande parte consistia em resgatar turistas perdidos na mata. O lugar era uma reserva ecológica, havia cachoeiras e intrincadas trilhas que atraiam aventureiros, de vez em quando as pessoas se perdiam e o helicóptero tinha que ser acionado.

De vez em quando eles também eram chamados para ajudar motoristas com problemas com o carro, mas só cobriam uma área de quase vinte quilômetros da base, o resto era de competência do governo do estado.

Era sem dúvida o melhor trabalho do mundo. Havia dias em que eles não faziam absolutamente nada. Ficavam ali jogando cartas ou disputando partidas intermináveis de bilhar na mesa que eles mesmos tinham comprado de um bar que havia falido. Tinham trazido a mesa até ali usando a Toyota, uma coisa meio clandestina, eles seriam demitidos se os superiores da cidade soubessem, mas Felipe sabia que nenhum deles se daria ao trabalho de subir lá na base simplesmente para fazer uma vistoria.

Felipe tinha 34 anos de idade e morava em Guaratinguetá com sua irmã, Larissa de 25 anos. Os dois eram órfãos. Sua mãe morrera quando Larissa nasceu, e seu pai anos mais tarde, vítima de um AVC. O pai havia lhes deixado a casa, algum dinheiro e um Ford Corcel ano 78 SS, amarelo com listras pretas e rodas de liga leve que era o verdadeiro xodó de Felipe, ele simplesmente adorava aquele carro e cuidava dele como se ele fosse uma mulher, uma das putas das zonas que ele costumava frequentar de vez em quando.

Felipe não tinha mulher. Tivera algumas namoradas quando estava no colegial, transara com algumas garotas nos bons tempos em que fumava maconha e tomava umas, mas nenhuma delas se transformara no amor de sua vida, essa ele ainda não tinha conhecido.

Às vezes a coisa fazia falta, ele sentia-se sozinho, sua irmã era uma companhia legal, mas não uma para todos os momentos da vida, uma que ele pudesse beijar e levar para a cama, dar e receber carinho.  Mas Felipe era um cara equilibrado. Aos finais de semana ele geralmente saía com os amigos e quase sempre pegava alguma mulher, o Corcel clássico fazia um certo sucesso.

Mas Felipe ainda tinha esperanças de encontrar o amor da sua vida, ele ainda sonhava, afinal, sonhar era de graça. 

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