Ela simplesmente não conseguia dormir. Os pensamentos se contorciam dentro de sua mente.

Nely sentia medo de alguma coisa. Vivia com medo desde que todo aquele pesadelo tinha acontecido há dois anos e continuava a senti-lo. O telefonema que tinha recebido naquela noite a intrigava, a deixava insegura, com uma forte e palpável sensação de que estava sendo observada. Mesmo agora, ali na escuridão do quarto, sentia-se vigiada.

Codder estava à espreita. Era uma certeza que ninguém podia tirar de sua mente, e aquela certeza a enchia de pânico.

Nely meteu a mão embaixo do travesseiro e tocou sua arma.

Ela sentou-se na cama e acendeu o abajur. Tomou a água que estava na mesa de cabeceira, e a primeira coisa que fez foi certificar-se de que não estava sonhando, de que aquele não era mais um pesadelo em que desceria até a piscina e veria o cadáver pútrido de Angélica boiando na água. Beliscou o próprio braço e sentiu dor.

Ótimo, não era um pesadelo.

Ela se levantou. Não estava usando uma camisola branca, mas um short curto amarelo e um top, o que contribuía para a prova de que ela não estava sonhando.

Nely saiu caminhando com os pés descalços.

Abriu a porta e saiu no corredor silencioso. A porta do quarto onde Nicolas dormia estava fechada. Àquela hora da madrugada, somente ela encontrava-se acordada.

Nely desceu e percorreu o vasto corredor que conduzia até a cozinha. Olhou para a vidraça onde ficava a piscina e o jardim de inverno. Não havia nada lá.

Só por via das dúvidas, ela abriu a vidraça e acendeu a luz. Nada, apenas a água parada da piscina.

Apagou a luz e seguiu pelo corredor, passando pela biblioteca.

Na cozinha, ela acendeu a luz e abriu a geladeira, intentando tomar um pouco de água, mas mudou de ideia e tomou um copo de Coca-Cola.

Havia uns pedaços de pizza ali, e ela comeu um. Não tinha costume de assaltar a geladeira no meio da madrugada, mas agora era uma exceção.

Nely ficou na cozinha uma meia hora, comendo, perdida em pensamentos, sem saber ao certo o que pensar sobre as coisas que haviam se abatido sobre sua vida nos últimos anos.

Depois, ela apagou a luz e saiu da cozinha.

Caminhou pelo corredor até perto da biblioteca, mas não entrou nela. Seguiu mais à frente e entrou no escritório, onde passava a maior parte do dia trabalhando.

Acendeu a luz e sentou-se.

Nely suspirou. Ela desconfiava que o sono não viria naquela noite. Já estava acostumada a enfrentar noites de insônia.

Nely decidiu ver um filme.

Estava prestes a se levantar quando viu a correspondência sobre a mesa. Provavelmente Sandra tinha pego a correspondência e separado as dela.

Havia dois envelopes. Um deles, pardo.

Nely abriu o primeiro envelope. Era correspondência do banco. Nada de importante, mas pelo menos não era cobrança.

Ela pegou a segunda correspondência, um envelope pardo e grande. Examinou-o e franziu o cenho. Não havia qualquer endereço em parte alguma do envelope, nem mesmo de remetente.

Nely abriu o envelope. Dentro havia uma única folha dobrada. Ela puxou a folha e a desdobrou.

Seus olhos saltaram das órbitas. Seu coração disparou no peito, e o medo que ela tinha sentido ao acordar, mas que tinha diminuído, a invadiu novamente.

Em enormes garranchos, em letras garrafais, alguém escrevera a seguinte frase na folha:

Eu ainda sei onde você está.

Nely atirou o papel para longe de si e afastou-se da escrivaninha em pânico.

Abriu a cortina e olhou para fora. Só viu o jardim parcamente iluminado.

Ela saiu do escritório e deu de cara com Nicolas. Nely gritou.

— Nely! Assustei você de novo!

— Mas o que está fazendo aqui?!

— Bem... eu... eu queria tomar um copo d'água...

Nely colocou a mão na cabeça.

— Me desculpe... eu...

— Está tudo bem, Nely?

— Tudo... está tudo bem. Boa noite, Nicolas.

Nely subiu a escada, deixando Nicolas sozinho no lobby.

Eu ainda sei onde você está Onde histórias criam vida. Descubra agora